Estratégias de recuperação

Estratégias de recuperação

Com perspectivas favoráveis para a recuperação da economia, especialistas colocam a retomada dos postos de emprego como uma das principais chaves para o término da crise

O empreendedor digital Victor Stábile acredita que os resultados de quatro projetos da empresa que fundou comecem a aparecer em 2017 e, por isso, aponta que as expectativas para este ano são excelentes para o negócio. Os quatro trabalhos em que ele está se dividindo são um jogo para celular, um chat de atendimento para empresas Gabriel acredita em uma recuperação mais gradual, porém com crescimento ao longo do anoe dois produtos de e-commerce, sendo um deles um marketplace. Mesmo com o otimismo, Victor ainda se coloca com os pés no chão quanto ao mercado e vislumbra situações positivas para o ano em razão das propostas e dos investimentos realizados anteriormente. “As perspectivas são excelentes, mas não por fatores externos do mercado. Nós acertamos algumas propostas no ano passado e os resultados estão começando a vir agora”, explica.

Esse perfil de positividade com relação aos negócios, entretanto com a cautela necessária em relação à situação econômica do país, é diagnosticada pelo Índice de Expectativa dos Empresários (IEE), da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp), que recuou em dezembro, com 54,8 pontos, na comparação com o resultado de setembro, que registrou 60,5 pontos. No entanto, o dado foi superior ao mês de dezembro de 2015, que apresentou o IEE mais baixo registrado pela Acirp, com 32,1 pontos. A pesquisa, que ouviu 303 empresários no município, apontou que 65,3% dos entrevistados acreditam que 2017 será melhor que 2016, mas 6,7% ainda não vê mudanças no panorama econômico.

O economista responsável pelo levantamento, Gabriel Couto, diz que essas informações ilustram o cenário de uma recuperação mais gradual, porém com crescimento ao longo do ano, que deve se consolidar a partir do segundo Nelson Augusto diz que o desemprego precisa assentar para, assim, acelerar o mercado semestre de 2017. “A recuperação deve começar tanto na região quanto no resto do país, mas será bastante lenta. Os números ainda são bastante modestos, mas existe um contraste com o que foi apresentado em 2015 e 2016, em que houve recessão”, avalia Gabriel.

Gabriel aponta que essa sobriedade dos empresários ocorre em razão dos números decepcionantes que a economia apresentou no segundo semestre de 2016, quando havia grande ansiedade por melhora do mercado brasileiro. “A partir do momento que passou o impeachment e a incerteza política, os empresários ficaram mais otimistas para o segundo semestre, mas os dados, mais uma vez, decepcionaram. Agora, as expectativas são de que 2017 será um ano melhor, mas o crescimento ainda não empolga”, alerta Gabriel.

O papel do agronegócio

O impacto positivo do agronegócio na economia da região, principalmente nas culturas da cana-de-açúcar e do café, é a aposta do presidente do Banco Ribeirão Preto (BRP), Nelson Rocha Augusto para os resultados positivos no mercado e no bolso dos brasileiros, em especial dos ribeirão-pretanos, neste ano.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de grãos pode registrar safra recorde, com 215,3 milhões de toneladas colhidas, ante 186,7 milhões da safra anterior. Já a produção de cana-de-açúcar pode chegar a 605 milhões de toneladas colhidas na região centro-sul do país, porém, com preços competitivos para o açúcar refinado e para o etanol, tanto o hidratado quanto o anidro. “O país pode recolher a maior safra de grãos de todos os tempos, claro que dependendo das condições climáticas. O café terá uma produção relevante também e isso impacta bastante na região do norte do Estado de São Paulo e no sul de Minas Gerais, que influenciam na região de Ribeirão Preto. A cana-de-açúcar teve resultado operacional muito positivo em 2016. O setor acumulou problemas anteriormente, mas este ano ganhará muito. O balanço da safra é apenas em abril, porém os preços do açúcar e do etanol estão muito bons”, analisa Nelson Augusto.

A parte que cabe às indústrias
Em2017, o setor sucroenergético deve encontrar preços competitivos nas vendas do etanol e do açúcar
O presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (CeiseBr), Aparecido Luiz, diz que toda a cadeia produtiva do setor sucroenergético têm boas perspectivas para 2017. Além da produção da matéria-prima, o setor envolve a indústria de base, como usinas e metalúrgicas, predominantes em Sertãozinho. “Estamos vislumbrando um cenário positivo. Sentimos o esforço do Governo Federal em criar políticas claras de longo prazo para o setor. Também observamos uma crescente demanda mundial pelas produções de etanol, açúcar e energia limpa e renovável”, afirma o empresário, que espera se aproximar ainda mais dos governos para inserir nas pautas de investimentos do Estado e da União as reinvindicações desse ramo, como, por exemplo, a diminuição da influência da gasolina no valor cobrado pelo etanol.

