A república brasileira: entre o público e o privado

A república brasileira: entre o público e o privado

Toda pessoa que já andou de montanha russa, e não importa o tamanho dela, já pensou: Nossa essa descida não tem fim? É essa sensação que os brasileiros estão sentindo desde março de 2014, quando começou a Operação Lava Jato. Vivemos a espera de novas denuncias de corrupção, que ocorrem praticamente todos os dias, as operações se sucedem, Carne Fraca, Sevandija, Calicute e tantas outras. E nós brasileiros, anestesiados pelos fatos, tomamos um fôlego, e quando tudo nos leva a crer que não poderíamos nos escandalizar ainda mais, a JBS faz a Odebrecht parecer uma brincadeira de criança, e nós pensamos: Nossa essa descida não tem fim?

Escrevo as próximas linhas sem a pretensão de enxergar o fim, como todo historiador busco o início dos fatos, busco o portal de embarque para essa escandalosa montanha russa. Primeiro temos que entender que os fatos históricos podem ser contados sobre vários aspectos e que, portanto existem várias raízes para o mesmo problema, é como entrar em um metrô, varias pessoas embarcam ao mesmo tempo, mas por portas diferentes.

Uma das possibilidades de entendimento para nossa crise é buscar as origens da nossa escandalosa república. Em 15 de novembro de 1889, a frente de um grupo de pessoas como Rui Barbosa, Prudente de Morais e Campos Sales, o marechal Deodoro da Fonseca empurrou ladeira a baixo a bêbada monarquia brasileira e nossa história republicana começou.

A república foi criada para atender os interesses pessoais de um grupo de empresários políticos, sim isso mesmo de empresários políticos, não estou defendendo a monarquia, mas o movimento calculadamente apartou a população do processo de instituição da república, para que assim o populacho não pudesse exigir nada, uma vez que não colaborou com o processo, nascia assim um sistema político altamente personalista, que não impunha limites entre os interesses privados e particulares de seus dirigentes.

O republicanismo à brasileira não enxerga nenhum problema na mistura entre público e privado, a partir de 1894 começou uma triste era em que a maioria dos presidentes eram produtores de café, em uma época em que esse produto era responsável por praticamente metade das exportações brasileiras, que problema tinha o presidente usar de seu cargo para criar políticas públicas de proteção ao café? Como por exemplo, comprar os estoques deste produto, que coincidentemente ele e a maioria dos deputados e senadores vendiam.

E assim passaram os anos republicanos no Brasil, essa pratica se tornou comum e chegamos aos dias de hoje, por isso nossos governantes não veem nada de errado em ganharem apartamentos de construtoras que prestam serviços para o Estado, acham normal pedirem empréstimos para grandes empresários, não há nada demais uma advogada pagar a fatura do cartão de crédito de uma prefeita.

Por isso o fim da corrupção só ocorrerá quando o personalismo político for extinto do Brasil, se faz urgente uma mudança cultural em nosso país, enquanto isso não ocorrer à descida da montanha russa não acabará.

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