O atraso nosso de cada dia

O atraso nosso de cada dia

Olá caros leitores.

Que estamos vivendo um período politicamente conturbado no Brasil é inegável, divisões “ideológicas” e partidárias estão levando a discussões cada vez mais acaloradas, impossibilitando a união em torno de temas importantes para o futuro do país. Mas o que mais me chama a atenção neste fenômeno, potencializado pelas mídias sociais digitais, não é a discussão em si, mas o teor das discussões.

Historicamente o Brasil tem um atraso, ou na linguagem mais moderna um delay, em relação às nações mais “avançadas”, por exemplo, o Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão negra africana, o Haiti aboliu em 1794, a república só foi proclamada na aurora do século XX em 1889, os Estados Unidos proclamaram a república 100 anos antes, no Brasil só foi dado o direito ao voto às mulheres em 1932, o Equador permitiu em 1929, ou seja, o Brasil sempre está atrás de seus vizinhos continentais, isso porque usei esta régua de comparação, se medisse com as nações europeias o atraso seria ainda maior, e em quase todas as análises o Brasil fica para trás.

Voltando ao assunto de nossas discussões atuais, me espanta acompanhar discussões em torno de temas que já deveriam estar superados, temas que em outras nações são fatos consumados e nem mais geram polêmicas, por exemplo, ainda nos batemos sobre as pessoas, sejam elas contraventoras do código penal ou não, merecem ter seus direitos individuais respeitados, o bordão “no Brasil só bandido têm direitos humanos” é frequente, ainda gastamos energia a discutir a preferência ou opção sexual das pessoas, e atrelamos este fato ao seu caráter, as mídias sócias “fervem” quando algum casal do mesmo sexo apresenta seus filhos adotivos, requentamos assuntos do século XIX, como a “tradicional família cristã”, em um Congresso Nacional composto por 85% de homens, discute-se sobre o aborto, ou seja, às mulheres que serão as mais afetadas com esta decisão não participam da discussão, e nesta discussão o que mais conta são os valores religiosos e não os científicos.  Existem no Brasil aproximadamente 7200 bibliotecas e um número incontável de igrejas, não existem dados estatísticos sobre isso, mas elas estão na casa dos milhares, só os evangélicos abrem 14 mil templos por ano, e mais de 95% delas não possuem alvará de funcionamento, na Holanda Igrejas estão se transformando em bibliotecas, cafés e centro culturais, e um detalhe importante, os presídios holandeses estão fechando na mesma proporção, ou seja, mais fé não significa obrigatoriamente menos violência e melhora na condição de vida das pessoas, e no Brasil atual Deus tem que estar acima de todos.

Deveríamos gastar tempo, energia e dinheiro para discutir sobre melhoria nas escolas, qualidade de vida para idosos, como ajudar mães carentes a fazerem planejamento familiar, como melhorar a mobilidade urbana, geração de empregos e outros temas que impactam diretamente a vida das pessoas, mas como há séculos atrás, as questões morais atraem mais a atenção dos brasileiros.

 

 

 

 

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