
Império do Brasil da Corrupção
A novela Império no quesito como o Brasil é corrupto tem vencido no sentido da demonstração do quanto a arte imita a vida.
Estou às vésperas de completar 45 anos e três são os maiores componentes em minhas reminiscências sobre o Brasil: carnaval, corrupção e violência contra o cidadão.
Ainda menino ouvi certa história – não me lembro de quem e de onde e sobre quem – em que em certa cidade, à época da Ditadura Militar, um dado prefeito foi buscar na capital do Estado de São Paulo uma verba e a trouxe para o seu município em dinheiro vivo no carro. Ao chegar á cidade, parou primeiro na sua residência, o prefeito, e foi descansar enquanto deixou o carro, com a mala de dinheiro, parado à sua porta. Todavia, havia esquecido os vidros abertos devido ao cansaço. Quando voltou ao carro deu-se conta de que a bolsa com o dinheiro havia desaparecido para nunca mais ser vista. Ou seja, as histórias de malas de dinheiro público e seu desaparecimento são de longa data.
Neste ano, em entrevista ao Manhattan Connection, o porta voz neoliberal da classe média brasileira, Zélia Cardoso de Mello narrava a decisão pelo uso de cartão de crédito no exterior da parte de brasileiros e, mais do que isto, dizia que a medida visava colocar fim às viagens dos nacionais com dinheiro escondido na lingerie masculina e feminina. Ou seja, dinheiro na cueca, na calcinha e nas meias, entre outras possibilidades, faz parte da história do país.
Outras histórias poderiam ser arroladas e, infelizmente, apenas tenderiam a comprovar o grau histórico da corrupção, da fuga de capitais, e de infindos problemas com a Receita Federal. Todavia, me deterei na imagem televisionada na novela Império nesta sexta-feira.
José Alfredo personifica o velho adágio: por trás de toda grande fortuna tem assassinato ou roubo, e não raro, os dois. Assim, em meio a trafico de gemas, remessas ilegais de dinheiro ao exterior, sonegação, entre outros delitos que ampliaram sua fortuna legitimada pelo casamento com uma “quatrocentona”, assistiu-se no capítulo do dia 06 de março de 2015, o Comendador, nadando em uma piscina de dinheiro de origem duvidosa.
A imagem é emblemática do País que vivemos. Não basta mais mostrar dinheiro na cueca, malas de dinheiro, vídeos de pessoas religiosas agradecendo o extravio de dinheiro público e de propina. Estas imagens são antiquadas diante das fortunas que temos vistos desaparecer do cofre público ou das empresas estatais com apoio sistemático de empresas privadas. Assim, o autor evocou a velha imagem da elite que nada em dinheiro, literalmente.
A imagem é liricamente forte, mas, amedrontadora por demonstrar a cara de parte das elites políticas e econômicas carcomidas pela corrupção. Além do mais, a piscina evoca o dinheiro lavado por processos aparentemente legais que perpetua no poder aqueles que não seguiram as regras do jogo legal, mas, vencem pelo uso dos costumes corruptos e rotineiramente colaboram para a expropriação do povo e avanço da fome e da miséria.
Diante desta imagem que demonstra o vulto da corrupção, se um dia o Brasil passar a ser de common Law iremos ver surgir em praça pública a cena que escamoteamos de nós mesmos... dinheiro ilegal é a única fonte de riqueza possível nos trópicos?
Veja aqui a cena da novela: