Três em um

Três em um

Criado a partir da combinação entre natação, ciclismo e corrida, o triathlon exige muita disciplina e determinação

Especialista em longas distâncias, Rafael figura entre os melhores atletas amadores do país Natação, ciclismo e corrida. Ao serem praticadas em sequência e sem intervalos, as três modalidades deram origem ao triathlon. De acordo com registros históricos, os primeiros passos para o surgimento do novo esporte foram dados em 1974, em San Diego, nos Estados Unidos. Naquele ano, os treinadores de um clube de atletismo decidiram montar um cronograma de tarefas a serem realizadas durante as férias. Assim, os atletas descansariam das corridas, mas não perderiam o condicionamento físico conquistado durante o ano. Os exercícios mais recomendados eram nadar e pedalar. Ao retornarem, todos encararam um teste para comprovar que a planilha havia sido cumprida: nadaram 500 m na piscina, pedalaram 12k m em um condomínio fechado e, finalmente, correram 5 km na pista de atletismo. A “brincadeira” caiu, definitivamente, no gosto dos participantes. Atendendo aos pedidos deles, os desafios continuaram. A cada edição, o número de interessados aumentava, o que culminou na disseminação e na evolução da competição.

Depois de uma série de ajustes, o triathlon chegou ao formato com o qual entrou no hall de esportes olímpicos, em 2000, nos Jogos de Sydney, na Austrália. Nesse modelo, conhecido como olímpico ou standard, as distâncias a serem percorridas são: 1.500 m de natação, 40 km de ciclismo e 10 km de corrida. Há, ainda, outros tipos de provas, como Short ou Sprint (750 m de natação, 20 km de ciclismo e 5 km de corrida), o 70.3 ou meio Ironman (1.900 m de natação, 90 km de ciclismo e 21 km de corrida), o Ironman (3.800 m de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida) e o ULTRAMAN (1° dia: 10 km de natação oceânica e 145 km de ciclismo, 2° dia: 276 km de ciclismo e 3° dia: 84,4 km de corrida).

As longas distâncias são a especialidade de Rafael Falsarella. “Antes, eu só pedalava, principalmente moutain bike, e corria. Com o objetivo de superar os meus limites, comecei a nadar. A ideia de unir as três modalidades era motivadora”, lembra Falsarella. Com um vasto histórico esportivo, aliado a muita dedicação, os resultados não demoraram a aparecer.
Competindo desde 2009, o educador físico está entre os melhores atletas amadores do país no triathlon. Além de conquistar provas nacionais, como o Troféu Brasil, destacou-se no exterior. “No México, no Panamá, na Itália e em Miami, quando não fui o campeão, pelo menos subi no pódio. Participei de mundiais de Ironman e de Ironman 70.3, cujas vagas são alcançadas através de seletivas. Recentemente, fiz o meu 7º Ironman, na categoria de 35 a 39 anos. Mesmo com um imprevisto — um pneu furado — consegui me classificar, novamente, para a etapa mais tradicional, realizada no Havaí”, revela o triatleta. 

A rotina é apertada. Falsarella dedica, em média, quatro horas todos os dias para duas modalidades. Geralmente, a corrida ou o ciclismo pela manhã e a natação à tarde. “Também me esforço para aperfeiçoar a transição, praticando o ciclismo e a corrida no mesmo treino”, descreve. Engana-se quem pensa que acabou. “Faço musculação, Pilates e fisioterapia. Para que tudo isso seja possível, cuido da alimentação e do lado psicológico, fator determinante para o sucesso de um atleta. Costumo dizer que esse não é meu trabalho, mas minha diversão”, resume. Hoje, à frente da RF Treinamento Esportivo, Falsarella utiliza seu conhecimento para estimular as pessoas a aderirem a um estilo de vida mais saudável e para lapidar novos talentos.

Com apenas 14 anos, Luizinho já conquistou títulos importantes, incluindo o de campeão brasileiro infantil, em 2016José Luiz Vieira Felício, ou Luizinho, é um deles. Com apenas 14 anos — e menos de três de treinamento —, o jovem já mostra que veio para ficar. Foi o grande vencedor do Campeonato Brasileiro Infantil em 2016, da Copa Interior de Triathlon Fitness e do Troféu Brasil 2016. Teve, ainda, uma participação expressiva no Campeonato Sul-americano Youth e no Mundial Escolar. Influenciado pelo pai, Luiz Felício, que, em 2014, inscreveu-se em uma prova de Ironman 70.3, Luizinho se apaixonou pelo esporte. “Felizmente, meus pais são os meus maiores apoiadores. Eles estão sempre ao meu lado”, ressalta. O comprometimento com o nado, o ciclismo e a corrida, no entanto, não pode interferir no aprendizado escolar. Regra da casa. “O fundamental é ter uma boa noite de sono para aproveitar, ao máximo, a explicação dos professores em sala de aula. À tarde, concilio o estudo com o treino sem problemas, mas a maior parte da carga horária fica reservada para o triathlon”, confessa o atleta, que sonha em um dia representar o Brasil em uma Olimpíada.

