Um pensamento mutilado conduz a ações mutilantes

Um pensamento mutilado conduz a ações mutilantes

Durante séculos a ciência, e obviamente a educação, passou por um processo de especialização, de divisão dos conhecimentos em áreas cada vez menores, buscou-se a especialização da especialização. Essa intensa  especialização não foi obra do acaso, foi uma ação intencional e foi esse esforço propositado que levou ao “progresso do conhecimento, expressão das exigências analíticas que caracterizam o programa de desenvolvimento da ciência que vem dos gregos e que foi reforçado no século XVII, principalmente com Galileu e Descartes” (MORIN, 2005, p. 548).

Não podemos negar que a especialização foi importante para o desenvolvimento da ciência e consequentemente para a melhoria de vida da humanidade, mas este modelo já demonstra estar esgotado. O cidadão do século XXI é um ser global, multitarefa, e deve se tornar consciente de sua importância para a construção de um mundo melhor.

O conhecimento não é dividido, não é compartimentado em “gavetas”. Ao nos relacionarmos com o mundo e com nossos problemas, não paramos e pensamos sobre qual área do conhecimento será necessário buscar informação para resolvermos determinado problema. Na verdade, os problemas e os desafios são interdisciplinares. Por exemplo, para traçar uma rota de viagem, vários fatores estão envolvidos: a escolha do lugar pode ser motivada por razões históricas ou emocionais; a leitura do mapa, com suas escalas, é um ato geográfico, matemático e linguístico. Mesmo para quem usa GPS, e já são a maioria, é necessário conhecimentos múltiplos para lidar com este tipo de aparelho.

A escola precisa acompanhar as mudanças vivenciadas pela sociedade. O mundo é uma experiência interdisciplinar, nunca vivemos tão interconectados como atualmente. Portanto, a permanência de um saber fragmentado e altamente especializado em parcelas disciplinares aumenta a dificuldade humana de encontrar respostas globais.

A total extinção das divisões disciplinares ainda é uma utopia muito distante, mas devemos, na medida do possível, interligar os conhecimentos e, quando for viável, acabar totalmente com as fragmentações. Precisamos evoluir no sentido de uma consciência global, e, para alcançarmos este ideal, a educação deve se alinhar a tal propósito.

Os jovens do século XXI precisam entender que todas as suas ações estão interligadas, que existe uma só humanidade, que uma pequena atitude isolada pode fazer diferença para toda uma comunidade, o simples ato de atear fogo em um terreno baldio ou derrubar uma árvore pode desequilibrar, se não acabar, com todo um ecossistema. A escolha de uma marca de roupa ou de tênis pode se relacionar com a exploração da mão de obra de milhares de crianças em algum país pobre e abandonado pela humanidade.

O pensamento interdisciplinar e global pode elevar a humanidade a um estágio mais sensível e atento aos problemas. Segundo Morin (2013, p. 183): “Um pensamento mutilado conduz a ações mutilantes”.

 

Bibliografia

 

MORIN, E. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. São Paulo: Cortez, 2005.

_______. A via para o futuro da humanidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.

 

 

 

 

 

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