Planos para o futuro

Planos para o futuro

enquanto aguarda o retorno da estabilidade política e econômica nacional, o setor da construção civil de Ribeirão Preto demonstra força e fôlego

Os números não são positivos. Os mais recentes Dados do Mercado Imobiliário (DMI) divulgados pela Viva Real mostram que os preços dos imóveis, tanto para venda quanto para locação, continuam caindo. Em Ribeirão Preto, a queda verificada em maio de 2017, em relação ao mês anterior, foi de mais 1% no valor do metro quadrado para aluguel e de -0,71% para comercialização. Os valores colocam a cidade na terceira posição do ranking, entre os municípios brasileiros pesquisados, das localidades com maiores quedas. A média de desvalorização no Brasil foi de -0,17%. O levantamento foi feito em 30 cidades espalhadas pelo território nacional.

Empreendimentos do Minha Casa, Minha Vida, como o Residencial Vida Nova Ribeirão, ajudaram a melhorar os números do primeiro bimestre de 2017O boletim da construção civil do Centro de Pesquisa em Economia Regional da Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia (Ceper/Fundace) confirma que, assim como em Ribeirão Preto, os valores dos imóveis nas principais capitais do país estão em queda. Os pesquisadores da FEA-RP/USP destacam dados relativos ao preço de venda e de imóveis em fase de lançamento, além de avaliarem o crédito do setor imobiliário e o PIB da Construção Civil. “Os preços seguem em declínio, mas os dados já mostram uma desaceleração em sua queda real. Isso é reflexo dos ajustes na oferta de imóveis novos, além da estabilização da inflação e do processo de redução dos juros”, afirma o economista Luciano Nakabashi, pesquisador do Ceper/Fundace. O crédito imobiliário continua caindo também, mas já revela uma perspectiva de reflexos positivos diante do controle da inflação e consequente queda na taxa de juros. 

O número de unidades vendidas no primeiro bimestre de 2017 já revela crescimento: o volume de negócios registrado no país foi 6,9% maior que o verificado no mesmo período de 2016. Dados da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias e da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) indicam que a melhora nas vendas foi impulsionada pelos empreendimentos vinculados ao programa Minha Casa, Minha Vida, que tiveram um aumento de 13,3%. No total, o número de lançamentos segue abaixo do registrado no mesmo período de 2016. Isso acontece graças ao declínio de novos empreendimentos nos segmentos de médio e alto padrão. 

O movimento do mercado ribeirãopretano está alinhado com as estimativas nacionais. Os lançamentos começam a voltar à cena, também, dentro da faixa que tem ajudado a garantir índices mais otimistas para o setor. Recentemente, a Construtora Pacaembu abriu as vendas do Residencial Vida Nova Ribeirão, que atende às especificações do programa do Governo Federal para moradias populares. O lançamento oficial aconteceu no dia 1º de abril e os primeiros contratos foram assinados no dia 25 de maio. Quando estiver concluído, o empreendimento deverá ter cerca de 30 mil moradores. 

Por aqui, também há novos empreendimentos voltados para o público que deseja alto padrão. A Bild, que acaba de apresentar um novo braço da empresa, a Bild Exklusiv, deve apresentar o primeiro empreendimento de luxo nas próximas semanas. A construtora, que possui 10 anos de atuação em Ribeirão Preto, já adiantou que a edificação terá poucas unidades e localização privilegiada, no bairro Vila do Golf. Os novos empreendimentos devem recolocar a construção civil em seu posto de destaque na cidade. O setor, que segue demonstrando força no enfrentamento da crise, já ocupou o posto de carro-chefe da economia local.

Caminhos indefinidos

Alencastre destaca que é preciso descobrir um caminho sustentável capaz de garantir o desenvolvimento da cidadeNão é apenas a crise econômica e política brasileira que não deixa deslanchar novamente o setor da construção civil em Ribeirão Preto. A cidade ainda não teve a revisão de seu Plano Diretor aprovada. Instrumento básico da política de desenvolvimento de um município, o documento estabelece as diretrizes que nortearão a atuação do poder público e privado, especialmente em relação à construção civil. 

A aprovação do Plano foi elencada entre as prioridades da atual administração municipal, de acordo com o secretário do Planejamento, Ruy Salgado Ribeiro, mas ainda não evoluiu muito. A expectativa do prefeito Duarte Nogueira, é encaminhar o projeto para votação na Câmara dos Vereadores até agosto deste ano. 

De acordo com o engenheiro Carlos Eduardo Alencastre, presidente da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP), a revisão do Plano Diretor é, de fato, uma das tarefas mais importantes que a cidade precisa encarar. “O aniversário do município deve servir para chamar a atenção da população para a necessidade de pensar esse lugar para o futuro, para além do que se pode usufruir hoje”, salienta o presidente. 

A missão, segundo o especialista, é desafiadora: a revisão precisa pautar, entre outros itens, a recomposição e a harmonização da floresta urbana, assim como a preservação do Aquífero Guarani. “Ribeirão Preto é arborizada, porém, de forma desequilibrada — algumas regiões da cidade têm bastante verde, enquanto outras, sofrem com a escassez de vegetação. A proteção do maior manancial de água doce do mundo, que passa por aqui e abastece a cidade, também deve ser prioritária”, elenca Alencastre. 

A recuperação da Mata de Santa Tereza e dos córregos que cruzam a cidade também merecem atenção especial. “Precisamos falar sobre todos esses temas, ao mesmo tempo em que garantimos o desenvolvimento econômico e social da cidade. Eis o desafio”, finaliza o engenheiro. Para Alencastre, encontrar uma forma sustentável para garantir desenvolvimento e crescimento é será a busca prioritária de todos os setores produtivos não só em Ribeirão Preto, mas no mundo inteiro. 

Olhar ampliado

“O setor da construção civil cresceu sobremaneira nas últimas duas décadas em Ribeirão Preto. Foram centenas de obras que deram nova cara à cidade. Tudo isso graças, exclusivamente, ao empreendedorismo de nossos empresários, que construíram essa realidade, em que pesem as instabilidades políticas e econômicas, atendendo à demanda do mercado imobiliário. Esse desenvolvimento, entretanto, poderia ter acontecido de forma mais organizada e socialmente mais equilibrada se tivéssemos em Ribeirão Preto uma legislação que promovesse o ordenamento e o bom crescimento de nossa dinâmica cidade. Crescemos de forma desorganizada, não cumprindo os ordenamentos jurídicos e sociais definidos pelo Estatuto das Cidades. Com isso, não vivemos uma Ribeirão Preto pensada de forma em que as infraestruturas básicas (saneamento básico, drenagem urbana, afastamentos dos esgotos, suprimento e reserva de água potável, sistema viário e mobilidade urbana, resíduos sólidos, etc.) estejam resolvidas, projetadas e cadastradas, antes mesmo das empresas intencionarem viabilizar os seus empreendimentos.” José Batista Ferreira, engenheiro e diretor regional do SindusCon-SP

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