Para uma boa visão

Para uma boa visão

O oftalmologista Gleilton Mendonça ressalta que hábitos saudáveis, diagnóstico precoce e avanços técnicos contribuem para a manutenção da qualidade da visão

“A cada dez casos de perda de visão, oito poderiam ser evitados se detectados precocemente”, revelam Juliana e MendonçaCuidar bem da alimentação, adotar um estilo de vida saudável e se atentar a cuidados preventivos contribuem sensivelmente para melhorar a saúde do olhos, mantendo a boa visão por mais tempo, retardando algumas doenças oculares. Essas práticas poderiam reverter índices alarmantes, como os registrados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta a existência de l6,5 milhões de pessoas com deficiência visual no Brasil. No mundo, de acordo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca 45 milhões de pessoas são cegas e outras 135 milhões sofrem limitações severas de visão.

 Outro dado preocupante vem do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), que estima haver no Brasil mais de 1,2 milhão de cegos. De acordo OMS, 80% dos casos registrados mundialmente poderiam ser evitados, caso houvesse mais ações efetivas de prevenção e de tratamento. “O acesso ao atendimento médico oftalmológico é decisivo para alterar as condições da saúde ocular do povo brasileiro”, avaliam os oftalmologistas Gleilton Mendonça (CRM: 101.076) e Juliana Zaninello (CRM: 134.195), diretores do Centro de Oftalmologia Especializada (COE) de Ribeirão Preto.

 A Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) indica que, a cada cinco segundos, uma pessoa fica cega no mundo — em relação às crianças, a média é de uma por minuto. Entre as principais causas da cegueira está a catarata, problema reversível, causado pela opacificação do cristalino. Ela pode ser senil, caso que atinge aproximadamente 85% da população acima de 50 anos, ou congênita, presente desde o nascimento.

Ainda segundo a OMS, entre dez casos de perda de visão, oito poderiam ser evitados se detectados precocemente. “Embora boa parte dos problemas oftalmológicos se manifeste a partir dos 40 anos, nossa recomendação é de que a primeira consulta ocorra a partir dos dois ou três anos de idade”, indica Mendonça. Docente na área de Oftalmologia e membro das Sociedades Americana e Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa, o especialista recomenda que, até o início da escolarização, todas as crianças façam o exame de acuidade visual. “Os vícios de Tomógrafo de córnea permite diagnóstico precoce de diversas patologiasrefração, como miopia, hipermetropia e astigmatismo, quando não corrigidos, podem levar à perda visual”, alerta.
Pensando em ampliar ainda mais os serviços de prevenção aos problemas da visão, Mendonça criou o COE, um espaço completo, com estrutura voltada para o diagnóstico e o tratamento das doenças da córnea e da catarata. Com um avançado parque tecnológico para exames diagnósticos, o espaço realiza tomografia da córnea, topografia e paquimetria corneanas, microscopia especular da córnea, biometrias ultrassônica e óptica, entre outros exames. Um dos pioneiros no Brasil na realização dos transplantes lamelares, principalmente o endotelial, Mendonça ressalta que buscou especialização em novas técnicas cirúrgicas no exterior: em 2008 e 2010, em Indianápolis, nos Estados Unidos e, em 2011, em Roterdã, na Holanda.
 
Cirurgia a laser


Localizado atrás da pupila, o cristalino é a lente natural dos olhos. Na pessoa jovem saudável, é totalmente transparente e, com a passagem dos anos, vai naturalmente perdendo a transparência, tornando-se opaco. De acordo com Mendonça, essa opacificação é considerada normal após os 55 anos de idade, no entanto, algumas doenças, traumas e cirurgias oculares podem precipitar a formação da catarata. Uma vez formada, não existe nenhum tratamento clínico eficaz para revertê-la. A única opção é a cirurgia, onde a lente natural é removida e substituída por outra lente intraocular artificial, de material acrílico.

Um dos avanços nessa área é a cirurgia de catarata a laser, mesma tecnologia utilizada há anos para correção da miopia. O laser de femtosegundo substitui o método convencional, lâmina de bisturi e ultrassom, muito dependente Olho doenteda habilidade manual do cirurgião para o sucesso do procedimento. Em poucos segundos e com a precisão de milésimos de milímetro, o laser realiza a incisão na córnea, separa a parte saudável da parte doente do cristalino e quebra a catarata em pedaços minúsculos.  Assim, o cirurgião necessita de um número muito menor de rajadas de ultrassom para a remoção do interior do globo ocular. “Menos ultrassom significa menos energia aplicada dentro do olho e, portanto, menor dano às estruturas intraoculares, principalmente à córnea. O resultado é uma cirurgia precisa, reprodutível e, principalmente, mais segura para o paciente”, avalia Mendonça.

Olho normal Outra revolução recente na Oftalmologia ocorreu em relação aos transplantes de córnea, ou ceratoplastia, em que a córnea doente é substituída por outra saudável. No transplante de córnea convencional, conhecido como transplante penetrante, todas as camadas da córnea são substituídas, estejam elas doentes ou não. A recuperação da visão é lenta e o efeito final é verificado após cerca de um ano. “O resultado refrativo (grau do olho) varia muito e a rejeição é a mais temida das complicações. Até pouco mais de dez anos atrás, essa era a única maneira de se transplantar uma córnea”, observa o especialista.

 Avanços técnicos

O oftalmogolista revela que as modernas técnicas de transplante de córnea, conhecidas como transplantes lamelares, permitem substituir apenas as camadas da córnea que realmente estão doentes, mantendo intacta a parte saudável. Preservando parcialmente a córnea do receptor, a cirurgia se torna muito menos invasiva, proporcionando melhores resultados visuais em um tempo de recuperação mais curto, com redução significativa do risco de rejeição. 

Os transplantes lamelares são divididos em anterior, quando apenas a parte da frente da córnea é substituída, e endotelial, quando a parte de trás da córnea é trocada. O primeiro, de acordo com Mendonça é indicado para tratar as patologias que acometem apenas as camadas anteriores da córnea, como cicatrizes e, principalmente, o ceratocone, doença que leva a uma deformação na córnea, que ganha a forma de um cone. “O transplante lamelar é o último dos recursos, reservado para o tratamento dos casos mais avançados do ceratocone. Antes dele, tentamos a adaptação de lentes corretivas ou ainda o implante dos anéis de Ferrara, que são microanéis de acrílico implantados na córnea para reduzir a distorção”, pontua Mendonça. 

O COE conta com autorrefrator para medir o grau dos olhos com precisão; tonômetro de não contato (medida da pressão intraocular), microscópio especular de córnea (avaliação do endotélio) e biômetro ótico, para cálculo da lente intraocular no pré-operatório da catarataPara o tratamento das doenças da parte de trás da córnea, o transplante endotelial, desenvolvido pelo oftalmologista holandês Guerrit Melles, no início do século XXI, consiste na substituição apenas da camada mais interna da córnea: o endotélio. Mais nobre e importante parte da córnea, possui uma característica incomum no corpo humano: suas células não se multiplicam e nem se regeneram quando danificadas. Com o tempo, algumas doenças ou cirurgias podem comprometer essa frágil camada e, sem ela, o líquido que circula na parte interna do olho pode se acumular na córnea, tornando-a inchada, fazendo com que a córnea perca sua transparência, embaçando, consequentemente, a visão. Essa condição é chamada de ceratopatia bolhosa. No passado, a única maneira de tratar o problema era um transplante penetrante de córnea. “Hoje, a técnica conhecida pela sigla em inglês DMEK (Descemet Membrane Endothelial Keratoplasty) permite que apenas a camada endotelial seja substituída. Na maior parte das vezes, não há necessidade de pontos e o grau do olho não é alterado. O tempo de recuperação é de apenas algumas poucas semanas, sendo que a estrutura e anatomia originais do olho são preservadas”, destaca Mendonça. 

Entendendo a catarata

Perda da transparência do cristalino que provoca grande dificuldade para enxergar.

50% de incidência em pessoas com mais de 65 anos.
160 milhões de pessoas no mundo devem ter a doença
120 mil novos casos surgem no Brasil a cada ano

Refrator, lâmpada de fenda, cadeira e coluna compõem o equipamento básico para consulta e diagnóstico em consultório, onde os especialistas realizam a medida do grau (óculos), a pressão intraocular, avaliam a superfície ocular e o fundo de olhoCausas
• Congênita
• Envelhecimento
• Trauma ou inflamação ocular
• Diabetes
• Uso crônico de colírios com corticoides

O que é ceratocone?

• Essa distrofia degenerativa dá à córnea um formato cônico
• Pode causar distorção da visão, com borramento das imagens, e sombras ao redor dos objetos
• Afeta uma a cada 2 mil pessoas
• Geralmente aparece no final da adolescência e pode evoluir até os 35 anos, quando então estabiliza 
• Bilateral na maioria dos casos (cerca de 88%), sendo, geralmente, um olho mais afetado que o outro
• A correção é feita com óculos, lentes de contato especiais, implante de anéis de Ferrara e, em casos mais avançados, transplante de córnea

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