A cultura do estupro

A cultura do estupro

Caros leitores, diante dos últimos acontecimentos fica difícil fugir deste tema, que há muito não é tratado com a devida importância. Estou falando de um ato vil, criminalmente chamado de estupro.

Segundo definição o estupro é a prática não consensual do sexo, imposto por meio de violência ou grave ameaça de qualquer natureza por ambos os sexos. Ele consiste em qualquer forma de prática sexual sem consentimento de uma das partes, envolvendo ou não penetração. Ainda que o estupro, na teoria, vitime ambos os sexos, as mulheres são as vítimas historicamente mais atingidas. 

Se buscarmos as raízes históricas do estupro retornaremos a era pré-histórica, este ato é retratado nos escritos mais antigos produzidos pela humanidade, este é um mal que persegue a própria humanidade.

Mulheres eram, e ainda são, estupradas em meio a guerras, invasões e migrações forçadas, são estupradas por seus maridos, chefes, amigos, “ficantes”, e muitas vezes são tratadas como co-autoras, como cúmplices. Será que sua roupa curta não deu a entender que você queria sexo? Será que você disse não querendo dizer sim? Senhores não é não e ponto. O machismo, e todas as suas mazelas, já está fora de moda há muito tempo, mas ainda tem seres humanos, se assim os podemos chamar, que insistem em manter viva esta mancha histórico-social.

Socialmente o estupro está associado ao poder, forçar uma mulher a fazer sexo leva o homem, ou o pior um grupo de homens, a sensação de poder, de mando. Na época em que vigorou a escravidão, no Brasil e em outras partes do mundo, o estupro era tido como uma prática normal, se o dono da escrava queria sexo ela tinha que ceder. Ainda vigora como prática tolerável o estupro nas celas das penitenciárias, o preso que sofre esta violência subliminarmente é informado de quem manda ali.

O caso da jovem vítima de estupro coletivo no Rio Janeiro (21 de maio) está sendo considerado o mais grave caso deste tipo de crime já registrado na história brasileira. Vale ressaltar o termo “já registrado” uma vez que muitas vítimas não registram o caso, por medo, vergonha ou outros motivos. Segundo pesquisa recente realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) uma mulher é violentada a cada 11 minutos no Brasil.

Não sei vocês, mas a mim este número é chocante, alarmante, brutal, chegou o tempo de darmos um basta nisto, chega de “piadinhas” machistas, é impressionante como ainda tem pessoas que se acham engraçadas contado o que acreditam ser uma simples chacota.

É obvio que tentarão desmoralizar a vítima, encontrarão “indícios” de que ela gostava de pornografia, que fazia sexo com não sei quantos homens, que tudo isso seja verdade, mas não exime o fato de ter sido estuprada, se uma prostituta não quiser fazer sexo com seu cliente será estupro, e também não muda as estatísticas e a dor das vitimas.

Que usemos este triste e doloroso acontecimento para refletirmos sobre o modelo de sociedade ainda queremos manter e/ou transformar.

Fica aqui registrada minha indignação, acreditando ser a mesma de bilhões de pessoas espalhadas pelo mundo inteiro.

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