A BNCC além da questão político - partidária

A BNCC além da questão político - partidária

Passada as eleições voltemos ao nosso dia a dia.

Um dos temas que deverá ocupar o foco das discussões do novo governo é a abordagem dos temas relativos á educação brasileira, e consequentemente essa discussão passará pela, já aprovada, BNCC.

Segundo o Mec “A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE)”.

Desde 2013, e depois de inúmeras de reuniões com centenas de especialistas, enfim parecia que no início de 2018 teríamos a implantação da BNCC. Mas após o resultado das eleições aparentemente o documento será rediscutido, alguns pontos devem ser revistos, como por exemplo, a abordagem sobre a questão de gênero, o ensino religioso e a inserção cultural das minorias.

Concordo que existem “pontos cegos” na BNCC, por exemplo, quem serão os responsáveis pelo ensino religioso? Como ajudar as escolas mais carentes a adotarem as novas normas? Como se dará a capacitação dos professores para a abordagem da nova lei?

Mas creio que o mais importante ficou fora das discussões, principalmente em relação ao Ensino Médio, que é a questão do significado do currículo escolar para os jovens estudantes.

Muito, para não dizer a maior parte, do currículo escolar não faz o menor sentido para os alunos. Por exemplo, decorar a ordem em relação à distância do Sol e os nomes planetas que compõe o Sistema Solar, a sequência correta dos presidentes do Brasil, todos os elementos da tabela periódica, todas as fórmulas da matemática e da física. Não faz mais sentido manter um currículo escolar conteudista e meramente decorativo, uma vez que já existem sites, smartphones,

tablets, aplicativos, que podem ser consultados a qualquer momento e que já trazem todos estes conteúdos. E para quem diz “assim não vale”, não se esqueça que disseram a mesma coisa quando a calculadora foi inventada e temos certeza de que ninguém hoje em dia teria coragem de negar a importância deste aparelho para nossas vidas.

Não é mais possível pensar em um aluno que passou mais de 15 anos sendo educado e não consiga aplicar o que aprendeu em sua vida prática. Como é possível aceitar o fato de que todos, em algum momento da vida escolar, aprendem a calcular a área de praticamente todas as figuras geométricas e quando nos vemos diante da necessidade de trocar o piso de nossa casa temos que chamar alguém, normalmente um pedreiro, para que o mesmo possa calcular quantos metros de piso precisaremos comprar? A educação para o século XXI deve ser permeada de significado e utilidade prática.

Um dos grandes objetivos para uma educação de qualidade é criar e/ ou potencializar nos educandos as competências que permitam a eles resolver com sucesso os desafios da vida contemporânea.

As competências para o século XXI incluem a colaboração, a democracia, a liberdade e a honestidade. Sendo assim, a construção de novos currículos deve ser uma ação comunitária que envolva toda a comunidade escolar, gestores, professores, pais e alunos, uma vez que este currículo deve fazer sentido a todas as pessoas, uma vez que não faz mais sentido a hierarquia baseada no saber erudito descontextualizado.

Também vale ressaltar os conteúdos deste currículo. Em um país continental como o Brasil, devemos ter um currículo de base nacional, mas também devemos abrir espaço para os regionalismos, para as particularidades de cada região, pois um tipo de conhecimento pode fazer mais sentido que outro dependendo da realidade em que está inserido. Por exemplo, um aluno que vive próximo a um rio deve ter um currículo que atente para esta particularidade e que lhe dê conhecimento sobre isso, como saber como preservar o rio, a fauna e a flora da região; faz mais sentido do que saber sobre as características do deserto do Saara.

É necessário localizar o aluno no mundo em que ele vive. Se um professor de Ensino Médio colocar a imagem do globo terrestre, ou abrir um mapa-múndi, e pedir para um aluno localizar o rio Nilo a maioria faria isso sem grandes problemas, pois todos estudaram sobre o Egito Antigo e a importância deste rio para a vida na região. Porém, se o professor pedir para os alunos dizerem o nome dos rios que cortam a cidade onde eles moram, poucos conseguiriam responder. Sendo assim, o universo destes alunos deve ser contemplado pelo currículo escolar.

Portanto, a questão do currículo escolar, suas implicações e consequências, são muito maiores do que questões político - partidárias, o foco da questão deveria estar no processo de ensino – aprendizagem, deveria estar no que e como nossos alunos deveriam aprender, no bem estar e no futuro de nossos jovens.

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