Ribeirão Preto tem outro representante de respeito nesse universo. Murilo Darahem Kohn Bredariol acumula cinco participações em Ironman 70.3, ficou com o vice no Campeonato Paulista de Triathlon Olímpico, em 2013, e no Troféu Brasil de Short Triathlon, em 2016. Foi o 6º colocado no Campeonato Brasileiro de Triathlon Olímpico e o 11º colocado no Mundial de Aquathlon Edmonton/CA, em 2014, mesmo ano em que esteve no Mundial de Triathlon Olímpico Edmonton/CA. Recebeu o título de Super Randonneur 2015 pelo Audax Club Parisien por completar a série de bike AUDAX (200km/300km/400km/600km), ganhando a vaga para disputar, em 2019, a etapa de Paris, que acontece de quatro em quatro anos, na França. A distância a ser percorrida na prova será de 1.200 km. 

Murilo acumula cinco participações no Ironman 70.3A estreia do educador físico nesse esporte foi aos 13 anos. “Desde criança, tenho muita facilidade na natação. Adicionei a corrida e, por último, o ciclismo. Pedalava com uma bike emprestada e, aos poucos, fui comprando o que precisava para me especializar. Então, fiz um short Triathlon. Quando cruzei a linha de chegada, soube que era aquilo que eu gostaria de fazer”, recorda. Apenas dois meses depois, já estava entre os inscritos do Ironman 70.3. “Mesmo com lesões que atrapalharam bastante o meu crescimento, uma em 2014, na preparação para o Ironman, e outra, agora, em 2017, tive resultados positivos e sigo em frente. Desistir não é uma opção”, garante Murilo. 

O atleta, treinador da Triple Assessoria Esportiva e proprietário da escola de natação Nado Livre, conta com uma torcedora ilustre. Aliás, nessa história, a esposa, Tatiane Orsi Bredariol, é muito mais do que uma simples espectadora. A parceria de vida foi estendida para os treinos. “Nosso primeiro encontro foi um convite dele para uma corrida.

Compartilhamos o amor pelo esporte. O Murilo me motiva e é a minha maior inspiração, além de ser meu treinador”, declara. A habilidade e a resistência para executar os exercícios denunciam que a familiaridade com a área vem de longa data. “Dos 8 aos 21 anos, praticava patinação artística. Já fui campeã paulista e brasileira. Na época da faculdade, os estudos eram a minha prioridade e tive que deixar os treinos. Para não cair no sedentarismo, decidi correr. Da corrida, passei para a bike e amei. A natação veio como consequência”, explica a arquiteta e urbanista. Regrada e disciplinada, Tatiane vai encarar, pela primeira vez, a EMS Sprint Triathlon. “Será no dia 22 de julho, em São José do Rio Preto. Estou ansiosa e nervosa, especialmente com a natação, meu maior desafio. Minha expectativa é completar a prova. Se fizer isso em um bom tempo, melhor ainda”, finaliza.  

Tatiane está contando os dias para encarar, pela primeira vez, uma prova de triathlon

Cuidados redobrados


Antes de se aventurar, a pessoa precisa ter consciência de que o triathlon é uma modalidade intensa, que demanda alguns cuidados especiais. “O primeiro passo é se submeter a uma completa análise cardiológica e ortopédica. Assim, saberemos se o corpo está apto para enfrentar essa jornada. Além disso, a Medicina disponibiliza, atualmente, vários exames que podem ajudar o atleta a entender sua aptidão para o esporte, como análise do perfil genético, dosagem de eletrólitos, bioimpedância, ergoespirometria, biopsia muscular, teste isocinético e avaliação funcional, entre outros”, explica o médico Leandro Calil De Lazari (CRM: 91968), ortopedista especializado em cirurgia do quadril e do joelho.

