Um olhar sobre a vida a partir da minha orquídea - PARTE 2

Um olhar sobre a vida a partir da minha orquídea - PARTE 2

Olá pessoal! Tudo bem? Vamos continuar essa história?

No post passado encerrei meu texto relacionando o processo fugaz e intenso de minha orquídea com a nossa vida, que também é efêmera e única. Lidar com este processo pode ser bastante intenso, pois ao nos depararmos com a finitude das coisas e também de nós mesmos muitas emoções ambivalentes surgem dentro da gente, não é mesmo? 

Não é fácil aceitar essa dura realidade sem se desesperar e pode ser muito difícil também conseguir encarar que, embora efêmera, ou justamente por ser efêmera, a experiência de viver é única e vale muito a pena! Normalmente negamos esses momentos de desflorescer, encerrar, finalizar, separar e perceber-se só. E não negamos à toa, negamos porque dói, dá medo, dá a sensação de que o desamparo será gigante e não existiremos mais. Mas assim como minha orquídea, há outros dias de desabrochar! Não saber quando acontecerá também é difícil, mas posso viver esperando ou continuar vivendo enquanto espero. Me aproximo então de uma frase do senso comum que é bastante verdadeira, que é poder aproveitar o caminho e não só o resultado.

Hoje quando vou regar minha orquídea fico muito feliz de vê-la, às vezes até me pego conversando com ela (alguns dirão que estou louca? Rs), pois comecei a perceber que não precisa ter flor sempre, mas precisa ter movimentação em busca dessa flor, ou em outras palavras, precisa ter movimentação em busca de vida e em relação a esta, cada dia mais, eu percebo que está presente em singelos detalhes de nosso dia a dia. Além disso, a morte também é necessária. É o contraponto, o outro lado da gangorra, é o que equilibra a nossa existência. Como seria viver se não fosse única essa experiência nossa enquanto seres humanos? Como seria se minha orquídea desse flor todos os dias ou se mantivesse viva sempre? Será que teria o mesmo valor? Será que seria tão especialmente única e instigante?

Essas reflexões me fazem lembrar da última viagem de férias que fiz e que pela primeira vez em minha vida senti vontade de praticar uma atividade radical. Eu sempre fui muito medrosa e corria de parques de diversão ou qualquer outra atividade que representasse algum risco ou perda de controle. Pois, nesta viagem eu senti vontade de saltar de paraglider em uma paisagem maravilhosa, que ao mesmo tempo que encantava também assustava por sua imensidão! "Eu, medrosa como sou, estou querendo embarcar nesta viagem? Devo estar ficando louca!" Esses foram os primeiros pensamentos que passaram em minha mente naquele momento. Aos poucos eles foram perdendo força e outros foram surgindo e se fortalecendo dentro de mim. Parecia que alguma Roberta mais corajosa estava começando a surgir e eu estava, de fato, gostando muito dessa mudança. Contudo, o medo, o desejo de ter controle sobre as coisas e principalmente a desconfiança de minha coragem me fizeram adiar o salto para o dia seguinte, pois imaginava que assim poderia pensar com mais calma para tomar uma decisão. No dia seguinte estava decidida e para a paisagem maravilhosa eu voltei, firme e certa de que iria saltar, no entanto para a minha surpresa ao chegar ao local não havia condições climáticas e térmicas para que o salto fosse realizado.

Que interessante a vida, não é mesmo? Será que a loucura era tentar algo novo ou acreditar que o dia seguinte iria existir? Ou ainda, que loucura era essa minha de ter a certeza de que no dia seguinte só precisava da minha vontade de saltar e as condições térmicas seriam idênticas às do dia anterior? Pois é, acho que situações como essas nos mostram como somos pequenos diante da imensidão da vida e como vários momentos de nossas vidas são também únicos e efêmeros como o que acontece com minha orquídea. Aquele momento de saltar com as condições térmicas adequadas e propícias já não existia mais, assim como a flor da minha orquídea não dura mais que um dia. E disso é feito a vida, de pequenos grandes momentos únicos, que logo passam e pode ser que não exista mais! O meu salto não aconteceu, mas me fez pensar sobre tantas coisas que em uma próxima oportunidade eu tentarei dar mais voz a aparente loucura de querer fazer algo novo e diferente do meu habitual do que a ideia também louca de que no dia seguinte terei a mesma oportunidade, pois de fato eu não sei se terei.

A partir disso, pego-me pensando sobre a beleza da vida ser justamente esse não saber, esse desconhecido que encaramos todos os dias. Lógico que é natural planejarmos, agendarmos, estudarmos, projetarmos sonhos e desejos pensando que um próximo dia irá existir, mas muitas vezes focamos tanto nisso que não vivemos o presente, o momento do aqui e agora que não irá mais voltar, mesmo que a gente queira muito que volte. E, assim, vou finalizando este texto chamando a atenção para a beleza das pequenas coisas de nosso dia a dia, seja o florescer da minha orquídea, seja acordar de manhã e ver o sol nascer, seja ler um livro, seja encontrar com os amigos, seja dizer para aquela pessoa especial o que você sente por ela, entre tantos outros momentos que às vezes não valorizamos. Tendemos a torcer e vibrar pelo próximo final de semana ou feriado ou férias como se lá fosse possível ser feliz e viver intensamente, mas desse momento futuro nós nada sabemos, já do presente sim! Então, fica aqui meu convite para que você possa viver intensamente o seu desabrochar de cada dia, sentindo e experimentando cada segundo do seu florescer, pois é disso que se trata a vida!

Finalizo pegando emprestado as lindas palavras de Cora Coralina que bem escreve sobre este assunto: "Não sei... se a vida é curta ou longa demais para nós, mas, sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: o colo que acolhe, o braço que envolve, a palavra que conforta, o silêncio que respeita, a alegria que contagia, a lágrima que corre, o olhar que acaricia, o desejo que sacia, o amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto ela durar."

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