Se não pode destruir, pode criar?

Se não pode destruir, pode criar?

Vivemos em uma sociedade que possui muito pré-conceito com a própria agressividade. Se for para pensar sobre esta, que seja a do vizinho, a do colega de trabalho, mas nunca a que nasce dentro de nós. Normalmente, isso se dá porque acreditamos que agressividade seja sinônimo de violência. E se tem algo que tememos é a violência. Com isso, muitas vezes, evitamos explorar as possibilidades que nos cercam por medo de não conseguirmos reconstruir algo que de modo proposital ou não podemos destruir.

Mas sabiam que isso acontece já nas primeiras relações do bebê? Quando este mama se conecta profundamente à mãe, recebendo alimento imprescindível para sua sobrevivência e, para que isso aconteça, vez ou outra ele também morde o seio. No entanto, na maioria das vezes isso se dá por acidente e não por raiva ou inveja, que obviamente também estão na sua condição de humano. Mas o que esse exemplo me faz pensar é: será possível, então, separar completamente nossas expressões de amor das de agressividade?   

Na infância temos diversas oportunidades de aprender a conciliar essas duas manifestações básicas por meio do brincar. Quando uma família possibilita que a criança tenha liberdade de destruir e reconstruir seus brinquedos e até mesmo seus vínculos mais íntimos por meio da intimidade, pode ser bem menos atormentador quando isso volta a acontecer na vida adulta. Com a capacidade de brincar instalada, na vida adulta podemos ter mais facilidade de desenvolver senso de humor e capacidade de sonhar, características essas importantíssimas para lidar com as frustrações da realidade. Além disso, a intuição, que todos temos, quando vista e reconhecida, pode levar à criação espontânea e verdadeira.

No entanto, esse processo pode também assustar, pois muitas vezes o que pensamos pode parecer maluquice sem sentido. Mas são dessas maluquices, dos nossos sonhos da noite e do dia, que criamos. Intuir é condição fundamental para criar. Para isso, é necessário nos considerar e confiar na nossa mente. Só assim podemos começar a agir criativa-mente.

Ilustração: Charles Bailey

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