Leandro orienta que, antes de entrar nesse universo, o atleta deve se submeter à avaliação médicaPara manter a saúde em dia, o treino deve fazer parte da rotina, mesclando exercícios de força e de resistência com alongamentos e com relaxamento músculo/esquelético. Nessa hora, o acompanhamento de um profissional é muito importante. “O educador físico montará um cronograma adequado, visando a uma evolução gradativa. Vale lembrar que o repouso também é fundamental para garantir um melhor desempenho e para diminuir as chances de lesão”, aponta o médico. As lesões mais comuns são distensões e rupturas músculo-tendíneos, entorses articulares, rupturas ligamentares e fraturas por estresse. Normalmente, as articulações acometidas são joelhos, ombros, quadris e tornozelos.

Ainda segundo o especialista, a prevenção é o caminho para quem busca desenvolver seu potencial, evitando problemas e curtindo ao máximo esse desafio. “O triathlon é um esporte para poucos, pois exige alto grau de responsabilidade, disciplina, dedicação e comprometimento. Para cumprir as provas e aprimorar a performance continuamente, o condicionamento físico, a nutrição e a parte psicológica precisam estar em perfeito equilíbrio”, finaliza Dr. Leandro.

Treino sob medida

Segundo o educador físico Adilson Borsatto Júnior, da Corpore, o triathlon proporciona inúmeros benefícios. “Esse esporte fortalece os grupos musculares, tanto dos membros superiores, quanto dos inferiores. Também desenvolve flexibilidade, resistência, coordenação neuromuscular e equilíbrio. Como a parte aeróbica é solicitada nas três modalidades, o tempo todo, nota-se uma melhora no sistema cardiorrespiratório. Além das contribuições para a saúde e para o Segundo Adilson, além das contribuições para a saúde e para o condicionamento físico, o triatlhon eleva a qualidade de vidacondicionamento físico, o triatlhon eleva a qualidade de vida. Ao nos impor grandes desafios, exige disciplina, concentração, responsabilidade, dinamismo e capacidade de adaptação. Essa mudança de hábitos gera coragem e autoconfiança”, esclarece Adilson.  

A periodização dos treinos deve ser feita de acordo com a data e com o formato da prova, respeitando as metas pessoais estipuladas pelo atleta e as respostas do corpo diante do esforço. “A falta de regularidade, com certeza, afeta o desempenho, mas o excesso de exercícios pode ser igualmente prejudicial. Praticando o triathlon, aprendi que esse esporte nunca nos deixa estagnado. Ficamos sempre com um gostinho de quero mais ao final do treino. O progresso é contínuo, com resultados proporcionais ao empenho. São anos de preparação e cada avanço é uma vitória. Por tudo isso, essas três modalidades, juntas, transformaram-se em uma atividade tão fascinante”, conclui.

Foco na alimentação

Uma alimentação variada e balanceada é essencial, tanto para manter as funções básicas do corpo quanto para fortalecer as defesas do organismo. “Com uma dieta equilibrada, a pessoa consegue os nutrientes necessários para cumprir as atividades diárias. A opção por um cardápio saudável auxilia, ainda, no controle e na prevenção de algumas doenças. Portanto, essa deve ser uma preocupação de todos”, enfatiza a professora doutora Andresa de Toledo Triffoni Melo, que leciona no curso de Nutrição da UNAERP.

A preocupação com a alimentação é essencial, antes, durante e depois dos treinos, enfatiza AndresaNo caso dos praticantes de triathlon, por conta do alto desgaste, recomenda-se um planejamento rigoroso para garantir um bom aporte calórico, proteico e de carboidratos. “Muitas vezes, inclusive, é preciso recorrer à suplementação, mas sempre com a supervisão de um profissional da área”, destaca Andresa. A composição da dieta leva em consideração as preferências e o perfil do esportista, além de outros detalhes cruciais, como o horário, a intensidade, a duração e o tipo de treinamento a ser realizado. 

Segundo a nutricionista, a alimentação pré-treino é imprescindível, pois abastece o corpo de energia. “Para esse momento, batata, mandioca ou pão integral são escolhas interessantes. Quando o tempo para a digestão estiver curto, indico o consumo de algo mais leve, como pão branco com queijo ou uma vitamina de banana com iogurte, por exemplo”, sugere Andresa. 

Durante a execução dos exercícios, às vezes, o atleta precisa ingerir carboidratos. Isso pode ser feito através de géis, de líquidos ou de barras. Ao concluir a tarefa, o indicado é fazer uma refeição que combine carboidratos e proteínas. “Se o esportista não se alimentar e se hidratar de maneira correta, há uma redução no desempenho mental e cognitivo, que impacta, diretamente, na performance física. Aumentam as chances de fadiga muscular e de lesões. Em situações mais graves, esse descuido pode até trazer risco à vida”, alerta a especialista. 

Texto: Paula Zuliani

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