Como quer que seja

Como quer que seja

Alguns prazeres na vida são inenarráveis, incomunicáveis.
Isso porque estado de espírito não é algo que se possa compartilhar sem alguma perda considerável.
Como explicar, por exemplo, que um fim de tarde assistido deitada na grama pinicante, com uma brisa suave beijando o rosto enquanto se espera a filha pequena brincar no parquinho infantil, possa ser algo tão sublime, tão inebriante?
Como fazer o leitor compreender que esse momento tão simples está entre os mais gostosos já vividos?
Como transmitir esse estado de espírito único, permeado por uma emoção de paz, de tranquilidade e de unidade com o Universo, de forma a ser literalmente compreendida?
Difícil...
Complicado porque a especificidade humana é algo fantástico.
Cada ser compreende em si infinitas possibilidades de ser.
Infelizmente, essa variedade de gente é pouco compreendida ou explorada, ao contrário, assusta, amedronta a grande maioria.
E nessa tentativa desumana de se padronizar o modo de ser, perde-se o que há de mais belo na criação do homem: sua singularidade.
Para o observador comum, que passa desavisado pela praça, absorto na rotina da vida, pode parecer estranho alguém ali deitada, em pleno expediente, olhando para o nada. “Essa é louca”, pode sugerir aos seus botões, ou então, em uma perspectiva ainda pior, pode o cidadão comum sequer notar aquela presença ali, de tão absorto em si e suas preocupações cotidianas.
Em outra hipótese, mais otimista, pode alguém que passeia ali também com um filho chegar quase perto de sentir o mesmo ou ir além, sentindo ainda mais intensamente o “presente”, que estar no presente pode ser.
Em qualquer destas hipóteses, no entanto, tudo não passa de um julgamento meu, as variáveis são infinitas de percepção — ou não — dos demais.
A questão que me aflige, realmente, nisso tudo, é que na lógica perversa da massificação do pensamento, dos sentimentos e dos comportamentos, parece-me cada vez mais difícil encontrar aqueles capazes de observar a cena com igual contentamento, com semelhante possibilidade de sentir esse inexplicável prazer.
Eu mesma, senti isso só por um momento...
Uma pena estarmos todos tão ocupados a ponto de não saborearmos os pequenos e verdadeiros prazeres que existem. Estes momentos únicos que nos tornam seres igualmente únicos.

Vivamos mais para isto.

 

#FICA A DICA: assista esse vídeo EXPERIÊNCIA METRONOME . A experiência serve para ilustrar como somos influenciados pelo meio, mudando nosso comportamento e fugindo da nossa essência única,passando a agir como todos os demais, ao invés de explorar e expressar nosso melhor, sem medo do que os outros vão achar. 
 

Compartilhar: