Uma aventura chamada maternidade

Uma aventura chamada maternidade

Confira o relato de oito mães que estão se reinventando para garantir o melhor para os filhos nesse período de pandemia

Foi-se o tempo em que a maternidade era encarada como uma obrigatoriedade pelas mulheres. Com um universo de possibilidades à frente, casar-se, ter filhos e cuidar da família deixou de ser o único caminho a ser seguido. Apesar de ainda existir, sim, a ideia de que esse é um papel intrínseco à nossa jornada por aqui — construída culturalmente e romantizada desde a infância — ser mãe, hoje mais do que nunca, deve ser uma escolha — e bem planejada. 

Isso porque, ter um ou mais corações batendo fora do peito pode ser uma dádiva, mas não é nada fácil, em todos os sentidos. Exige, entre muitas outras coisas, dedicação, compreensão e abdicação, por um longo período, da própria independência para suprir as necessidades dos filhos. Várias mulheres se realizam, exclusivamente, nessa função. Outras, por diferentes razões, optam por não passar por essa experiência. No entanto, a maioria se enquadra em um terceiro grupo, encarando a maternidade como uma de suas muitas facetas.

A psicóloga, mestre e doutora em Psicologia, Bruna Fontanelli Grigolli Pérsico, comenta que, desde a inserção da mulher no mercado de trabalho de forma mais efetiva, observou-se um acúmulo de funções: ela cuida da casa, dos filhos e trabalha. “Essa mulher contemporânea se cobra para ser polivalente. Tem que dar conta de tudo, em todo tempo, muitas vezes sendo sobrecarregada por todas as funções que desempenha tanto no ambiente profissional quanto familiar.  Isso leva a um sentimento de insegurança, ansiedade e, em algumas situações, sofrimento emocional”, explica a especialista. 

Esse sentimento foi intensificado pela pandemia de Covid-19. “Tivemos que fazer várias renúncias e sofremos muitas perdas. Diante disso, temos uma tendência de tentar controlar as situações. Contudo, quando não conseguimos fazer isso, podemos ficar desesperados e angustiados. Em alguns momentos, conseguimos gerenciar bem todas as questões. Em outros, sofremos como se não houvesse amanhã. Essa alternância é natural. O caminho do meio, do equilíbrio, é sempre o melhor para nos mantermos mais saudáveis. Isso em todos os aspectos da nossa vida, inclusive na maternidade”, acrescenta Bruna.

A verdade é que não existe regra e nem receita. A maternidade é uma aventura ímpar para quem a escolhe. No domingo, 9 de maio, celebra-se o Dia das Mães. Para homenageá-las, a Revide convidou oito mulheres para compartilharem as dores e as delícias, não apenas de serem mães, mas de serem mães em plena pandemia.  

Ainda mais próximas

A relação da arquiteta Ana Carolina Barreto Ribeiro Bellissimo com a pequena Maria Clara, que está prestes a completar seis anos, passou por uma intensa transformação em 2020. “Logo no início da pandemia, meu marido foi infectado pelo novo coronavírus e precisou ser internado. Foram 38 dias vivendo uma mistura de emoções que oscilava entre o medo e a esperança. Esse processo, inevitavelmente, afetou a Maria Clara. Levou a um amadurecimento precoce. Ela sentia a ausência do pai e não sabia onde ele estava. Eu só dizia que estava longe e que, por causa da pandemia, não conseguia voltar. Enquanto enfrentávamos aquela situação tão delicada, cuidamos uma da outra com muito carinho e nos tornamos ainda mais próximas. Minha filha me deu forças para manter a minha fé. Graças a Deus, meu marido se recuperou e estamos juntos novamente”, declara. Da experiência, ficaram lições valiosas. “Aprendi que preciso olhar para mim, para me conhecer e compreender meus limites. Ser esposa, mãe, profissional, filha e amiga, entre outras funções, não é fácil. Ainda mais no cenário atual, sentir ansiedade e frustração é normal, mas, agora, estou tentando ser mais gentil comigo. Por mais difícil que seja colocar em prática, eu sei que não preciso dar conta de tudo, o tempo todo e sozinha. Valorizo mais os momentos, sem tantas cobranças. Tenho curtido, ao máximo, cada dia ao lado da Maria Clara. Adoramos ver filmes, desenhar, ler e rezar juntas”, descreve Ana Carolina.

