O reflexo do povo

O reflexo do povo

Enfim chegou o grande dia, as eleições municipais.

Em meio a um vendaval político, que parece não ter dia para acabar, o povo vai as urnas exercer um dos seus maiores direitos civilizacionais, escolherem seus representantes políticos municipais.

Na Grécia Clássica os cidadãos sabiam que suas vidas eram regidas pelo convívio municipal, eram as pólis, mas com o surgimento das nações alargaram-se os horizontes políticos da humanidade, com o advento da Idade Moderna, e sua globalização, surgiram os cidadãos mundiais, para nós, pós-modernos, o mundo parece não ter fronteiras, pessoas mudam de países e se enraízam em outras civilizações, e assim a ideia de pertencimento a uma cidade se esvai, e é justamente ai que mora o perigo.

Não importa onde, todas as pessoas moram em uma cidade, e deveriam participar mais das decisões políticas dela, nos preocupamos, e às vezes até nos engajamos, em problemas de outros países, não que isto seja errado, mas como ajudar alguém a arrumar sua casa se nem da sua você toma conta?

É difícil mudar o mundo, mas se cada um cuidasse do seu bairro e de sua cidade, não teríamos problemas em nenhuma cidade do planeta.

Mas do que nunca, nestas eleições os cidadãos clamam por moralidade, por ética e por honestidade, temos a chance de aposentarmos vários políticos notadamente corruptos, está em nossas mãos, mais uma vez como sempre esteve. O problema é que fomos criados, e ao mesmo tempo criamos, uma civilização extremamente individualista, que coloca as ambições pessoais acima da comunidade, como não votar em um político corrupto que me ajuda? Que emprega alguém da minha família? Enquanto esta visão de mundo imperar nada mudará, os mesmos políticos se elegerão mais uma vez.

Montesquieu, filósofo iluminista do século XVIII, dizia que na sociedade moderna era preciso converter as virtudes pessoais em virtudes institucionais, esse mesmo filósofo fez uma analogia interessante, ele propunha que em uma panela se misturasse um terço de trigo com três terços de sorgo, e que após isso, se tirasse um copo desta mistura e observasse o que teria mais no copo, sorgo ou trigo? Claro que não importa quantas vezes você fizermos isso, sempre tiraremos mais sorgo. A moral da história é a seguinte: o trigo e o sorgo dentro da panela representam o povo e os grãos tirados pelo copo representam os nossos representantes políticos, portanto nossos representantes, infelizmente, representam perfeitamente o povo.

Para se ter um parlamento virtuoso é necessário ter um povo virtuoso e a virtude só se alcança com educação.

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