Teve marcha da Ku Klux Klan em Ribeirão Preto? Comprova, Revide!
Uma marcha do grupo supremacista branco nas ruas de Ribeirão Preto?

Teve marcha da Ku Klux Klan em Ribeirão Preto? Comprova, Revide!

Fomos atrás de descobrir se há uma célula do movimento em Ribeirão Preto, depois de vídeo ter sido compartilhado nas redes

Recentemente, um vídeo foi compartilhado pelas redes sociais com uma possível marcha do grupo extremista de supremacia branca Ku Klux Klan (KKK) em Ribeirão Preto. O "Comprova, Revide" foi atrás desta história.

No vídeo, um grupo com roupas idênticas ao movimento estadunidense marcha pelas ruas da cidade. Mas, como um movimento desses, com tanta gente e de um grupo tão perigoso marcha livremente pelas ruas da cidade e ninguém fica sabendo?

Na verdade, não houve marcha alguma da KKK. O vídeo, que também não é de Ribeirão Preto, é da cidade goiana Cidade de Goiás (a 148 km da capital). O município, que já foi a capital do Estado antes de Goiânia, foi reconhecido em 2001 pela Unesco como sendo Patrimônio Histórico e Cultural Mundial por sua arquitetura barroca peculiar e por suas tradições culturais seculares.

Uma destas tradições é a Procissão do Fogaréu, que acontece na véspera da Sexta-feira Santa. Segundo a Secretaria da Cultura da cidade, a procissão encena a prisão de Jesus Cristo. Interpretando soldados romanos estão os farriocos, as figuras vistas nos vídeos e confundidos com os membros da seita racista.

Ao todo, 40 farriocos seguem descalços, pelas antigas ruas de pedra da cidade. Uma multidão de pessoas, composta de fiéis, turistas e moradores locais, assiste ao espetáculo, marchando juntamente direção à escadaria da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Os capuzes em formato de cone, na verdade, simbolizam os galhos das árvores, que apontam para o céu.

Veja o vídeo que foi compartilhado pelas redes sociais:

 

Mas afinal, o que é a Ku Klux Klan?

Para não restar dúvidas, a historiadora Sandra Molina explica o que é a Ku Klux Klan. Segundo a professora, o grupo está intimamente  ligado ao processo de colonização norte-americano e também à Guerra de Secessão (1861-1865).

Os fundadores das 13 colônias que deram origem aos Estados Unidos da América eram anglo-saxões, brancos e protestantes que fugiram da Europa por perseguição religiosa. "Quando eles foram erguer os Estados Unidos, precisavam de mão de obra. Para trabalhar nas lavouras de monocultura, em toda a América, foram traficados cerca de 12 milhões de escravos negros", conta a historiadora.

A maior parte foi para Caribe e Brasil - o terceiro local que mais recebeu negros foi os EUA. Após a independência do país, o regime escravagista ainda seguia forte nos estados do Sul. Estes declararam a separação do restante do país, formando os Estados Confederados da América, conhecidos como "Confederação" ou "Sul". Os estados que não se rebelaram ficaram conhecidos como "União" ou simplesmente "Norte".
Grupo supremacista branco dos EUA não tem nenhuma relação com procissão goianaA guerra, que teve como vencedor o Norte, gerou inúmeras sequelas na cultura estadunidense que refletem até hoje. "Após a vitória do Norte, a abolição da escravidão é assinada e começa o processo de reconstrução do Sul, aos moldes do Norte. O que gera um enorme descontentamento dos moradores do Sul", esclarece Sandra.

Segundo a historiadora, mesmo com inúmeros senhores de escravos e uma cultura racista muito forte, a cultura sulista devia ter sido respeitada no processo de união dos estados. "Atropelados pela política do Norte, os sulistas criaram a Ku Klux Klan. Unindo ex-senhores de escravos e brancos pobres e indignados com a nova política interferindo nas liberdades individuais". Em 1872, o grupo foi reconhecido como uma entidade terrorista e foi banida dos Estados Unidos, após vários atos de tortura, assassinatos e estupros contra a população.  

Confira abaixo o vídeo de uma reportagem da Rede Vida feita sobre a procissão


Foto: Prefeitura de Goiás/ Wikipedia

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