Narrativa visual

Narrativa visual

Utilizando uma sequência de imagens minuciosamente planejada como meio de expressão, os fotolivros artísticos atraem um público cada vez maior

O universo da fotografia é extremamente rico, oferecendo aos artistas e aos admiradores um campo vasto, repleto de possibilidades. Existem diferentes maneiras de captar, de trabalhar, de expor e de compartilhar imagens. Um formato de publicação, em especial, vem ganhando destaque nos últimos anos: o fotolivro. A ideia de estruturar uma sequência de fotos em um livro com o objetivo de construir uma narrativa não é uma novidade. Uma das principais referências do tema — “The Americans”, de Robert Frank —, por exemplo, é da década de 1950. No entanto, com o avanço da tecnologia, esse recurso tem se tornado mais acessível e democrático, expandindo e alavancando o mercado. “Antigamente, apenas os fotógrafos com carreira consolidada tinham a oportunidade de lançar um livro. Agora, vários artistas passam a ser reconhecidos mundialmente por causa dessas obras que, muitas vezes, são produzidas sem o respaldo de uma editora, como um projeto pessoal e independente, feito de forma artesanal e, em certos casos, até com financiamento coletivo”, ressalta o curador e artista visual, Éder Ribeiro. 

Cada detalhe da produção é planejado para seguir um contexto e cumprir um propósito. A escolha do papel, da técnica de impressão, da escala e do número de exemplares, entre outros elementos, já revelam um pouco da mensagem do autor. Diferente de um catálogo, as imagens em um fotolivro devem ter um fio condutor, um encadeamento que defina o trajeto a ser percorrido, um canal de expressão que estabelece uma comunicação com o público em geral. O interesse crescente em torno do segmento no país culminou na criação de um sistema organizado, com cursos teóricos e práticos, mostras, circuitos, feiras e sites especializados, mas, segundo Denis Santos, ainda há um grande potencial a ser desenvolvido em Ribeirão Preto.

O artista lançou, este ano, pela Alter Edições, o fotolivro “O murmúrio das coisas”, com a coordenação editorial de Éder. “Conheci o Denis em São Paulo, em um curso de fotografia moderna no Instituto Moreira Salles. Fiquei curioso para apreciar o material coletado por ele. Começamos a trabalhar em conjunto, selecionando, a princípio, da sua produção nos últimos dez anos, fotos para uma exposição. As possibilidades e os desafios de unificar objetos e cenas tão distintas, registros de encontros, de momentos e de pessoas mesclando o concreto, o abstrato e o surreal eram imensos. Durante o processo, que durou, ao todo, cerca de um ano, percebemos que o repertório levantado se encaixava melhor no formato de livro”, lembra o curador. A indicação foi aceita por Denis. “Já colecionava fotolivros e gosto bastante desse formato. Para mim, fotografia é algo íntimo, que precisa de aproximação, do toque”, explica.

A obra evidencia o olhar livre do artista e sua capacidade de retratar sutilezas que costumam passar despercebidas no dia a dia. “Fotografo o que se alinha ao meu sentimento. Trabalho o enquadramento, a luz e a dramaticidade para reforçar a minha visão, que é de certo desencanto em relação ao mundo. Fico feliz em saber que quem vê as imagens fará sua própria interpretação, de acordo com suas vivências e experiências”, comenta Denis. A repercussão a “O murmúrio das coisas” tem sido positiva. O fotolivro foi apresentado em Arles, na França. Além disso, foi selecionado para lançamento no Festival de Fotografia de Tiradentes e no Fórum Latino-Americano de Fotografia e, ainda, pela convocatória de fotolivros do Festival Zum do Instituto Moreira Salles, passando a integrar o prestigiado acervo da Biblioteca de Fotografia do IMS Paulista. 

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