A fome de sobreviver

A fome de sobreviver

Ionan Ferreira Santos é psicanalista

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m psicanálise, fome é angústia. E nos dias de hoje, o desejo da cura tomou conta da alma humana em razão de um inimigo invisível e nefasto.

A necessidade de compreensão é tamanha, que a ocasião nos remete a um enorme sofrimento psíquico, em razão da ausência de respostas.

O fato é que as inúmeras explicações encontradas sobre a pandemia, até o momento, não nutrem o aparelho psíquico. As descobertas científicas também não foram suficientes para saciar a fome de saber, de se proteger ou de se curar do vírus.

As perdas são constantes, o desemprego se alastrou pelo mundo e famílias de milhões de desempregados passam fome. Se a ausência de alimentos pode nos levar à fraqueza, à desnutrição, às doenças e à morte, as consequências no aparelho psíquico não poderiam ser diferentes.

Se o que divide a sanidade da loucura é mais ínfima do que o mais fino fio de cabelo, então, nós podemos entender, nitidamente, as razões do aumento do número de pessoas atingidas pela solidão, depressão, síndrome do pânico e fobias, chegando aos surtos histéricos e psicóticos.

A fome de sobreviver tomou conta do planeta. E a fome por vacinas também. Uma, duas ou três doses? Quantas serão necessárias para extinguir a doença e saciar a fome de se sentir protegido?

Para aqueles que cometem o ato falho, afirmando que “a vida não vale mais à pena”, ou mesmo, quando manifestam a certeza de serem donos de suas próprias vidas e, portanto, podem extingui-las quando bem quiserem, vale uma reflexão: A vida é algo inegociável, por ser o bem mais valioso que temos. E as perdas são inevitáveis, portanto, inerentes aos seres humanos.

Mas, a vida nos revela sempre que existem inúmeras maneiras de nós enxergarmos as dores, as doenças e os problemas que envolvem a saúde, o bem-estar da humanidade.

Já que não sabemos ao certo porque nascemos, vivemos e morremos, vamos deixar à própria vida, ou às leis da natureza, a responsabilidade sobre a nossa finitude.

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