Reconectada com a maternidade

Para Débora Florenzano De Bortoli, a maternidade tem sido uma jornada enriquecedora, de autoconhecimento e de profunda evolução pessoal. “Quando me tornei mãe pela primeira vez, comecei a me redescobrir. Com a vinda de cada um dos meus filhos, esse desenvolvimento pessoal foi aumentando e exigindo de mim superação, compreensão e doação. Hoje, com essa experiência da pandemia, sinto que pude, novamente, reconectar-me com minha maternidade. O fato de trabalhar em casa me proporcionou mais proximidade com o dia a dia deles”, comenta a sócia-diretora do Grupo WTB, que é mãe de Pedro, 16 anos, Gabriel, 14 anos e Mateus, cinco anos. Desde que as primeiras notícias sobre a Covid-19 começaram a chegar, Débora e o marido se empenharam em manter, na casa, um clima de amor e de constância em relação às coisas simples da vida. “Juntos, assistimos a filmes, preparamos as refeições com calma, fazemos atividades físicas e aproveitamos mais a estrutura da nossa casa. Além da preocupação com a saúde, lidamos com muitos desafios no âmbito emocional. Eles sentem falta da escola, de se reunir com a família e com os amigos, de ir a uma festa e de viajar. Por isso, buscamos fazer da nossa casa um verdadeiro lar, um lugar onde eles estão protegidos, onde podem se expressar e onde encontram o apoio necessário para superar essa fase”, revela.

Em busca de leveza

O distanciamento social — medida emergencial adotada pelas autoridades para conter o avanço do vírus entre a população — provocou mudanças significativas na rotina de muita gente. Na de Jaqueline Freitas Pereira e de seu filho, Cauã, de 13 anos, não foi diferente. “Hoje, nesse contexto, é difícil encontrar uma mãe que não se sinta angustiada em certos momentos. Estamos física e emocionalmente exaustas, cada uma dentro da sua realidade. Eu, por exemplo, sou professora. Não posso parar. Estou trabalhando em casa, com uma programação que demanda completa dedicação. Todos os dias, levo, digitalmente, educação de qualidade para os meus alunos e isso me dá uma grande satisfação. Ao mesmo tempo, fico frustrada por não conseguir dar o mesmo nível de atenção para o meu filho, que também está tendo aulas on-line. Isso sem falar nas tarefas domésticas, que vão se acumulando”, confessa Jaqueline. Para tentar equilibrar essa balança e deixar o cotidiano mais leve, ela tem evitado cobranças demasiadas e, sempre que preciso, não hesita em solicitar a ajuda do companheiro, de um familiar ou de amigos. Reservar uma pausa entre os compromissos para um respiro é outro ponto essencial. “Somos muito ativos e amamos nos movimentar. Quando estamos em uma fase mais restritiva, o Cauã anda de skate na garagem do prédio em que moramos e eu faço meus exercícios na sala. Quando a situação está mais controlada, vamos até um parque que fica próximo da nossa casa. Assim, ficamos juntos e nos divertimos, aliviando um pouco a tensão do dia a dia”, finaliza. 

