Manejo das abelhas

Manejo das abelhas

No último dia 16 de setembro passei a tarde no Campus da USP em Ribeirão Preto preparando uma matéria sobre duas ações que a universidade está promovendo, envolvendo abelhas, com a finalidade de estreitar o relacionamento com a comunidade e contribuir com a preservação do meio ambiente. 

Uma dessas ações, a realização de um curso chamado "Abelhas para a melhor idade", já transformou a vida de pessoas, como o jovem Antônio Anderson de Matos, que acompanha as aulas pela terceira vez e se tornou um apaixonado ajudante dos pesquisadores.

A desenvoltura do rapaz, comentando sobre as peculiaridades das espécies e mostrando, sem receios, suas experiências e sonhos relacionados ao manejo das abelhas, prova como ações simples podem ser construtivas e transformadoras, assim como a realização de um curso gratuito e aberto à comunidade, realizado de forma voluntária, simplesmente com a finalidade de compartilhar conhecimento.

Além do curso, a USP também criou uma trilha ecológica onde, através de um passeio pelo campus, os visitantes - devidamente agendados - podem conhecer um pouco mais sobre as pesquisas de catalogação de espécies nativas e sua importância para a manutenção de ecosistemas. Um trabalho muito interessante, principalmente para escolas, que podem agendar visitas de seus alunos.

E só para terminar... Foi um daqueles dias em que se volta para a casa com a sensação de "dever cumprido", sabe. Com alegria no coração e leveza na alma...

Poder compartilhar esses aprendizados, mesmo que só em parte, é gratificante para qualquer jornalista.

Então, ai vai o resultado desse trabalho. Espero que gostem!


 
(continua)
Saiba mais:

A ideia dessa matéria surgiu de um release da Assessoria de Imprensa da USP. Valeu a dica heim Rosemeire. E como o material está completo, vale à pena ser compartilhado para quem quiser se aprofundar mais no tema. 

Trilha leva população a conhecer universo do Câmpus da USP, que tem mais de 1,3 mil ninhos de abelhas

“Irá” em tupi significa “abelha”. No câmpus da USP, em Ribeirão Preto, dá nome à trilha ecológica “Procurando Irá”, que leva o visitante a mais de 1,3 mil ninhos naturais de abelhas, de 18 espécies diferentes. O passeio é aberto a grupos de pessoas, principalmente, estudantes, que conhecerão peculiaridades de cada espécie, como o local escolhido para fazer seus ninhos, tipo de material utilizado na construção e as caracteristicas de arquitetura do tubo de entrada. “Tudo isso contribui para que mais pessoas entendam a importância das abelhas na manutenção da biodiversidade”, avalia a bióloga Geusa Simone de Freitas.

Toda essa população está sendo mapeada desde 1999 pela bióloga Geusa. Ela fez mestrado e doutorado com os dados colhidos, orientada pelo professor Ademilson Espencer Egea Soares, do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina (FMRP). Todos os ninhos encontrados são identificados com plaquinhas numeradas, próximas a sua entrada.

Atualmente, no pós-doutorado, Geusa intensifica a coleta de informações desses ninhos e faz o mapeamento utilizando GPS. “Esses ninhos são todos monitorados. Existem colônias em todo o câmpus, em cavidade de árvores, caixas e postes de luz, paredes, muros e novos ninhos estão sendo encontrados”, comemora a pesquisadora.

Nas incursões, como a que está ocorrendo desde o mês passado, são recolhidos de 15 a 30 exemplares de cada ninho, identificados com número e data, local do ninho, posição, se for em árvore, identifica-se a espécie e altura dela. Com as informações colhidas, os pesquisadores avaliam também a dispersão de ninhos e, ainda extraem DNA de cada exemplar para o estudo da genética das populações. “Todas essas informações, inclusive trabalhos feitos com esses ninhos, vão para um banco de dados. Queremos instalar no futuro um banco de germoplasma de abelhas nativas”, revela Geusa.

A pesquisadora lembra que o cerrado sempre foi suporte para a sobrevivência dessas abelhas. Como o cerrado da região deu lugar aos canaviais, elas se refugiaram nas cidades. No caso de Ribeirão Preto, elas encontraram no câmpus o local ideal para se instalar. Tem uma área verde bastante extensa, com jardins e flores, principalmente entre agosto e dezembro. “Com isso, a fartura de alimentos, a população de abelhas aumentou muito nos últimos anos”, afirma Geusa.

A espécie mais encontrada é a Jataí, mas também tem a Caga-fogo, Borá, Marmelada, Arapuá, Feiticeira, Guaxupé, Canudo, Trigona do grupo fuscipennis, Iratim, Mirim droriana, Mirim preguiça, Tubiba, Scaura, Boca de Sapo, Iraí, Lambe os Olhos. “Todas as espécies são potenciais polinizadoras e não oferecem risco, pois são espécies sem ferrão. Pesquisas já revelaram grande quantidade de pólen nas colméias”, explica Geusa.

