2016: No alvo da administração pública

2016: No alvo da administração pública

Em um dos mais emblemáticos fatos políticos de Ribeirão Preto, a Sevandija, um caderno especial da Revide pontuou todas as etapas da operação da Polícia Federal e do Gaeco

A Operação Sevandija, uma das maiores e mais importantes ações da Polícia Federal em conjunto com o Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo, apurou e identificou fraudes a licitações, peculato, corrupção ativa e passiva e tráfico de influências em órgãos da Prefeitura de Ribeirão Preto, em 2016. As ações somaram o desvio de mais de R$ 200 milhões e  movimentaram a imprensa da cidade e da região. 

Nesta operação, a Revide — que retrata momentos relevantes na história da cidade, expressando em suas páginas a realidade ribeirãopretana em diversos aspectos, entre eles, o político — participou ativamente da coleta e da divulgação de notícias para detalhar em um caderno especial, nas versões impressa e on-line, as prisões realizadas e seus desdobramentos. 

 O promotor Leonardo Romanelli, um dos responsáveis pelas detenções dos envolvidos, acredita que a imprensa teve papel fundamental para os devidos esclarecimentos no caso da Operação Sevandija. “A imprensa, atuando de forma imparcial e equilibrada, tem papel muito importante em aperfeiçoar nossa democracia, jogando luzes sobre os desvios de condutas dos agentes públicos”, comenta Romanelli.

Romanelli destaca a participação efetiva da imprensa no esclarecimento dos fatos à população

À época, o nome da ação foi criado em alusão a parasitas e vermes, fazendo uma referência às “pessoas que vivem à custa alheia”. Foram realizadas 48 buscas e apreensões na Prefeitura, Câmara Municipal, Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto (Coderp), Departamento de Água e Esgotos de Ribeirão Preto (Daerp), empresas e secretarias municipais. Nove vereadores foram investigados, afastados e presos: o presidente da Câmara, Walter Gomes (PTB); Giló (PTB); Cícero Gomes (PMDB); Samuel Zanferdini (PSD); Bebé (PSD); Maurílio Romano (PP); Capela Novas (PPS); Genivaldo Gomes (PSD) e Saulo Rodrigues (PRB), além dos agentes públicos que foram proibidos de entrar na Câmara e em outras repartições. 

As investigações trouxeram à tona o desvio de mais de R$ 200 milhões e a terceirização de servidores por meio da empresa Atmosphera, que chegou a ter 700 funcionários contratados para prestar serviços à Prefeitura.  Além disso, apuraram o desvio de pagamentos a advogados que defenderam servidores municipais na ação que resultou no parcelamento dos 28,35% não recebidos em decorrência do Plano Collor. 

Entre os presos na Operação Sevandija, estiveram também dois secretários municipais, o da Educação, Ângelo Invernizzi Lopes, e o superintendente do Daerp, Marco Antonio dos Santos, além da secretária-adjunta da Casa Civil, Maria Zuely Alves Librandi. Os servidores que também tiveram prisão temporária decretada foram o diretor técnico do Daerp, Luiz Alberto Mantilla Rodrigues — sua filha, Julia Mantilla, também detida, já que administra uma empresa o pai, em Santos — e Maria Lucia Pandolfo, diretora na Coderp.

Neste sábado, 1º de setembro, a Sevandija completa dois anos. O promotor confirma encerradas as investigações e as denúncias no caso da fraude das catracas, tendo sido desencadeados dois processos por lavagem de dinheiro, em 2018, e aponta que  restam apenas situações pontuais, as quais miram, sobretudo, segundo ele, à recuperação do montante, ou seja, desvendar, ainda mais, os destinos dos valores desviados dos cofres públicos. “É gratificante perceber o envolvimento da sociedade local, primeira parceira e destinatária final do trabalho. Quando o interesse da população se intensifica sobre as questões da administração, também se acentua seu conhecimento e, assim, sua capacidade de fiscalizar as condutas e os afazeres dos agentes públicos, o que pode levar a um ciclo virtuoso, de incremento da cidadania”, argumenta Romanelli. 

Investigações prosseguem para descobrir o destino dos recursos desviados

Para o promotor, o julgamento sobre o legado da operação fica a cargo da própria sociedade e dos historiadores. “Nossa esperança e expectativa, enquanto cidadãos, é a de que esse esforço sirva como um alerta positivo a respeito das consequências e das respostas que os maus administradores devem esperar em caso de desviarem suas condutas, tanto da Justiça, como da própria sociedade”, conclui. 

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