Emprego: o breque da economia

O aumento pela procura do produto da PagPop demonstra que muitas pessoas estão investindo no negócio próprioMesmo com os olhares positivos, o desemprego ainda é o principal obstáculo a ser superado, o que não deve ocorrer nos primeiros meses do ano, como relata Gabriel Couto. De acordo com o economista, o problema ainda cresce no país e na região, afetando a chave para a recuperação de Ribeirão Preto. Na cidade, o comércio, representativo segmento da economia, sofre com a queda da demanda e o consequente desemprego. 

De janeiro a novembro de 2016, meses em que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, está atualizado com informações de Ribeirão Preto, os dados apontam que, no último ano, foram extinguidos 1.604 postos de trabalho formais no município. No país, são mais de 12,5 milhões de pessoas desocupadas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “A volta do emprego costuma ser a última variável a se recuperar em momentos de recessão. Para o primeiro semestre, é difícil que isso aconteça. Acredito que, se ocorrer, será a partir da segunda metade do ano, porém, antes disso, é preciso que as empresas parem de demitir e eliminar vagas para que se dê início ao ciclo de contratações”, avalia o economista.

Aparecido Luiz: “Sentimos o esforço do Governo Federal em criar políticas claras de longo prazo para o setor”Nelson Augusto concorda com Gabriel, recordando que os únicos ramos que criaram empregos no último ano foram o da educação e o da saúde. Ele ainda diz que o desemprego precisa assentar para, assim, acelerar o mercado e tirar a angústia que atormenta milhares de famílias no país. “Os empregos estão em uma situação que chamamos de ‘curva J’. Mesmo com os ajustes econômicos do governo, tem uma insegurança, ainda. O empresário não está pensando nos políticos que estão nos cargos, mas está pensando em quem está na equipe econômica. Isso faz com que os investimentos sejam postergados. Ainda há um ajuste forte a ser feito, então, a geração de empregos cairá ainda mais para depois subir. Claro que não cairá na mesma velocidade, mas haverá uma diminuição. Além dos outros setores, como indústria, comércio, serviços e construção civil, o mais afetado será o serviço público”, pontua o presidente do Banco Ribeirão Preto.

Nelson está reticente com os anúncios feitos por prefeitos do Brasil afora de que é necessário cortar cargos na máquina pública, pois essa estratégica agrava ainda mais o desemprego. Ele atenta para o fato de que a maioria dos cortes atingiu ou atingirá cargos em comissão. Em Ribeirão Preto, o prefeito Duarte Nogueira (PSDB) determinou que esses postos sejam diminuídos em 20%, já em São Paulo, João Doria, do mesmo partido, determinou cortes de 40% dos cargos, por exemplo. Nelson acredita que a medida afeta diretamente o comércio, considerado um dos pilares para a recuperação. “Geralmente, no começo de ano, já se vende menos, com isso, a piora nas vendas é maior”, salienta.

Saídas para a crise

De acordo com Márcio, as pessoas já estão se movimentando para ativar o lado empreendedor, que aflora em momentos de criseCom a diminuição das vagas de carteira registrada no mercado, surge um contingente de pessoas que apela pela informalidade e pelos empregos autônomos para não ficar parado na crise e poder sustentar a família. Assim, despontam novos empreendedores e também caminhos para a inovação. É nisso que aposta o fundador e CEO do PagPop, serviço de recebimentos por cartão de crédito diretamente pelo celular, Márcio Campos. “O ano de 2016 foi bastante preocupante, mas as pessoas já estão se movimentando para ativar o lado empreendedor, que aflora em momentos de crise. Quem perde o emprego formal busca alternativas e procura novos serviços, e é daí que vem a tendência de melhora. No ano passado, muitas pessoas investiram no próprio negócio e procuraram o nosso produto, que atende a diversos tipos de empresários. Há um crescimento dos serviços autônomos”, destaca Márcio.

A Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) identificou que o pequeno e médio empresário paulista pretende investir mais em inovação em 2017. Segundo o estudo, 80% dos empresários têm a intenção de ampliar o investimento neste segmento este ano. Outros 16% disseram que pretendem investir nos próximos três anos e apenas 4% não planejam investir. Em Ribeirão Preto, a Agência desembolsou, em 2016, R$ 21,3 milhões em financiamentos, valor 13% superior ao liberado em 2015, tendo os valores aportados em inovação saltado de R$ 1,9 milhão para R$ 5,8 milhões, triplicando os financiamentos. “Em tempos de crise econômica, a busca por recursos para capital de giro costuma ser grande. Na região, os empresários se mostraram mais planejados e confiantes para inovar, expandir e modernizar seus negócios”, aponta o presidente da agência, Milton Luiz de Melo Santos.

O fundador do PagPop diz que a empresa sentiu muito os reflexos a crise no ano passado. A recessão econômica permeou os negócios, já que ele atende principalmente quem atua na prestação de serviços e no comércio, mas Márcio acredita que 2017 será melhor porque as pessoas querem dinheiro, precisam consumir e encontrar soluções para sair da crise. Não há outro caminho. “Entendemos que a movimentação da economia deve aumentar com a estabilidade política e econômica. As pessoas precisam de dinheiro e o mundo tem que continuar, por isso, a tendência é que a economia cresça”, projeta Márcio. 

Texto: Leonardo Santos
Fotos: Júlio Sian

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