O motor da recuperação

O motor da recuperação

Com previsão de reformas objetivando a retomada da economia, a Agrishow aponta recuperação e políticos já estão de olho em 2018

Blairo Maggi e Geraldo Alckmin prestigiaram a AgrishowCom expectativa de crescimento, recorde de concessão de crédito no primeiro dia e muitas ações políticas, a 24ª edição da Agrishow, realizada em Ribeirão Preto, espera apontar novos rumos da economia brasileira, cobrando reformas e vislumbrando um futuro que aposta na tecnologia, principalmente a mobile, que vai desde o controle das grandes máquinas até o contato com o banco para a compra desses produtos.

Nas primeiras palavras das lideranças do agronegócio, antes mesmo da abertura oficial da Feira, estavam cobranças direcionadas ao governo federal para a aprovação das reformas trabalhistas e da Previdência e também discussões para mudanças nos tributos, apontadas como essenciais para a volta do crescimento da economia brasileira, impulsionada, especialmente, pela agricultura e pecuária. Juntas compõem os principais motores da economia nos últimos anos. “A retomada do crescimento será pelo agronegócio. Estamos colhendo uma safra recorde. Essas reservas que o Brasil tem, vêm do agronegócio. A queda do PIB brasileiro teria sido muito maior se não fosse o agro, que representa 25% da produção nacional”, disse João Carlos Marchesan, presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que ainda afirmou que para isso é necessário esforços dos políticos, e cobrou, com urgência, a reforma tributária, para que os investimentos voltem.

João Carlos comentou, ainda, que o problema é mais político do que econômico, ao se referir às necessidades da melhora da infraestrutura, apontada como o grande problema, que afeta até 25% do agronegócio, somado ao custo Brasil. “Temos que investir muito em infraestrutura e logística. O mercado internacional está muito mais atento do que nós imaginamos; há o setor da produção agrícola que está muito ciente. O governo chinês está acompanhando, tanto que já voltou a comprar a carne. Estamos no caminho sim, e a Agrishow é um exemplo disso”, salientou o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Fábio Meirelles.

Soluções embarcadas nos veículos agrícolas surpreenderam o públicoEssa realidade já começa se refletir nos negócios, tanto que logo no primeiro dia de feira, o Banco do Brasil anunciou que acolheu R$ 77 milhões em operações de crédito. O montante representa crescimento de 120% na comparação ao valor registrado em 2016 — nos dois primeiros dias foram mais de R$ 226 milhões, 77% a mais do que no ano passado. O Banco ainda estima liberar R$ 3 bilhões em soluções voltadas ao financiamento de máquinas e equipamentos para os visitantes da Agrishow.

Além disso, o banco estatal lançou na abertura da Feira o programa “Investimento Agro Digital”, uma funcionalidade que permitirá aos clientes enviarem propostas de financiamento para aquisição de máquinas, equipamentos e veículos destinados à produção agropecuária. “É um momento de ruptura, de mostrar que os bancos, com a vinda da transformação digital, têm obrigação de se adaptar a esses novos tempos, que vão trazer comodidade e conveniência aos nossos clientes”, disse o presidente do banco, Paulo Cafarelli.

Expectativa pelo Plano Safra

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), também esteve presente na abertura da Feira, e salientou que a principal preocupação da pasta é com a renda dos agricultores — importantes fontes de informação sobre o campo que podem abandoná-lo se não houver mudanças. 

Políticos e empresários aproveitaram a Feira para conhecer novas tecnologiasEntre as preocupações do ministro da Agricultura estão as negociações com o Ministério da Fazenda e com o Banco Central (BC) sobre as taxas de juros propostas no Plano Safra 2017/18, que o ministro espera que seja lançado ainda em maio. Tanto o Ministério, quanto o BC planejam uma taxa de juros similar ao último Plano Safra, variando entre 9,5% e 12,75%. “Estamos discutindo em Brasília com o ministro Henrique Meirelles e devemos buscar uma solução esta semana, mas a grande divergência que temos é a taxa de juros real, que deve ficar entre 6% e 5% ao produtor rural, que é muito diferente do que a Agricultura quer. Não posso deixar os agricultores sem ter renda. Não posso permitir que saiam do campo e levem o seu conhecimento”, enfatizou Maggi, que ainda afirmou que os recursos para o Plano Safra devem superar R$ 200 bilhões.

Após reunião com a Abimaq na última quarta-feira, dia 3 de maio, o secretário de Política Agrícola, Neri Geller, afirmou que o ministério descarta a possibilidade de juros variável, e espera por definir que a taxa cobrada dos produtores fiquem entre 2% e 3,5%, acima da meta da inflação, que para este ano é de 4,4%, de acordo com o Banco Central.