Sem perder a esperança

Se encarar uma pandemia não tem sido uma tarefa fácil para os adultos, imagine para as crianças. Sem o repertório de vida suficiente para entenderem a dimensão do que está, de fato, acontecendo ao redor, elas precisam enfrentar uma série de dificuldades e privações. Em meio ao caos que se instalou no mundo, nenhum lugar é tão acolhedor e reconfortante quanto o colo de uma mãe. Anelise Gaya Laguna Gironi sabe bem disso e está sempre pronta para receber a filha, Manuela, de dez anos, em seus braços. “Mesmo sentindo muita insegurança quanto à evolução do vírus e quanto ao nosso futuro profissional, eu e o meu marido tentamos não passar essa inquietação para a nossa filha. Não queremos que ela se entristeça ou perca a esperança. Temos a certeza de que a Manuela tem um lindo futuro pela frente”, afirma Anelise. Aos poucos, a família foi encontrando uma nova dinâmica. “Sem dúvida, a convivência durante a pandemia nos uniu e nos fortaleceu. Voltamos o foco para o nosso núcleo familiar. Reformamos a casa, cozinhamos e assistimos à TV. Jogamos cartas, fazemos caminhadas e pedalamos aos finais de semana, programas que não eram frequentes. Durante a fase de aulas on-line, aproveitamos para dar mais autonomia à Manuela. Ela aprendeu como usar o despertador, manter seus materiais organizados e arrumar o quarto. Agora, demos um passo importante com o retorno às aulas presenciais. Seguimos, com toda cautela, construindo um caminho de volta à normalidade”, conclui a personal trainer. 

O que realmente importa

Exercer a maternidade em meio a uma crise epidemiológica está sendo um verdadeiro desafio para Márcia Pereira Lopes Sartori. “A maternidade, por si só, já é um desafio. A pandemia potencializou isso. São inúmeros altos e baixos. Há dias em que eu acordo motivada, cheia de energia e com o coração repleto de gratidão pela saúde de minha família. Em outros, por mais que eu me esforce, o cansaço e o estresse ganham a batalha. Nossas rotinas foram abruptamente modificadas por este vírus que tanto nos assusta. Estamos sobrecarregadas com as exigências higiênicas, a nova rotina das aulas on-line e a maior necessidade de atenção aos pequenos, mas acredito que tudo isso esteja acontecendo por um propósito maior. Essa situação nos obrigou a parar. Abriu nossos olhos e nossos corações para detalhes que antes passavam batido em meio à loucura dos dias”, afirma a empresária, que é mãe de Antônio e de Helena, de oito e cinco anos, respectivamente. Ainda segundo Márcia, são esses detalhes que nos mostram o que realmente importa. “Graças ao suporte da nossa rede de apoio e o ótimo trabalho desenvolvido pela escola, mesmo que remotamente, eu e o meu marido pudemos nos concentrar em olhar para a nossa família, e, com isso, redescobrimos o prazer das coisas simples. Observamos como pequenos gestos de amor — ver um desenho na televisão, apresentar uma brincadeira da nossa infância, descobrir um bichinho no jardim e dividir os afazeres, por exemplo — fazem a diferença no dia dos nossos filhos”, pontua.  

Exemplo que passa de geração em geração

A admiração da advogada Naiara de Seixas Carneiro pela mãe, Claudia, é explícita. “Ela sempre foi meu exemplo de vida. Depois que me tornei mãe, minha perspectiva sobre ela mudou e acredite, passei a admirá-la ainda mais. É clichê, mas é a mais pura verdade. Tem coisas que só entendemos quando vivenciamos. Minha mãe é uma leoa e eu segui pelo mesmo caminho”, destaca a mãe do Matheus, de oito anos, e do Gustavo, de quatro. Trabalhando em casa, ela já foi surpreendida, algumas vezes, pelos pequenos. “Só quem é mãe sabe o frio na barriga que dá ao ver o filho abrindo a porta do escritório, enquanto você está fazendo aquela reunião on-line superimportante. Essa é uma cena corriqueira por aqui. Nos primeiros meses, ficava muito tensa com essas interrupções. Agora, encaro com naturalidade. Faço uma brincadeira e bola para frente. As pessoas compreendem, afinal, estamos todos vivendo a mesma situação”, comenta. Em todos os momentos, mesmo os mais adversos, Naiara tenta encontrar algo positivo. “Essa pandemia tem trazido prejuízos incalculáveis e deixado muitas famílias em luto. Sou abençoada por poder ficar em casa e tem sido um privilégio imenso ver meus filhos crescendo bem de pertinho. Não digo que a saída é se fechar em uma bolha e negar o que está acontecendo. A realidade precisa ser encarada e respeitada, mas tento não deixar com que essa fase seja ainda mais difícil do que já é. Converso bastante com as crianças. Esse é um problema sério, mas passageiro. A vacina está aí. Só precisamos ter um pouco mais de paciência”, ressalta.

