Discussões estéreis não curam

Discussões estéreis não curam

Maurílio Biagi Filho é empresário

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o primeiro semestre de 2020, poucos meses após a pandemia da Covid-19 ser decretada, escrevi um artigo e fiz um desabafo. Nele, resumi meu sentimento em relação ao cenário pandêmico com a emblemática frase do filósofo Sócrates: “Só sei que nada sei”. Lá se vai um ano e meu sentimento continua o mesmo.

A cada dia, vejo mais achismos, informações desconexas, muitas incertezas e poucas certezas. Uma certeza indiscutível é a sensação de que “atravessamos um luto coletivo”, termo extraído de carta publicada no O Estado de S. Paulo, em março, por um respeitado empresário do ramo do entretenimento, na qual comunicava o fechamento da maior casa de espetáculos da América Latina, e prestava homenagem aos artistas.

Choramos e estamos enlutados junto com os familiares e amigos das quase 400 mil pessoas que morreram vítimas da Covid 19. Não tem como não sentirmos essa dor, mesmo porque muitas delas, inclusive, são nossas amigas, parentes e conhecidas. Além dos mortos-mortos, estamos em luto também pelos mortos-vivos que essa pandemia deixou, em número superior aos falecidos.

Pessoas sem emprego, sem condições de comprar o básico, aumento de moradores de rua, empresas tradicionais fechando as portas, pessoas morrendo em casa de outras doenças porque têm medo de ir até um centro de saúde, tratamentos e diagnóstico de câncer interrompidos, aumento de pessoas com doenças psiquiátricas. Cirurgias sendo canceladas. Um adendo para ressaltar a dedicação dos profissionais da saúde, guerreiros. Mesmo com a luta deles, estamos deparando com pessoas morrendo por falta de leitos, de remédios, de equipamentos apropriados e por assistência tardia causada muitas vezes por discussões estéreis sobre o melhor tipo de tratamento.

A vacina é a forma real de contenção dessa doença. A vacinação em massa é a nossa única salvação palpável, independentemente do grau de sua eficácia. Se não são ideais, são as que temos. Mas em nosso país o vírus político conseguiu contaminar até a ciência. Essa contaminação gera desencontros que provocam um caos psicológico. A questão das vacinas foi politizada de tal forma que gerou sensação de insegurança e dualismos dispensáveis. E tem gente boa dos dois lados.

A pandemia acelera em velocidade superior ao ritmo de vacinação. Poderíamos estar melhor. Muitos de nós estamos assistindo passivamente, outros se organizando em movimentos para ajudar com doação de cestas básicas, oxigênio, remédios, e até tentativa de compra de vacinas, a exemplo dos empresários do movimento Unidos pela Vacina, capitaneado pelo grupo Mulheres do Brasil, liderado pela empresária e amiga Luiza Trajano.

Mas isso só não basta, é preciso ação do poder público e das instituições constituídas. Em Ribeirão Preto, percebo a seriedade com que os gestores tratam o assunto, respaldados tecnicamente. Até o momento, a cidade está conseguindo absorver o aumento da demanda sem colapsar, com abertura de novos leitos, e reservando verba, aprovada pela Câmara, para a compra de 500 mil vacinas.

Não precisamos concorrer e sim socorrer. E socorrer a nação e não os parlamentares. Não bastasse a pandemia, enfrentamos o desgaste com orçamento anual, manobra fictícia para agradar o Congresso. Agora, o Senado instaura CPI para apurar erros de governos, mais palco para os políticos se digladiarem em busca de votos do que para solucionar o problema. E quem vai pagar a conta são os brasileiros contribuintes.

Já passou da hora de uma união nacional para eliminar esse vírus político, que está prestes a provocar um sepse no país. Infelizmente, esse vírus está conseguindo ser pior do que o coronavírus. E, contra ele, não temos vacina desenvolvida. Sabemos que se alimenta de votos e coloca eleição acima da nação. Se o vírus político não for eliminado, nossos esforços para combater o coronavírus serão em vão. 

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