Morte aos hereges

Morte aos hereges

Olá meu amigos.

Estou assistindo com certa apreensão o renascimento da censura no Brasil. No dia 15 de setembro (um dia antes desta coluna) o juiz Luiz Antonio de Campos Júnior, cancelou a apresentação do espetáculo O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu.

No monologo, encenado pela atriz trans Renata Carvalho, Jesus Cristo é apresentado como um travesti. Segundo os produtores do espetáculo a ideia é gerar reflexões em torno de questões de gênero.

Sem dúvidas é um tema muito polêmico, respeito quem não concorda com a temática, com quem se sinta incomodado, com quem não queira que seus filhos vejam, quem por motivos ideológicos e religiosos não queira ver nem de graça. Mas censurar? E ainda pior, alegando motivos morais e religiosos?

O cancelamento do espetáculo foi pedido por congregações religiosas, políticos e pelo TFP (Tradição, Família e Propriedade), sim a TFP ainda existe.

O pedido de cancelamento partiu de uma advogada de Jundiaí, que entrou na Justiça com o argumento de que a peça constitui um “crime contra o sentimento religioso (...) a peça é atentatória à dignidade [e] à fé cristã”. No despacho o magistrado escreve que a peça é “atentatória à dignidade da fé cristã, na qual JESUS CRISTO não é uma imagem e muito menos um objetivo de adoração apenas, mas sim O FILHO DE DEUS” (os grifos são do juiz).

Acredito que em uma republica democrática, as pessoas devem ter o direito de ver o que bem quiserem, se um espetáculo não faz apologia a atos criminosos, não entendendo a censura, se a temática me é estranha simplesmente não a vejo, até onde sei opção sexual ainda não é crime no Brasil.

Para quem ainda não sabe o Brasil é um Estado laico desde 07 de janeiro de 1890, quando Ruy Barbosa criou o Decreto nº 119-A. Juro a todos vocês que fiz uma grande pesquisa e não encontrei fonte nenhuma indicando a quem pertence à imagem e a história de vida de Jesus Cristo, digo isto porque ultimamente tenho visto crescer assustadoramente o número de pessoas que se julgam donas do “Senhor”.

Explorar a ignorância alheia e ganhar dinheiro com a imagem de Cristo é privilégio para poucos, e esses poucos começam a julgar o que todos os outros podem ou não ler, ver, ouvir, usar, estudar, com que devemos nos casar, namorar, onde devemos passear, o que devemos beber, comer, fumar...

Tenho medo de um dia me deparar com uma fogueira da Inquisição queimando bruxas, hereges e sodomitas em uma praça próxima a minha casa, ou acordar e descobrir que estou morando no Paquistão. Cuidado meninas vocês podem não ter a mesma sorte da Malala Yousafzai.

 

 

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