Sobre o filme: Nise - O coração da loucura

Sobre o filme: Nise - O coração da loucura

Hoje trago para vocês a indicação de um filme que assisti há alguns meses, que achei muito interessante para pensarmos a importância da Reforma Psiquiátrica. Mas, antes de falar sobre o filme, vocês sabem o que é a Reforma Psiquiátrica?

Na segunda metade do século XX, iniciou-se uma radical crítica com a ajuda do psiquiatra italiano Franco Basaglia, ao saber, ao tipo de tratamento e às instituições psiquiátricas da época. Esse movimento teve início na Itália, mas repercutiu em todo o mundo e muito particularmente no Brasil. Assim, teve início o movimento da Luta Antimanicomial que foi marcada pela defesa dos direitos humanos e da cidadania das pessoas com transtornos mentais. Surgiu, assim, o movimento da Reforma Psiquiátrica que denunciava a realidade dos manicômios e sanatórios da época e propunha a construção de uma rede de serviços e estratégias solidárias, inclusivas e libertárias para o tratamento das pessoas com transtornos psiquiátricos.

Portanto, é neste contexto que se passa o filme 'Nise - O coração da loucura', que é um filme brasileiro longa metragem de 2016 dirigido por Roberto Berliner, o qual se baseia na história real de uma psiquiatra brasileira chamada Nise da Silveira. Nise se tornou uma das mulheres mais importantes na luta pela reforma psiquiátrica e pela modificação dos métodos punitivos utilizados pela medicina a fim de utilizar uma abordagem humanizada baseada no afeto e no uso da arte como terapia.

O filme se passa nos anos 50, época em que a psiquiatra sai da prisão e volta a fazer parte da equipe do Hospital Psiquiátrico Pedro II, conhecido como Engenho de Dentro, no subúrbio do Rio de Janeiro. Ao retornar para o hospital, Nise se depara com a utilização maciça de eletroconvulsoterapia e lobotomia pelos outros psiquiatras, ao que se revolta e não concorda em compartilhar dessas alternativas, considerando-as punitivas e não terapêuticas. Deste modo, Nise, isolada da equipe médica, assume a coordenação do Setor de Terapia Ocupacional, o qual se encontrava abandonado e em péssimas condições no hospital.

Ao se deparar com a realidade do setor, Nise fica perplexa e começa aos poucos a realizar, com a ajuda de enfermeiros e voluntários, transformações no ambiente, tanto no nível de higiene e condições mínimas de habitação quanto e, principalmente, ao perceber o potencial terapêutico que aquele espaço poderia vir a ter. Nise vai, assim, aos poucos também transformando as interações de ódio presentes no ambiente hospitalar em relações de respeito e valorização do cliente (como chamava seus pacientes) enquanto ser humano.

Em várias cenas ao longo do filme é possível perceber uma postura firme, porém afetiva de Nise com a equipe de saúde e com os voluntários, o que foi determinante para que provocasse modificações nas condutas dentro do hospital. Em relação aos clientes, a maioria com diagnóstico de esquizofrenia, Nise permitia que pudessem se expressar a seu próprio modo, com liberdade e sem tolir sua espontaneidade. No início as produções dos pacientes não possuíam forma e nem organização, porém ao longo do filme é possível observar que ao serem acolhidos e respeitados em sua singularidade, começam a fazer quadros e esculturas que manifestavam os seus conteúdos inconscientes, que serviam como forma primordial de comunicação de seu mundo interno.

Assim, pode-se observar no filme que o que inicialmente parecia um lugar sem esperança e sem possibilidade de atuação, passa a ser um local rico e com muito potencial de desenvolvimento, principalmente devido à entrega da psiquiatra aos seus clientes, de modo que não teve medo e sim acolheu, estimulou e ofereceu continência às suas angústias.

Portanto, fica aqui minha indicação de um excelente filme que foi produzido com muito cuidado, que expõe uma temática extremamente importante e que vale a pena ser assistido!

Espero que gostem!

Compartilhar: