Além do horizonte

Além do horizonte

À medida que a vacinação avança, sonho com a volta à normalidade se torna mais próximo de ser realizado pelos ribeirãopretanos

TEXTO: PAULA ZULIANI 

Quem acompanha as notícias relacionadas à Covid-19 no Brasil já notou a diferença nas estatísticas. Dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa nas últimas semanas mostram queda, tanto no número de novos casos confirmados, quanto no número de óbitos. No balanço divulgado no dia 11 de julho, a média móvel de novos casos estava em 45.701 por dia, a mais baixa registrada desde 19 de fevereiro deste ano. Comparando com os índices apresentados na semana do dia 27 de junho, houve uma redução de 33%. A média móvel de mortes caiu 20% no mesmo período, chegando a 1.296 por dia. A taxa de ocupação dos leitos exclusivos para o atendimento a pacientes infectados pelo vírus, nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e nas enfermarias, também vem diminuindo. Em Ribeirão Preto, os indicadores, que ficaram por muito tempo acima dos 80%, estão em 71% e 64%, respectivamente. 

O resultado está diretamente associado ao avanço do plano de imunização. Na cidade, até o fechamento desta reportagem, o Vacinômetro contabilizava 428.476 pessoas vacinadas, sendo 312.073 com a primeira dose, 102.094 com a segunda dose e 14.309 com dose única. A esperança de vencer essa árdua batalha ganha ainda mais força quando olhamos países que priorizaram a imunização e, hoje, colhem os frutos. É o caso dos Estados Unidos. Em Nova Iorque, onde mais de 70% da população adulta já está imunizada, o governo decretou o fim das medidas restritivas. Desde o dia 15 de junho, o uso de máscaras e o distanciamento social deixaram de ser obrigatórios em comércios e espaços públicos para quem já foi imunizado. Houve até uma queima de fogos especial para celebrar o fato de que, por lá, a vida praticamente voltou ao normal — ainda que, em razão de norte-americanos que recusaram a vacinação, os índices de casos tenham subido novamente nos últimos dias. 

As informações citadas acima criam, de fato, um cenário animador, mas, para garantir que o controle da pandemia seja uma realidade por aqui, a população não pode se precipitar. Quem faz o alerta é a infectologista do Hospital Ribeirânia Dra. Maria Rita Margarido Chaparim. “A imunização da população acima de 18 anos é, sem dúvidas, a medida mais importante para o controle da pandemia, como já nos mostrou a experiência de outros países. Hoje, o Brasil possui uma taxa de vacinação completa (isto é, todas as doses necessárias para a imunização aplicadas) de 12,1%, um percentual considerado baixo para pensarmos em acabar com as restrições. A maioria da população está suscetível a contrair o vírus e apresentar manifestações mais graves da doença. Portanto, existe o risco de uma nova onda de contaminação. Além disso, temos que nos preocupar com as variantes. Até o momento, os estudos mostram que as vacinas disponíveis são eficientes na prevenção dessas cepas, porém, o cenário pode mudar com o surgimento de outras variantes. Para vislumbramos o controle da pandemia e reconquistarmos a nossa liberdade, pelo menos por enquanto, o distanciamento social, o uso da máscara e a higienização correta das mãos continuam essenciais”, explica a especialista. 

Sonhos e planos estão liberados 

Após tanto tempo de medo e de privações, a doutora em Ciências com ênfase em Psicobiologia e especialista em clínica analíticocomportamental Sara Tamiris Cirilo Fernandes, que atua como docente no curso de graduação em Psicologia e na pós-graduação de Saúde Mental na Unaerp, reconhece que é difícil segurar a ansiedade, especialmente nessa etapa, em que os resultados da vacinação começam a aparecer e o retorno à normalidade se mostra mais próximo. “Atualmente, vivenciamos um momento que todos aguardavam: o número de novos casos, de internações e de óbitos vem caindo. A esperança, a alegria e a motivação diante dessas conquistas são legítimas, mas esses sentimentos não podem se sobressair à responsabilidade, tanto individual, quanto coletiva. A pandemia não acabou. Precisamos ter cautela porque as concessões que fizermos agora, mesmo que pequenas, podem nos levar a uma regressão no quadro. É hora de se planejar, de repensar os sonhos que foram pausados e traçar novos projetos. Para evitar frustrações, o recomendado é focar em planos mais acessíveis, que possam ser realizados de forma gradual. Adotando essa postura prudente, agora e no período pós-pandemia, mantemos a nossa segurança — e de várias outras pessoas —, a nossa qualidade de vida e a nossa saúde mental em dia”, finaliza. 

