A pALMAda NA BUNDA...

A pALMAda NA BUNDA...

Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las.
Voltaire

Sabe, já ouvi de tudo com relação a aplicação do “tapa na bunda” na educação dos filhos.  Pessoas a favor, pessoas contra, pessoas “em cima do muro”... Particularmente sou a favor.

Não porque já apanhei quando era criança e isso não me fez mal algum, pois, ao contrário, fui bastante rebelde em função justamente das famigeradas palmadas recebidas. Sou a favor, antes de tudo, porque sou um ser humano e não um robô. Não nasci com botões On e Off para uso em momentos de descontrole emocional...  Aliás, tenho direito a esses momentos e defendo com unhas e dentes o direito de vivê-los, afinal, muitas vezes são eles os responsáveis pelas minhas mudanças para melhor.

Na minha opinião, tenho todo direito de vivenciar livremente as experiências que a vida me impõe, assim como qualquer animal na Natureza. Se em um momento qualquer enquanto mãe eu resolver que a minha filha está merecendo uma palmada na bunda, não quero ter cerceada a minha liberdade de escolha por fazer uso dela. Essa é uma prerrogativa minha e de mais ninguém!  A única pessoa com a qual pretendo compartilhar essa decisão é meu marido, que está diariamente ao meu lado na tarefa de impor os necessários limites para o seu desenvolvimento.

Esse tipo de imposição que adentra nossas casas, nossas entranhas, limitando nossa visão e ação sobre o mundo, na minha opinião, é muito nocivo e não pode gerar nada de bom. Vide a aprovação automática. O que tem feito com nossas crianças, com os professores e a escola, senão conduzí-los lenta e dolorosamente ao aterro da alfabetização?

Voltando ao ponto. A questão do que é saudável ou não para um ser humano é bastante complexa... Cada um recebe e processa as informações, as emoções e mesmo a dor de forma particular e isso não é novidade, portanto, categorizar ser ou não saudável levar umas palmadas é, obviamente, um equívoco. Não são algumas palmadas na bunda dadas em determinados momentos em que a criança "conscientemente" está sendo insolente, intransigente, teimosa ou agressiva  (ah, sim, porque elas sabem que estão agindo mal) que vão determinar sua personalidade. A criança sabe quando é amada, sabe diferenciar entre um momento de carinho gratuito dos pais e um de braveza justificada. 

Qual o reflexo que umas palmadas vão ter sobre quem minha filha vai se tornar um dia? Difícil dizer...  Assim como é difícil dizer quem ela será se não as receber...

Eu levei as minhas, como disse, e apesar de achar que elas passaram um pouco da “dose” de simples palmadas — embora reconheça que não fui uma criança, como se diz, “comportada” e, portanto, muitas vezes tenha merecido a devida correção — não vejo como isso muda quem sou hoje. Passei algum tempo revoltada com as escolhas que meus pais fizeram, até o momento que compreendi que eles deram o melhor de si, dentro de duas possibilidades. Ponto!

Essa compreensão da humanidade em cada um de nós é que — acredito — seja o grande e verdadeiro segredo para se equilibrar isso tudo. Somos o que somos,  fruto do melhor que nossos pais puderam ser como educadores, é isso que temos que compreender e propagar. É claro que o ideal seria não usar desse artifício com a criança (e nem com ninguém, jamais, em qualquer circuntância), mas não vivemos nesse universo ideal - de respeito, diálogo e equilibrio emocional - vivemos num mundo de paixões, de erros e acertos, de frustrações e conquistas, de corrupção, miséria e pujança. Vivemos num mundo de contradições, justamente para cada um ter a opção de escolher seu próprio caminho.   

Não precisamos de ninguém para nos dizer o que nossos filhos devem comer, vestir ou dizer — a não ser em casos extremos, obviamente — então também não precisamos de ninguém para julgar se eles precisam ou não de correções e de que tipo sejam.

Eu levei meus petelecos, escrevi cadernos e cadernos de caligrafia, fiquei tempos sem assistir televisão... E, sinceramente, acho que frustrei todas as expectativas de meus pais com relação à eficácia desses métodos de correção. Continuei teimosa e “arteira” como nunca, se isso significa ser alguém que defende – irremediavelmente – sua liberdade, sua independência, suas crenças.

O que posso dizer é que hoje estamos todos de pé, cada qual com suas culpas e méritos, cada qual com sua parcela de humanidade e amor.

Como disse, sou um ser humano e não uma máquina. E, como tal, também nasci com a capacidade de perdoar quem errou e prosseguir, de pedir desculpas pelos meus erros e prosseguir, ou simplesmente de prosseguir, se assim o desejar.

E, na minha opinião, é isso que torna a vida tão bela... A liberdade de escolher entre o que julgamos bem ou mal.  E isso não é algo que se possa impor, apenas experimentar...

É para esse fim que existimos!

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