Política na feira

No dia seguinte da divulgação dos números de mais uma pesquisa Datafolha para as eleições presidenciais de 2018, Ribeirão Preto recebeu no primeiro dia da Agrishow dois potenciais candidatos à presidência da República, os tucanos Geraldo Alckmin, governador do estado de São Paulo, e o prefeito da Capital, João Doria, que comentaram a pesquisa e o futuro pleito. 

Enquanto Alckmin seguiu na toada do ex-presidente Fernando Henrique, de que pesquisa eleitoral é um “retrato do passado”, Doria ponderou que está muito cedo para projeções, e afirmou que pesquisa não elege ninguém. “É muito cedo, ainda. Muita gente comemorou pesquisa antes da hora, mas amargou derrota”, afirmou o prefeito de São Paulo, que na pesquisa Datafolha, aparece com 9% das intenções de voto, enquanto Alckmin foi lembrado por apenas 6% do eleitorado, e minimizou o resultado da projeção: “Pesquisa eleitoral é um retrato do passado, e o Doria acabou de sair de uma eleição, então é normal essa vantagem. Se ele for candidato, será um grande nome do partidEstrutura da Agrishow 2017o”, comentou o governador.

Se para Alckmin a eleição é assunto para 2018, para os outros políticos presentes na abertura da Agrishow o pleito já começou, e com muitos elogios ao governador paulista. O deputado federal Nilson Leitão (PSDB), presidente da Frente Parlamentar de Agropecuária, disse em seu discurso que ele é “motivo de orgulho pela forma simples de fazer política”. Ele ainda criticou as manifestações que ocorreram na última semana contra as reformas e afirmou que é preciso aproveitar que Temer não está preocupado com a popularidade para que as reformas sejam feitas.
Já o secretário estadual de Meio Ambiente, Arnaldo Jardim, disse que o governador é “uma pessoa necessária para o Brasil”, e também criticou as manifestações, afirmando que só ocorreram por parte de quem “não queria trabalhar e emendou o feriado”. 

Outro que criticou a greve geral do dia 28 de abril foi Doria, que fez uma alusão ao 1º de maio: “Mais do que agronegócio, a Agrishow é tecnologia e inovação. O Brasil que trabalha, que gosta de trabalhar, não fica protestando, fazendo greve. Pelo contrário, hoje é 1º de maio, e estamos aqui trabalhando”, concluiu o prefeito paulistano.

Mais diálogo e ‘Robin Hood às avessas’

Já o governador, foi mais prudente, e disse que a solução para que as reformas sejam aprovadas sem um caos popular ocorrerá a partir da conversa e de uma boa explicação sobre os fatos. “O Governo Federal precisa convencer a população da necessidade das mudanças. Convencendo a população, ele convence os deputados, que são os seus representantes e, para isso, o presidente Michel Temer tem que conversar mais com a população esclarecer”, comentou o Alckmin, que apontou que a população menos favorecida acaba pagando as grandes aposentadorias de alguns servidores públicos, como se fosse um Robin Hood às avessas: ao invés de tirar dos ricos e dar aos pobres, tira dos pobres para dar aos mais afortunados.

O presidente do novo biênio

Francisco Matturro será o presidente da Agrishow no próximo biênioRealizadores da Agrishow (Abag – Associação Brasileira do Agronegócio, Abimaq – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, Anda – Associação Nacional para Difusão de Adubos, Faesp – Federação da Agricultura e da Pecuária do Estado de São Paulo e SRB - Sociedade Rural Brasileira) anunciaram, no dia 3 de maio, a presidência da Agrishow para o próximo biênio. Francisco Matturro, vice-presidente da Abag, é quem ficará à frente da Feira nas edições 2018 e 2019, ocupando o cago, que até o final da edição 2017 pertence ao presidente da Faesp, Fabio Meirelles, que assumiu a Agrishow em 2015. Em seu discurso, Matturro destacou o compromisso em continuar a gestão realizada por Meirelles e afirmou que exercerá a função com grande responsabilidade. “Estou presente desde a primeira edição e garanto que é uma missão muito importante, que exige muito trabalho e esforço. Ao mesmo tempo, é uma satisfação estar nesta correria porque representa o desenvolvimento, a tecnologia e a pujança do agronegócio brasileiro”, disse. “Agradeço ainda a confiança das entidades realizadoras”, afirmou o vice-presidente da Abag. 


Foto: Luiz Cervi; Marcelo S. Camargo/Governo São Paulo, Rubens Okano e MAPA

Compartilhar: