Influentes na história

Influentes na história

Na agricultura, no empreendedorismo, no comércio, na cultura, na educação e na arte: a cidade seguiu a trajetória traçada por diversas personalidades

Texto: Luiza Meirelles
Fotos: Julio Sian e Arquivo Público e Histórico
de Ribeirão Preto (Casa da Memória)

Apesar de seu conceito subjetivo — que sugere o exercício de poder sobre o outro, em variadas facetas —, a influência de grupos ou de pessoas ajudam a determinar a direção de um segmento ou de uma sociedade inteira. Na história de Ribeirão Preto, não faltam nomes que tiveram importância determinante nos rumos que a cidade e a região tomaram, tanto na economia quanto na cultura, na educação e na política. Hoje, muitos emprestam seus nomes a ruas, avenidas e importantes edifícios da cidade, mas poucos têm sua história conhecida por grande parte da sociedade que ajudaram a construir.

Um cidadão influente foi Francisco Schimidt, que entrou para a história de Ribeirão Preto e também de São Paulo como o “rei do café”. De origem alemã, desembarcou no Brasil aos oito anos acompanhado dos pais, mas só estabeleceu-se na cidade anos mais tarde, casado e já com larga experiência na lavoura. Muito trabalho e bom relacionamento com uma financiadora alemã fizeram com que construísse um império cafeeiro, que tinha como referência a fazenda Monte Alegre, adquirida junto com o sócio Arthur Diederichsen, no final do século XIX. Hoje, na sede da antiga propriedade funciona o Museu do Café ribeirãopretano, que faz referência à cultura que começou a história agrícola da cidade. Schimidt chegou a acumular um patrimônio de 30 fazendas, sendo 17 delas em Ribeirão Preto, que somavam oito milhões de pés de café, 30 mil sacas do grão, a maior produção mundial da época.

Além de sua importância econômica, que ajudou a dar a ele o título de coronel, o rei do café tinha grande influência política. A população rural de sua Companhia Agrícola, criada para administrar as inúmeras fazendas, chegava a 14 mil colonos. Além de seus empregados, gozava de prestígio entre muitos que faziam parte de seu círculo de influência econômica. Elegeu-se vereador por quatro mandatos, o último, cumprido até 1920. Seu nome esteve ligado a benfeitorias e obras sociais da cidade até sua morte, aos 73 anos.

Foi Schimidt, ainda, que recebeu, nos anos de 1890, o jovem Antonio Diederichsen, sobrinho de seu antigo sócio, Arthur. Depois dos estudos em São Paulo e na Alemanha, onde nasceram seus pais, Antonio viajou para Ribeirão Preto e hospedou-se na fazenda Monte Alegre, tornando-se amigo do experiente coronel. O objetivo da viagem era fazer um levantamento do inventário das fazendas endividadas com o Banco Brasileiro-Alemão. Nesse período, identificou uma excelente oportunidade de negócios, comprando uma oficina mecânica, uma fundição e uma serraria de um banco falido do litoral paulista. Em sociedade com João Hibden, iniciou a primeira empresa, a “Diederichsen & Hibden”. Incansáveis, o negócio ficava aberto ao público das 6h às 21h, mas a sociedade foi desfeita com o início da 1ª Guerra Mundial. Na ocasião, Diederichsen decidiu dividir os rendimentos da firma com seus auxiliares diretos, como Manuel Penna, de quem também se tornaria sócio, e permaneceu fiel ao princípio de amizade e de generosidade com quem sempre esteve ao seu lado até o fim da vida. A empresa expandiu-se ainda mais, agregando um departamento de venda de carros e um posto de serviço, por exemplo. O sucesso como empresário o levou a inaugurar o Edifício Diederichsen, que marcou o ciclo de grandes prédios da cidade e tornou-se, também, atração turística ribeirãopretana.

A ousadia desse homem de espírito arrojado e empreendedor colocou Ribeirão Preto no caminho da modernidade e começou a transformar a “terra do café”, que sofria com a crise da bolsa de Nova Iorque, em 1929, no cenário do capitalismo industrial. Foi pelas mãos de Diederichsen que instalou-se na cidade a primeira concessionária de automóveis, na década de 1920, em sociedade com Manuel Penna. Chevrolet, Ford e Volkswagen foram as marcas comercializadas pela dupla que deu origem à Santa Emília, uma homenagem à mãe de Manoel, que sabia da responsabilidade que tinha ao prosseguir com os negócios depois da morte, em 1955, do homem que havia mudado sua vida.

Natural do Vale do Paraíba, Manoel Penna desembarcou na Estação Mogiana, em Ribeirão Preto, aos 21 anos, em 1910, em busca de melhores oportunidades nas ricas produções de café. Mas foi o encontro com Diederichsen que determinou sua trajetória profissional. Foi balconista e varredor da loja do futuro amigo, trabalhando 15 horas por dia com muita determinação. Vivo, comunicativo e disciplinado, logo ganhou a confiança do empresário, que via no funcionário um promissor homem de negócios.

Manoel Penna foi responsável pela chegada do primeiro automóvel vendido em Ribeirão Preto, assim como da primeira geladeira elétrica, quando a empresa de Diederichsen passou a investir em eletrodomésticos. Nesse período, Penna já havia se tornado gerente e procurador do empresário. A amizade entre eles levou Diederichsen a repetir, por toda a vida, que Penna e ele compunham dois corpos com uma só cabeça.

Foi graças a esse tino compartilhado e à diversificação que os negócios de Diederichsen não sofreram tanto com a Crise de 1929. O negócio cresceu ainda mais com a inauguração do prédio em 1936, que teve cada um de seus 3.750 m² de área construída comercializados por Penna, inclusive conquistando a Antarctica como cliente, o que transformaria o local em referência também por hospedar o famosíssimo Pinguim.

Em 1939, Penna se tornou sócio de Diederichsen. A empresa foi transformada em S.A. e dirigida por Manoel Penna., que já era uma personalidade respeitada na cidade. O comerciante dedicou sua vida ao trabalho, à família, aos amigos e a obras de caridade. Foi, durante anos, tesoureiro da Santa Casa e do asilo Padre Euclides, e nunca se aventurou na política. Trabalhou até os 87 anos e viveu até os 101 na casa construída por ele, à rua Prudente de Moraes, que ainda carrega na porta de ferro e vidro as iniciais em bronze: M.P..

Um Teatro como legado
Natural do interior do Rio de Janeiro, João Alves Meira Júnior hoje empresta seu nome a muitos endereços ribeirãopretanos: uma importante avenida, um edifício central, uma escola, além de ter exposta em praça pública sua estátua. Advogado formado pela Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, mudou-se para Ribeirão Preto em 1900, onde construiu uma bem-sucedida história na advocacia, chegando a presidente regional da Ordem dos Advogados do Brasil e tendo se tornado um grande jurista. Na política, também consolidou uma longa carreira: foi eleito vereador, deputado estadual, deputado federal e senador regional de São Paulo. Como empresário, destacou-se por ter sido um dos fundadores da Cervejaria Paulista, produtora da cerveja escura Niger, inaugurada por um grupo de empresários locais em 1914. Posteriormente, em 1972, a empresa se uniria à Antarctica, transformando-se na Cervejaria Antarctica Niger S.A..

Apesar das múltiplas áreas de atuação, sua grande contribuição para a cidade foi a construção do Theatro Pedro II, um sonho do advogado empresário. Segundo Meira Júnior, o monumento seria a retribuição da Cervejaria a Ribeirão Preto. Com um projeto do arquiteto paulistano Hypolito Pujol, o Theatro teve sua construção envolvida em uma série de disputas judiciais entre a empresa patrocinadora do projeto e seu arquiteto e construtor. Mas, depois de negociações e de atrasos, o teatro, que teve seu nome escolhido em uma pesquisa pública, foi inaugurado em 30 de outubro de 1930. A ambiciosa construção tornou-se um dos principais cartões postais da cidade e o endereço de boa parcela dos grandes eventos culturais do município.

Referência em educação e saúde
O médico paulistano Zeferino Vaz deixou sua marca em Ribeirão Preto pela atuação como médico, educador e fomentador do conhecimento. Formado pela Faculdade de Medicina de São Paulo, transferiu-se para a USP logo depois de sua fundação, em 1934. Especializou-se nas áreas de Zoologia e Parasitologia. Além da intensa contribuição científica que deixou, orientou a formação de docentes que viriam a ocupar cargos de destaque e de direção em diferentes institutos de pesquisa brasileiros.

Por causa do crescente envolvimento administrativo e político na USP, passou a dedicar mais tempo a esses papéis e, em 1951, foi nomeado membro e presidente da comissão executiva responsável pela instalação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, inaugurada em 1952, instituição da qual foi o primeiro diretor e onde permaneceu por 12 anos. Nesse período, a Faculdade já tinha um corpo docente de alto nível e grande produção científica, com projeção internacional. Convicto de que nada poderia desestabilizar a Faculdade, renunciou ao cargo de diretor porque não queria que a instituição ficasse sob a dependência de um único nome.

Zeferino Vaz também conduziu a instalação da Unicamp, foi secretário estadual da Saúde, primeiro presidente do Conselho de Educação para o Estado de São Paulo e reitor da Universidade de Brasília. Por sua dedicação, recebeu condecorações, medalhas e títulos de cidadão honorário em diversas cidades. Viveu até os 72 anos e deixou escrita uma história que vale a pena ser contada.

Um amante da arte
Natural de Ibitinga, Francisco Amêndola não imaginava, na infância ou na adolescência, que se tornaria um artista reconhecido. Apaixonado pela literatura, começou a estudar muito cedo, por exigência do pai, antes mesmo de ter perdido a mãe, aos oito anos. Foi alfabetizado em Ibitinga, estudou em Campinas e em Araraquara, de onde retornou por causa da morte do pai, em 1944, para cuidar da fazenda da família. Foi em Araraquara seu primeiro contato com as artes, tendo frequentado a escola Belas Artes, período em que conheceu o artista italiano Domenico Lazzarini, que influenciaria sua obra.

Depois da venda da fazenda da família, passou a frequentar Ribeirão Preto e mudou-se para o município definitivamente em 1958. Na cidade, chegou a lecionar no Centro Universitário Moura Lacerda e na Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp). Envolveu-se em inúmeras atividades, organizando e promovendo clubes de fotografia, de cinema e mostras de acervos de museus brasileiros e estrangeiros. Muitos artistas vieram à cidade para dar cursos, palestras, conferências e seminários, como Bavarello, Fajardo, Trindade Leal e Pedro Manuel.

Enquanto isso, Amêndola dava aulas, fazia fotografias, aceitava encomendas para ilustrações e também trabalhava em publicidade. Analisava o avanço da mídia e tentava incorporar a ela as artes que amava. O artista participou da 1ª, da 8ª e 9ª Bienais de São Paulo, do Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro, do Salão de Arte Contemporânea de Brasília, do Salão Esso de Artistas Jovens no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo. Na Itália, participou de três exposições e ganhou um prêmio em Milão em 1974. O pintor faleceu, em Ribeirão Preto, em 5 de dezembro de 2007, por conta de um derrame.

Confira aqui os perfis das 75 pessoas mais influentes em Ribeirão Preto e região em 25 segmentos pesquisados pela empresa Raomarketeer.

Para maiores detalhes de como a pesquisa foi realizada, acesse o editorial da semana.

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