Infeliz a nação que precisa de heróis

Infeliz a nação que precisa de heróis

Olá caros amigos.

Inicio minha matéria parafraseando o dramaturgo e contista alemão Bertolt Brecht que escreveu:“Infeliz a nação que precisa de heróis.”.

Se você buscar a definição de herói encontrará vários significados, os mais apropriados para minha reflexão são: indivíduo que se destaca por um ato de extraordinária coragem, valentia, força de carácter, ou outra qualidade considerada notável e/ou mortal divinizado após sua morte.

Feita a definição continuemos. No ano de 1942, por determinação do Estado Novo de Getúlio Vargas, foi criado o feriado nacional em homenagem ao herói da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier, ou simplesmente Tiradentes.

Tiradentes foi executado, a mando da rainha de Portugal, dona Maria I, em 21 de abril de 1792. Permitam nãome alongar neste assunto, uma vez que todas as circunstâncias que o levaram a morte são de amplo conhecimento de todos, não tem um único brasileiro que não teve pelo menos uma aula, sobre a Inconfidência Mineira.

Não busco nestas linhas recontar esta história, busco refletir como Tiradentes, tantos anos depois de sua morte, tornou-se herói nacional.

Na época de sua morte Tiradentes, e seus descendentes até a segunda geração, foram considerados infames para a coroa portuguesa, sua imagem foi associada à marginalidade e a rebeldia. Mas no ano de 1889 foi proclamada a República, e os artífices deste movimento – Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Benjamin Constant, Rui Barbosa, Campos Sales, Prudente de Moraes, entre outros – queriam romper definitivamente com os laços que ainda uniam o Brasil a Portugal.

Foi somente após a proclamação da República que a bandeira foi mudada, a Constituição foi alterado, o nome do país foi modificado, mas ainda faltava mais uma coisa, o novo herói nacional. Até aquele momento a pessoa mais ilustre da história brasileira tinha sido D. Pedro I, mas o articulador de nossa independência não atendia as novas expectativas.

D. Pedro I era português, monarquista, escravista e representava um passado a ser definitivamente rompido, foi então neste momento que surgiu a figura de tal alferes (atualmente patente equivalente a de segundo-tenente), republicano, de origem humilde, traído e executado por defender a ideia de um país livre de Portugal. Era o homem perfeito!

O primeiro presidente do Brasil era militar, o movimento era republicano, assim como era Tiradentes, e nada melhor para o povo do que um herói de origem popular, mas faltava um detalhe. Os poucos relatos sobre Tiradentes diziam que ele era mulato, fato nunca comprovado, e mais nada, se tínhamos poucas informações melhor ainda, pois assim tínhamos total licença poética para recriar sua imagem.

Assim sendo em 1893 o governo republicano contratou o pintor Pedro Américo para retratar Tiradentes, e no quadro o inconfidente foi, intencionalmente, transfigurado em Jesus Cristo, em um país cristão e carente de figuras notórias o salto para o heroísmo foi rápido e fácil.

Tiradentesdeve ser estudado, e até mesmo ovacionado por sua história de luta por um ideal, mas o crítico e o adjetivo herói. Concordo com Bertolt Brecht um povo não deveria ter heróis, por o herói trás em si a ideia do impossível e do impossível o conformismo. Um povo deveria lutar por seus ideais, sozinho, independente de heróis, um povo deveria se sentir dono de sua história, de seu destino, de seus erros e acertos e não esperar por uma força divina que o salvasse.

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