“Quando tudo isso acabar, eu vou...” 

O jornalista Rodrigo de Souza Pinto tem seguido os cuidados que as autoridades sanitárias e de saúde recomendam. Ainda em março de 2020, a Conceito Comunicação, agência de assessoria de imprensa e relações públicas da qual é sócio, passou a trabalhar no formato home office. “As saídas para a rua ficaram restritas, voltadas para fazer o básico, como compras, atividades físicas ao ar livre e alguns compromissos profissionais que voltaram a ser presenciais, sempre com o uso adequado da máscara, cumprindo o distanciamento social e higienizando as mãos com álcool em gel”, revela. Por meses, Rodrigo só comia o que cozinhava. Depois, começou a pedir comida por aplicativo. Hoje, com pouca frequência, já sai para comer em um restaurante, evitando lugares muito cheios. “Com o decorrer dos meses, fui me adaptando às recomendações, que também evoluíram. Acredito que, mesmo com as flexibilizações, todo o cuidado trazido pela pandemia já faz parte do nosso dia a dia. São hábitos e atitudes que vão perdurar”, acrescenta. 

Vacinado no dia 25 de junho e com a segunda dose agendada para setembro, ele concorda que o avanço da imunização reforça o sentimento de esperança e otimismo. “As nossas timelines das redes sociais vão sendo tomadas por fotos de pessoas com seus comprovantes de vacinação, homenageando o SUS e desejando dias melhores para todos. Essa evolução coletiva faz a diferença”, afirma. Questionado sobre os planos para o período pós-Covid-19, ele comenta. “Quero voltar a abraçar as pessoas. Fazer coisas com o maior número de amigos e familiares possível. Ir a festas, shows, viajar, voltar a jogar futebol. Essa pergunta me faz lembrar de um poema que li durante a pandemia, de uma jovem escritora argentina, Cecilia Pavón. O poema se chama ‘Desejo’ e foi publicado no Brasil em 2019, pela editora Jabuticaba. Ele termina mais ou menos assim: ‘Meu corpo está em estado de alerta, poderia usar muitos verbos para descrevê-lo, paredes que se levantam e são povoadas por espécies de heras mentais. É outono, lamento que o inverno se aproxime. Sinto que me devem um verão’”, finaliza Rodrigo. 

Abraçar os amigos e os familiares também é o desejo da arquiteta Ana Carolina Barreto Ribeiro Bellissimo. “Faz parte da nossa cultura: expressar o carinho com contato físico. Ter que manter a distância de quem amamos é muito doloroso. O que mais quero é estar com a minha família e os meus amigos, fazer uma viagem, para sair dessa bolha que fomos obrigados a criar. No início da pandemia, não abraçava nem os meus pais. Agora que os dois estão vacinados e eu tomei a primeira dose, temos, aos poucos, minimizado essa saudade que estava acumulada, sempre com todo o cuidado. Espero que todos tenham essa oportunidade de receber o imunizante o quanto antes. Está sendo um momento de repensar nossos hábitos e nossas atitudes. Temos que ponderar as consequências das nossas decisões antes de agir. A verdade é que a Covid-19 escancarou nossa fragilidade. Não sabemos como será o dia de amanhã”, reflete. 

Ana Carolina teve sua vida diretamente afetada pela pandemia já que o marido, Everson, foi infectado pelo vírus. “Ele ficou internado e travou uma batalha intensa contra a doença. Em meio às incertezas, reuni minhas forças e tentei me manter o mais confiante possível. Felizmente, saímos vitoriosos. Porém, tudo o que passamos me deixou bem mais retraída. Entendi que o perigo era real e que as pessoas pareciam não dar a devida importância para o assunto. A situação também refletiu no emocional da minha filha, Maria Clara, que, com seis anos e tendo que processar tantas mudanças, não se sentia confortável em sair de casa. Esse é um capítulo desafiador na nossa história, mas quero acreditar que o pior ficou para trás. Que a lição tenha sido aprendida para que possamos voltar a viver plenamente”, ressalta. 

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