A arte de se reinventar

Antes da reviravolta desencadeada pelo novo coronavírus, Júlia, que completa oito anos em maio, frequentava a escola em período integral. Estava em plena fase de alfabetização quando as aulas migraram para o modelo remoto. “Essa é uma etapa de desenvolvimento intenso da criança e, por isso, inspira muita atenção. O ensino on-line tem sido um enorme desafio para alunos, professores e pais. Vejo o empenho da escola em dar continuidade no processo de aprendizagem e eu tento fazer a minha parte, estando presente e disponível para acompanhar as lições, orientando e tirando as dúvidas. Conciliar essa função extra em casa com o lado profissional nem sempre é simples, mas toda a família está se adaptando como pode, empenhada em fazer o melhor para a Júlia”, descreve a mãe, Carolina Leipner de Oliveira Barbosa. Além disso, a pequena não esconde que sente saudade do convívio presencial com os amigos. “Para amenizar essa falta e colocar um sorriso no rosto dela, eu me reinvento todos os dias e isso é uma arte. Crio brincadeiras, jogos e desenhos. Trabalho bastante esse aspecto lúdico. Mostro que, em mim, ela encontra também uma amiga e uma companheira para todas as horas. O tempo que passamos juntas está sendo precioso. Sei que, lá na frente, quando pensar nesse período que vivemos agora, teremos uma coleção de boas lembranças. Amor de mãe é amor incondicional”, declara-se.

Porto seguro

A figura da mãe é uma referência de porto seguro, não apenas na infância. Essa relação de amor e de cuidado se estende por toda a vida, só que de diferentes formas. Mãe de quatro filhos jovens, duas moças e dois rapazes, Rosimeire Vitti de Laurentiz conhece bem essa realidade. “Quando crianças, os filhos são totalmente dependentes da mãe, mas, quando crescidos, querem ser independentes, descobrir novos horizontes e se distanciam aos poucos de nós. Que mãe não quer ver seu filho feliz e realizado? Eles são presentes de Deus. Apesar do apego, temos que criá-los para o mundo, estimulando a autonomia desde cedo. Hoje, acompanho orgulhosa a história que eles estão construindo por conta própria, mas, estou sempre aqui, pronta para entrar em ação quando eles precisam ou solicitam a minha presença”, descreve Rosimeire, na foto, ao lado da filha Victória. A pandemia trouxe limitações, desafios e preocupações extras. “Somente nós, mães, sabemos como é difícil convencer os filhos cheios de energia a se privarem de encontrar os amigos, namorados e se divertir, como qualquer jovem saudável na idade deles faz. Precisamos continuar a viver, trabalhar e ir em busca de nossos sonhos, com todo o cuidado que o momento exige. No meio de toda tristeza que essa pandemia trouxe, encontramos um tempo para refletir sobre a importância da nossa família. Inclusive, percebo que, às vezes, nossos papéis se invertem. A mesma preocupação que tenho com eles, eles também têm comigo. Isso é amor”, celebra.

Making of

Assim como aconteceu em agosto do ano passado, na comemoração do Dia dos Pais, a Revide recorreu à tecnologia para viabilizar essa matéria especial. A repórter Paula Zuliani conversou com todas as mães homenageadas por mensagens de texto e áudios enviados pelo WhatsApp. As imagens foram capturadas, prioritariamente, à distância, por meio do aplicativo de ligações de vídeo FaceTime. Os registros foram feitos, com toda sensibilidade, pelos fotógrafos Lídia Muradás e Luan Porto. 

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