Eu chorei mais uma vez, mas queria que fosse a última.

Eu chorei mais uma vez, mas queria que fosse a última.

Caros amigos leitores.

Farei uma confissão difícil para um homem latino-americano.

Eu sempre tive extrema dificuldade de “segurar” minhas emoções, quando estou triste ou alegre todos conseguem perceber facilmente, quem me conhece sabe bem disso. Chorar então, é comigo mesmo, no primeiro festival de balé da minha filha, hoje com sete anos, chorei tanto que fiquei com dor de cabeça, tive que tomar um remédio para melhorar, até hoje quando vejo as fotos da minha mulher grávida tenho dificuldade de controlar as lágrimas, que insistem em derramar, vez ou outra meus alunos conseguem me emocionar, bestamente há nos parei de me despedir deles na última aula do ano para não “dar vexame”, que patético eu sou, para que serve ter emoções e depois reprimi-las?

Semana passada chore, novamente, chorei pra valer, mas desta vez não foi só por mim, foi por uma criança, uma criança que representa milhares de outras, entregues às garras da ignorância, da intolerância e da violência.

Chorei por Omran Daqneesh, de 5 anos, e seu olhar vazio, sua expressão de medo e de total perplexidade diante de um algo que não sabia explicar.

Omran, de shorts, sujo de sangue e completamente coberto de poeira, aguardava atendimento no momento em que foi fotografado, representa a face mais cruel da humanidade.

Este bravo menino, que nem ao menos chorou como eu chorei ao vê-lo, me fez questionar o meu trabalho, a minha vida docente. O que estou ensinado aos meus alunos?

Será que realmente devo gastar todo o tempo da minha aula a ensinar datas, nomes e conceitos, muitas vezes vazios? Será que ao invés disso não deveria ensiná-los o valor da vida humana? O respeito a todas as pessoas?

Confesso que não me lembro da matriz curricular de nenhum exame ou prova constar este conteúdo.

Termino esta matéria, novamente com lágrimas nos olhos, parafraseando Edgar Morin, que em seu livro “Os sete saberes necessários à educação do futuro”, escreveu: “Civilizar e solidarizar a Terra, transformar a espécie humana em verdadeira humanidade torna-se o objeto fundamental e global de toda educação que aspira não apenas ao progresso, mas à sobrevida da humanidade. A consciência de nossa humanidade nesta era planetária deveria conduzir-nos à solidariedade e à comiseração recíproca, de indivíduo para indivíduo, de todos para todos. A educação do futuro deverá ensinar a ética da compreensão planetária”.

  

Omran, de shorts, sujo de sangue e completamente coberto de poeira, aguardava atendimento no momento em que foi fotografado.

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