Contribuição agronômica

Contribuição agronômica

Novas tecnologias e inovações marcam a evolução do Instituto Agronômico de Campinas em 130 anos de história, período suficiente para a criação de mais de mil cultivares de quase 100 espécies

Edifício Dom Pedro II, primeira sede do IAC e patrimônio histórico de CampinasPromover a inovação tecnológica, alicerçada na redução da distância entre a pesquisa e a produção no campo, é uma das principais metas do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA). Criado por Dom Pedro II, em 1887, o instituto contribui para a ampliação do conhecimento científico na agronomia básica e aplicada, com resultados adotados em diversos estados do Brasil e também em outros países. Em 130 anos de história, foram desenvolvidas 1.060 cultivares de 99 espécies, sendo 735 dessas variedades registradas e outras 28 protegidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Tem sido assim em várias áreas: a adaptação da fruticultura às condições tropicais foi possível graças às pesquisas; o feijão Carioca, mais consumido no Brasil, foi desenvolvido pelo IAC; a consolidação de métodos de análise de solos também é resultado do trabalho do Instituto. Atualmente, são atendidos 136 laboratórios no Brasil e no exterior, sendo a maior parte, de iniciativa privada. Os locais especializados em pesquisas seguem o sistema IAC e têm suas análises verificadas pelo Instituto. Há inúmeros resultados refletidos, também, na produção de café, citros, frutas, seringueira, flores, hortaliças, agrometeorologia, fitossanidade, tecnologia de aplicação de agroquímicos e outras.

“O Instituto está presente em todos os setores do Estado e trata de todas as culturas”, aponta CarbonellOs Centros de Pesquisa do IAC, com suas diferentes atribuições e linhas de atuação, visam ao cumprimento da missão institucional. Atualmente, 240 projetos de pesquisa estão em andamento em 12 unidades, localizadas em Campinas, Cordeirópolis, Jundiaí, Ribeirão Preto e Votuporanga — Centros de Café; de Cana; de Citros; de Ecofisiologia e Biofísica; de Engenharia e Automação; de Fitossanidade; de Frutas; de Horticultura; de Grãos e Fibras; de Seringueira e Sistemas Agroflorestais; de Solos e Recursos Ambientais e de Recursos Genéticos Vegetais.

De acordo com o diretor-geral do IAC, Sérgio Augusto Morais Carbonell, a principal atuação da instituição está relacionada ao melhoramento genético vegetal. Os projetos de pesquisa e de desenvolvimento estão alicerçados em cinco áreas estratégicas: Bioenergia, Desenvolvimento de Produtos e Processos Inovadores, Mudanças Climáticas, Segurança Alimentar e Sustentabilidade Ambiental. “Graças à ciência agronômica, aliada aos esforços dos profissionais do setor, o agro se tornou o principal negócio brasileiro. Em 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio correspondeu a 22% do PIB nacional. Para este ano, apesar da crise econômica e política enfrentada no país, o setor deve crescer 2%”, revela Carbonell.

Investimentos e avanços

Para seguir na vanguarda, o IAC deve receber, em 2017, cerca de R$ 6 milhões, considerando recursos de convênios com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep); com o Tesouro do Estado e com o Fundo Especial de Despesa, gerados por meio da transferência de produtos e de serviços. Os recursos serão investidos em infraestrutura de pesquisa. Há, ainda, valores provenientes de outras fontes, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), além de verba advinda de parcerias com a iniciativa privada. Até o momento, a soma alcança R$ 14 milhões. Os investimentos são essenciais para que o IAC continue desenvolvendo produtos capazes de gerar mais qualidade e produtividade no campo, mais resistentes a pragas e a doenças, o que, consequentemente, reduz o custo e o impacto ambiental. 

Segundo Carbonell, o trabalho do Instituto possibilitou a conquista de outros avanços, como o início da flexibilização proporcionado pela Lei Federal de Inovação e pelos dispositivos legais elaborados pela Secretaria. Tal conquista permitiu o estabelecimento de parcerias para levar as inovações geradas pelas pesquisas para o mercado. A flexibilização já chegou a seis unidades de pesquisa da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, pioneira no Estado ao organizar a legislação que normatiza a inovação e as parcerias público-privadas, por meio da Resolução nº 12, de 11 de março de 2016. 

A proposta para o IAC, daqui em diante, é focar nas áreas de alta eficiência e estabelecer parcerias com instituições de ensino e pesquisa, assim como com a iniciativa privada. “Precisamos somar expertises, laboratórios e capacidade profissional, permitindo compartilhar resultados e aproveitar melhor os recursos”, pontua o diretor geral. O principal objetivo do IAC é, segundo Carbonell, aproximar a ciência do dia a dia dos brasileiros, buscando resultados aplicáveis, que tragam para a sociedade o retorno esperado sobre a verba pública investida. “O conhecimento deverá gerar resultados cada vez melhores, especialmente no sentido de reduzir ao máximo os impactos ambientais gerados. Esta é uma das principais motivações da ciência agronômica”, reforça Carbonell. 