Umas das curiosidades sobre a capacidade de adaptação dessas espécies, revelada por Geusa, é que a frieseomelitta varia, por exemplo, faz,  normalmente, seu ninho em árvores e cipós, no câmpus ela é encontrada em postes.

Tinta prejudica
Mesmo com a grande quantidade de colméias, a variedade de espécies e a plaquinha de identificação que os pesquisadores colocam nos ninhos, as abelhas estão em constante ameaça também no Câmpus.

Se não bastassem os curiosos que quebram a entrada das colméias ou até colocam veneno pensando que elas são perigosas, confundindo-as com a Apis melífera, espécie com ferrão, o grafite utilizado para pintar o chão dos prédios onde se instalam, principalmente, a Mirim preguiça e Mirim droriana, é altamente tóxico e mata rapidamente todos os exemplares do ninho. Isso já ocorreu na Oficina de Precisão e na Faculdade de Economia (FEA-RP) e faz com que com que o número de ninhos oscile muito, diz Jairo Sousa, técnico de laboratório do depto, especialmente das pequenas.

Já aquelas que se instalam em cupinzeiros, como a Scaura, sofrem com os caçadores de periquitos “Eles quebram o cumpinzeiro para retirar os filhotes de periquitos que também tem ninho nesse local, e com isso matam a colméia”, diz Souza.

O técnico alerta que em cada Unidade ou órgão do câmpus alguns funcionários poderiam ser treinados para reconhecer espécies de abelhas e vespas e, se for o caso, para eliminá-las, no caso das vespas que são agressivas. Outra questão levantada por Souza é que para a construção de novos prédios e até para reformas, os pesquisadores poderiam ser consultados. “Muitas vezes alguns detalhes nas construções acabam sendo muito apropriados para as abelhas construírem seus ninhos, e se elas forem agressivas, podem trazer riscos”, alerta.

Ele diz, ainda, que em Ribeirão Preto chega a mil o número de chamados por ano para extermínio das abelhas africanizadas que tem ferrão, que podem trazer risco para as pessoas e os animais. “Muitas vezes de forma equivocada as pessoas relacionam a presença dessa espécie de abelha ao apiário da USP, mas isso não é correto, pois essa espécie tem um comportamento de distribuição muito diferente, ela viaja muito, e as pessoas se esquecem que muitas cidades também tem problemas com elas e não têm nem apiário por perto”.

Uma das formas de se diferenciar as abelhas agressivas, das não agressivas, ou seja, com ferrão e sem ferrão, é analisar a entrada para a colméia, diz Geusa, a maioria das sem ferrão tem um tubo de entrada. “E importante, porque muitas vezes as pessoas, por medo,  matam uma abelha, que contribui muito com a polinização, sem necessidade”.

Referência mundial
Os estudos com abelhas no câmpus reúnem pesquisadores das Faculdades de Medicina e de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP). São cerca de 40 pesquisadores, incluindo alunos de pós-graduação e pós-doutorado, se dedicando ao assunto, que vão desde Biologia Molecular, passando por Isoenzimas, Bioquímica, Genética do Desenvolvimento, Morfologia, Morfometria, Inseminação Instrumental, até Patologia Apícola, Determinação do sexo e castas, Comportamento e Polinização entre outros.

Grande parte dos pesquisadores são discípulos do professor Warwick Estevam Kerr, que aceitou o convite para criar o Departamento de Genética da FMRP, em 1964, e é  um dos maiores especialistas em abelhas do mundo. Ele foi responsável em 1950 pela determinação de castas em abelhas do gênero Mellipona, sem ferrão, o que lhe rendeu reconhecimento mundial. Em 1956 introduziu a Abelha Africana no Brasil e a partir do cruzamento dessa espécie com as abelhas de origem Européia, formou-se um poli-híbrido chamado de abelha  Africanizada, menos agressiva e grande produtora de mel.

Com toda a influência do professor Kerr, o setor tornou-se referência mundial, não só pelas publicações, mas também pela formação de especialistas em abelhas em geral. Metodologias pioneiras desenvolvidas em Ribeirão Preto, diz o professor Espencer, nas áreas de biologia, manejo, controle e melhoramento de Abelhas Africanizadas são aplicadas em vários países, em todo o continente Americano.

“Somos considerados há mais de 15 anos, como Centro de Referência para formação de pesquisadores na área de apicultura e biologia de abelhas, tanto pelo International Bee Research Association, vinculado a FAO, órgão das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, com sede em Roma, como pelo Organismo Internacional Regional de Sanidad Agropecuária (OIRSA), que reúne todos os países da América Central, Panamá e México, com sede em El Salvador”.

Interessados podem agendar visitas, em grupo, pelo telefone (16) 3602.3077

Texto: Rosemeire Soares Talamone
Serviço de Comunicação Social da CCRP-USP

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