Alternativa ao Aquífero Guarani

Alternativa ao Aquífero Guarani

Para abastecer toda a população de Ribeirão Preto, a Prefeitura investe em redução de desperdício, além de estudar a possibilidade de uso da água do Rio Pardo em longo prazo

Texto: Loreta Fagionato 

Há cinco anos, uma polêmica foi palco do segundo turno das eleições municipais em Ribeirão Preto. O então candidato – e atual prefeito – Duarte Nogueira (PSDB) defendeu a construção de uma Estação de Tratamento de Água no Rio Pardo para desafogar o Aquífero Guarani e garantir o abastecimento da cidade. Em 2013, um estudo da Agência Nacional de Águas (ANA) já alertava que o município precisaria adotar um manancial para o abastecimento, pois o aquífero não atenderia à demanda por muito tempo. A recomendação feita foi, justamente, o uso da água do rio.

O projeto, entretanto, tem um custo milionário. Quando foi apresentado ao Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (Daerp), em 2013, foi previsto um investimento de aproximadamente R$ 324,4 milhões. Agora, Ribeirão chega a 720 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda sem uma nova alternativa de captação de água.

O que tem sido feito para evitar que o recurso hídrico falte na cidade nos próximos anos? De acordo com a Prefeitura, o Daerp informou que o município não corre risco de enfrentar, neste momento, uma crise hídrica. “Apesar da cidade ser abastecida através do aquífero, é necessário que se faça um planejamento para o futuro, a fim de garantir o abastecimento de água para a população. Para isso, o Daerp priorizou, nos últimos quatro anos e meio, os programas de redução de perdas, com o objetivo de diminuir em 50% as perdas totais de água da cidade”, explicou a Prefeitura, em nota.

Sobre a criação da estação no Rio Pardo, discutida por Nogueira nas eleições de 2016, o governo municipal diz que são necessários investimentos para a contratação do projeto. “Neste momento, a autarquia prioriza o programa de redução e perdas e aguarda a autorização do Ministério de Desenvolvimento Regional para iniciar o projeto básico e ambiental do Rio Pardo”, esclarece.

O Rio Pardo é apontado como uma boa alternativa

Como toda a água que abastece Ribeirão Preto vem do aquífero, um problema que o município enfrenta são os vazamentos subterrâneos. Para melhorar a captação e evitar o desperdício, a Prefeitura informou que tem feito obras para a aprimorar a distribuição do recurso hídrico.

“No programa de Gestão, Controle e Redução de Perdas de Água e Eficiência Energética, implantado desde 2018, uma das principais ações é a setorização do abastecimento, com a criação de 56 novos setores na cidade. Para isso, estão sendo implantados 65 quilômetros de adutoras e 250 válvulas de fechamento de setores; construção de 17 novos reservatórios, com capacidade para 23,3 milhões de litros; perfuração de um novo poço e recuperação de outros nove. Hoje, a maior parte do abastecimento, 65%, é feita em marcha. Ou seja, segue do poço direto para os imóveis. Apenas 30% do volume captado vai para reservatório. Com a conclusão das obras, 100% da produção irá para os reservatórios e deles, para a rede de distribuição, o que permitirá a gestão da vazão e a redução da pressão, diminuindo vazamentos”, diz a nota.

A Prefeitura também vai combater ligações clandestinas e contratou uma empresa para identificar vazamentos subterrâneos. “Além da produção e da distribuição, o programa prevê a implantação dos Distritos de Medição e Controle, implantação do Centro de Controle Operacional e a implantação de um programa caça-fraudes, para encontrar e eliminar ligações clandestinas e fraudes em hidrômetros. Uma empresa contratada já faz a pesquisa e reparos de vazamentos não-visíveis, porque provocam perdas maiores que os vazamentos aparentes, uma vez que duram muito mais tempo, por estarem invisíveis”, conclui.

Combate ao desperdício 

O vereador e presidente da comissão de Meio Ambiente da Câmara de Ribeirão Preto, Marcos Papa, afirma que a prioridade da Prefeitura, neste momento, é acertada. “É muito importante buscar alternativas de abastecimento, mas a administração priorizou o combate ao desperdício, o que é um acerto. Hoje, 55% da água captada em Ribeirão é desperdiçada. Há pouco tempo, era 60%. Conseguimos isso através de um balanço hídrico. O Ministério Público exigiu que a Prefeitura colocasse macromedidores nos poços de captação para conferir o desperdício. O aquífero não está dando conta, estamos captando seis vezes mais do que ele é capaz de recompor”, ressalta.

 “A administração priorizou o combate ao desperdício, o que é um acerto”, afirma Papa

Ainda segundo o vereador, existe esse desperdício “monumental” na cidade porque o sistema de abastecimento não é funcional. “Desde os incas e os maias, a humanidade usa a lei da gravidade para distribuir água, mas Ribeirão Preto usa o sistema a montante, com pressão e bombeamento de água direto na torneira. Isso causa vazamento, pois o bombeamento estoura a rede e provoca um prejuízo enorme. Agora, a Prefeitura fez reformas e construiu novos reservatórios, o que vai inverter esse sistema de abastecimento e a tendência é o balanço hídrico melhorar”, destaca.

Se o desperdício continuar alto mesmo depois de todos esses ajustes, Papa comenta que a captação de água em um manancial será necessária. “Mas, a Prefeitura pode tomar algumas medidas antes de construir a Estação de Tratamento de Água, porque é um gasto milionário. São quatro medidas básicas: combater o desperdício, até chegar a 10%, que é a média aceitável; criar um sistema de captação e distribuição de água de reuso; recomposição das matas ciliares dos cursos de água; e o processo de educação ambiental da população. A estação, em um futuro próximo, será necessária, em cerca de dez anos”, finaliza o vereador.

Aquífero em risco

Para o doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento e professor da Unaerp, Luciano Faria de Novaes, o Aquífero Guarani está em risco. “Diversos estudos vêm mostrando que o nível do reservatório diminui ao longo do tempo. Na prática, está sendo retirada mais água que a sua capacidade de recarga. O crescimento populacional e o desenvolvimento econômico na região aumentam a demanda. Assim, torna-se essencial realizar estudos para viabilizar outras fontes alternativas de abastecimento”, pontua.

Novaes explica que a construção de uma estação no manancial exigirá altos investimentos

De acordo com Novaes, a captação de água do Rio Pardo é viável. “No entanto, devido aos custos das obras, há a necessidade de se buscar recursos financeiros para a sua execução, pois não se trata apenas de uma Estação de Tratamento de Água, mas também de uma captação (incluindo infraestruturas civis, elétricas, hidráulicas e eletromecânicas), bem como das tubulações (adutoras de água bruta) para realizar o recalque do rio até o tratamento. Também serão necessários investimentos para implantar adutoras de água tratada e Estações Elevatórias de Água Tratada, interligando a estação de tratamento até os centros de reserva, que realizam a distribuição de água no município. Essas obras possuem valores financeiros elevados. Os investimentos serão significativos”, adianta o professor. Além disso, Novaes informou que a estação de tratamento no rio vai precisar de tecnologia para garantir a qualidade da água tratada. “A água subterrânea do aquífero possui melhor qualidade. A estação deverá ser projetada para realizar um tratamento mais complexo para deixar a água potável”, encerra. 

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