Números expressivos

Café Obatã Amarelo está entre os 67 cultivares desenvolvidos pelo Instituto• 24 variedades IAC de cana, desenvolvidas para o setor sucroenergético; o número representa 23% do total lançado no Brasil na última década.
• 500 toneladas de sementes genéticas são comercializadas por ano na área de grãos e fibras.
• 130 mil borbulhas (brotos) e 193 kg de sementes produzidas no setor de citros. 
• 15 mil diagnósticos para patógenos de citros realizados anualmente, com acreditação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).
• 4.300 análises de fertilizantes e de resíduos realizados no Laboratório de Análise Química de Fertilizantes e de Resíduos. 
• 24 mil amostras de solos examinadas no Laboratório de Fertilidade do Solo, em média, por ano.
• 5 mil amostras passam por ano pelo Laboratório de Física do Solo.
• 67 cultivares de café registradas no MAPA. 
• 30 mil avaliações anuais no Quarentenário IAC, materiais vindos de 40 países.

Tarde de premiações

Como parte das comemorações dos 130 anos, realizadas no dia 27 de junho, o Instituto Agronômico ofereceu o Prêmio IAC. Este ano, na 24ª edição, foram agraciados o pesquisador Mário José Pedro Júnior, que iniciou a carreira no IAC em 1973, nas áreas de agrometeorologia, bioclimatologia e climatologia agrícola; e Eliana Aparecida da Silva Ferreira, do Núcleo de Pessoal do Centro de Administração do IAC. Foram homenageados, também, Arnaldo Jardim, premiado na categoria externa, e Eduardo Vasconcellos Romão, presidente da Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul (Orplana), como Personalidade da Extensão Sucroalcooleira. As homenagens seguiram para a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), por seus 50 anos, e para o jornal Correio Popular, por seus 90 anos — ambos receberam a Medalha de Honra ao Mérito “Franz Wilhelm Dafert”.

Mais resistentes

O IAC lançou duas novas variedades de cana com alto desempenho, que começaram a ser desenvolvidas em 2001: a IACSP01-3127 e a IACSP01-5503. As duas apresentam ganhos agroindustriais de cerca de 15%, quando comparadas aos tipos mais cultivados no Centro-Sul do Brasil, como a RB867515. Outra característica positiva de ambas é o longo período de utilização industrial. A IACSP01-5503 é bastante rústica e muito competitiva em ambientes restritivos, caracterizados por solos de pequena capacidade de armazenamento de água e com baixa fertilidade natural. “Essa condição acontece em todas as regiões produtoras de cana, incluindo São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Paraná e Mato Grosso”, afirma o pesquisador e diretor do Centro de Cana do IAC, em Ribeirão Preto, Marcos Guimarães de Andrade Landell. Já a IACSP01-3127 é uma cana de alta performance em situações de manejo avançado, que inclui, por exemplo, o uso de vinhaça e outros resíduos orgânicos. Também viabiliza longo período de uso industrial, podendo ser colhida de maio a outubro. Ambas foram avaliadas nos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Tocantins. Além das novas cultivares, o Instituto lançou o Censo Varietal IAC de Cana na região Centro-Sul – Safra 2016/17, com informações sobre 241 unidades produtoras.

Investigação e inovação

Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, ressalta que o IAC deu origem não somente a novas variedades de plantas, mas, também, a novas maneiras de lidar com o campo, como com o manejo dos solos, estando à frente na busca por respostas a dilemas importantes para o agronegócio.

O que é a pesquisa para o setor agropecuário?
Ela é decisiva. O Brasil dobrou a sua produção agrícola nos últimos 20 anos e aumentou apenas 26% na área cultivada. Isso se deve à pesquisa e à inovação. O país tem, hoje, números surpreendentes, por exemplo, há 20 anos, plantávamos 5,6 milhões de hectares de café para colhermos 34 milhões de sacos. Agora, plantamos 2,6 milhões de hectares para colher 52 milhões de sacas. Isso é uma das demonstrações da produtividade, de como avançamos nesta e em todas as culturas.

Quais serão as necessidades futuras da agricultura?
A agricultura fez, definitivamente, uma escolha: a de ser harmônica com o meio ambiente. Então, as formas que incorporam a biotecnologia fazem com que nós, cada vez mais tenhamos que aumentar a produtividade e manter o respeito ao meio ambiente. Isso implica em tecnologia de solos, por exemplo, porque cuidar da terra de uma forma diferenciada, assim como da água, é uma exigência sob esse ponto de vista.

Ainda sobre o futuro, depois da revolução do plantio direto, qual é a novidade do setor?
Para mim, a grande novidade é a Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF). Por exemplo, no espaço onde temos a Agrishow, em Ribeirão Preto, uma área cedida pela Secretaria, temos 44 hectares para demonstrações permanentes, que atraem o público nos 365 dias do ano. Um espaço onde se pode conferir as diferentes tecnologias e integrações que caracterizam o conceito do ILPF. É por ai que a agricultura brasileira vai, cada vez mais, cumprir o seu papel: o de alimentar de grãos, de fibras e de energia o Brasil e também boa parte do mundo. 



Texto: Rose Rubini
Fotos: Ibraim Leão e arquivo IAC

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