
TESES PARA CAUSA DO AUTISMO
Até os anos 70, acreditava-se que as causas do autismo eram psicológicas. Era a tese da mãe-geladeira. Dizia-se que a falta de afeto na primeira infância estaria ligada ao surgimento do distúrbio. "Com o desenvolvimento dos equipamentos de neuroimagem, como a tomografia computadorizada, no fim dos anos 70, provou-se que o autismo e outras síndromes tinham uma alteração cerebral", diz o neurocirurgião Edson Amâncio, do hospital Albert Einstein, em São Paulo, autor do livro O Homem Que Fazia Chover e outras Histórias Inventadas pela Mente.
Kim Peek, o americano que inspirou Rain Man, não tem o corpo caloso do cérebro (a estrutura que liga os dois hemisférios). Muitas crianças autistas têm o cérebro maior que o de outras crianças de sua idade. Depois, ele volta ao normal. "Entre os 2 e os 4 anos, há uma morte programada de milhões de neurônios", diz o Dr. Salomão Schwartzman. "Entre 30% e 40% das células sem uma função clara devem ser exterminadas. É nessa idade que costuma acontecer a regressão. Ao que parece, a poda é defeituosa nos autistas."
Alguns pesquisadores alegam que o autismo seria provocado por uma espécie de inflamação cerebral. Essa inflamação teria diversas causas: encefalite, otite ou medicamentos. Há um movimento que vincula o autismo à aplicação de vacinas. O médico Andrew Wakefield, um inglês radicado no Canadá. Em 1998, publicou um estudo que ligava o autismo à vacina tríplice viral (caxumba, rubéola e sarampo) e outras. Em 2004, a convite do Instituto de Medicina dos Estados, um painel de 13 especialistas examinou as 21 pesquisas relacionadas à questão que existiam até aquela data. Identificaram que não havia relação entre as vacinas e o distúrbio.
O professor de Neurologia e Patologia Carlos Pardo, da Universidade Johns Hopkins, sugere que a síndrome pode ter um fundo auto-imune. Nessa pesquisa, as imagens demonstraram que a massa branca do cérebro de boa parte dos autistas está aumentada. A massa branca é formada, entre outras coisas, pelos axônios e dendritos, os prolongamentos encarregados de fazer a comunicação entre um neurônio e o seguinte. "É possível que haja uma relação entre isso e a forma de pensar dos autistas", diz Pardo. "Que os caminhos de comunicação entre os neurônios sejam alterados."
Outra causa cogitada para o autismo é uma disfunção hormonal durante a gravidez. O feto teria sido superexposto à testosterona, o hormônio masculino. A mente autista seria, então, uma espécie de mente hipermasculina, daí seu distanciamento das relações humanas e afetivas e sua identificação com processos lógicos, matemáticos, mecânicos. O fato de haver quatro meninos para cada menina autista dá força à hipótese.
Além de otite, é muito comum crianças com autismo terem problemas gastrintestinais, principalmente refluxo. Há pesquisadores que defendem também uma possível ligação entre autismo e dieta. Essa tese angariou vários seguidores. O neurologista Carlos Gadia diz que nos EUA muitas mães seguem a dieta sem glúten para seus filhos. Mas são tratamentos sem comprovação científica.
A tese mais aceita hoje atribui ao autismo uma origem genética. Uma das hipóteses mais cogitadas é a alteração nos genes responsáveis pela produção de serotonina. Muitos autistas apresentam níveis altos de serotonina. "O mais provável é que não seja a alteração de um gene apenas, mas de vários", diz o Dr. Carlos Gadia. "Um conjunto de características determinadas geneticamente que resultaria numa personalidade diferente."
É fácil observar que o autismo é um traço de família. Entre os autistas, 7% têm irmãos autistas. Uma porcentagem parecida tem parentes que se encaixam no espectro. Segundo Vadasz, do Hospital das Clínicas, é comum perceber traços de autismo nos pais que levam as crianças para ser examinadas.