Memento
Memento
(Wlaumir Souza)
No contrato da vida
Na última linha
Em letras em caixa alta e negrito e itálico e grifado
Está previsto o fenecimento
Muitos temem a morte
E se esquecem do morrer
Morrer com leveza
È privilégio de poucas
Com dignidade é quase a confirmação
De que existem milagres
O morrer em dor
O morrer dormindo
O morrer ao relento
O morrer em casa
O morrer hospitalar
O morrer síncope
O morrer se desdobra na existência humana
Em seus infinitos cultivos de poentes e de inexistências
Mais que o morrer
O que é reverberado
É o morto
Mais que temor à morte
Além do tremor do morrer
O morto nos espanta
Enquanto a tantos outros admira
Para onde foi o que vivia
Para onde segue sua existência
Para onde vai sua memória
Para onde ruma os seus ditos
Com quem fica sua eternidade
O que nos ensina a finitude
A morte
O Morrer
O morto
Nas lembranças da coletividade a eternidade
Na última lembrança
De um sobrevivente ao contrato da vida
O morrer e o morto e a morte assombram
O sem fim das existências contidas no tempo de agora