Uma ideia para mudar o mundo

Uma ideia para mudar o mundo

Camillo Del Cistia Andrade, Reneide Campelo e Reginaldo Gotardo integram um grupo de empreendedores que investe em ideias inovadoras e explora um setor ainda tímido no município: as startups

Mayb e Camillo acreditam que há espaço para todos quando o assunto é startupInstinto empreendedor, busca à inovação e coragem são as três características que unem o biomédico, doutor em genética, Camillo Del Cistia Andrade, a publicitária com especialização em marketing e administração, cofundadora do Movimento Empreende Ribeirão (Mover) Reneide Campelo, e o professor universitário e doutor em Inteligência Artificial, Reginaldo Gotardo. Ao lado de parceiros, esses empreendedores dão vida às chamadas startups — empresas que buscam a inovação em seu segmento e operam com uma lógica de experimentação rápida, em que ideias, assim que colocadas em prática, mostram -se promissoras e recebem alguns investimentos. Outro ponto em comum é que os três apresentam empresas nascidas em Ribeirão Preto, que integram pesquisas relacionadas a startups brasileiras, com bons resultados. 

Futuro da biotecnologia

Durante o período de formação, Camillo adquiriu experiência em Genética Molecular, Tecnologia do DNA Recombinante e desenvolvimento/produção de proteínas recombinantes. Além disso, participou do desenvolvimento de um projeto que resultou no depósito de pedidos de patentes internacionais entre USP e Inprenha Biotecnologia (Jaboticabal - SP) para a proteção da propriedade intelectual das descobertas obtidas, referente a um processo biotecnológico de melhoria da prenhez de mamíferos que, deve chegar ao mercado no segundo semestre de 2017. 

Em 2014, após alguns anos de estudo e desenvolvimento estratégico, o biomédico fundou a Kimera Biotecnologia, visando ao desenvolvimento de um novo sistema de produção do Hormônio r-eCG, utilizando uma plataforma biotecnológica.

A expectativa da startup é a prospecção e estabelecimento de parcerias para a internacionalização da empresa e acesso ao mercado estrangeiro. Tanto que a empresa participou de uma missão internacional aos EUA, ao lado de outras grandes representantes do setor veterinário e, recentemente, do SPIN2016 em Santiago da Compostela (Espanha), em evento voltado ao empreendedorismo universitário, organizado pela Redemprendia (Rede entre Universidades Ibero-americanas). 

Este é o primeiro projeto de startup realizado por Camillo e a gestora financeira, Mayb Iara Fiats, que chegou até o estágio de abertura da empresa, hoje Incubada (integrada) na Supera, que recebe apoio financeiro por meio do programa PIPE da FAPESP e do Convênio de Cooperação Acadêmica com a USP. “Acredito que em uma startup podemos desenvolver ideias inovadoras novos mercados ou, como é o nosso caso, desenvolver novas metodologias de produção de produtos já existentes”, revela Camillo. 

A Kimera tem como público alvo produtores e pecuaristas que operam programas de reprodução e melhoramento genético animal, laboratórios de produção de embriões in vivo e in vitro, clínicas de pequenos animais especializados em reprodução e veterinários que prestam serviços de reprodução a campo das diferentes espécies. “Nossa expectativa é a prospecção e o estabelecimento de parcerias para a internacionalização da empresa e acesso ao mercado estrangeiro”, explica Camillo, que aposta no crescimento do setor no mercado nacional. “Eu vejo o desenvolvimento das startups e do empreendedorismo no Brasil, principalmente como principal ferramenta de progresso tecnológico, descoberta de novos mercados e de geração de empregos por absorver a demanda de estudantes da graduação ou recém-formados sem exigir experiência prévia, como ocorre com as grandes empresas”, pontua o biomédico.

Em 2016, a Kimera pode dar continuidade às atividades, com a Incubação nas instalações do Biocant – Centro de Inovação em Biotecnologia Cantanhede em Coimbra, Portugal, por meio do Convênio de Desenvolvimento e Cooperação entre Brasil e Portugal.

Inovação sob rodas

Ao notar uma oportunidade de mercado, Reneide viajou de bicicleta, na companhia de uma amiga, e percebeu a importância de informações confiáveis para quem pratica esse esporte:  começou a pesquisar com cicloturistas e trekkers para identificar se esse era realmente um ponto de melhoria. As respostas confirmaram a hipótese inicial. Atenta, também, às necessidades sociais de buscar alternativas para melhorar a mobilidade, a  publicitária, criou a BeYourTrip, que oferece a curadoria de conteúdo de roteiros demarcados e hoje conta com a ajuda do estagiário Hector Grau. 

Este ano, Reneide e Hector representaram a BeYourTrip na Campus Party, um dos maiores acontecimentos de tecnologiaCom apenas dois anos de “estrada” o BeYourTrip reúne pessoas interessadas em turismo de experiência. A empresária comenta que há milhares de roteiros de cicloturismo e trekking no mundo, todavia, muitos praticantes não sabem por onde começar. “Após a viagem de bicicleta com minha amiga, Cristina, percebi a vulnerabilidade de quem pratica esse esporte. Identifiquei o problema real comum (um ponto de dor, como é conhecido pelos empreendedores) e comecei a desenvolver curadoria de conteúdo de roteiros demarcados”, explica Reneide. Após essa primeira experiência com a startup, a publicitária passou a oferecer, gratuitamente, o conteúdo dessa curadoria e, com a alta procura dos usuários surgiu, então, uma nova hipótese que ainda está sendo avaliada — a parceria com agências, operadoras e guias de turismo certificados neste nicho de cicloturismo e trekking.

Antes de iniciar a startup, a publicitária percebeu “uma dor” que o mercado pudesse reconhecer e se dispusesse a pagar pela solução. “Disposição e foco para ouvir o cliente o tempo inteiro são questões principais, afinal, é ele quem avalia se a startup está ou não resolvendo o seu problema”, ressalta, Reneide. Disciplina e metodologia também são fundamentais para a evolução do projeto, na hora de inovar. 

Ao analisar o cenário, Reneide conta que é comum aos que estão iniciando no universo das startups, que atuavam no mercado tradicional e tiveram pouco contato com contextos empreendedores, sentirem dificuldades em promover essa ruptura de comportamento. Por isso, quando iniciou essa jornada, sua primeira atitude foi se aproximar de pessoas e iniciativas ligadas ao empreendedorismo e à inovação. “O ‘ecossistema’ empreendedor de Ribeirão Preto tem evoluído com consistência e relevância”, completa a empresária. 

Através do BeYourTrip, Reneide esteve presente em famosos eventos de inovação, entre eles, Laboratório de Startups da ESPM SP, Startup Weekends (eventos de imersão), Movimento pela Inovação promovido pela Desenvolve SP, aplicação para pré-residência no Supera Parque, workshops, mentorias com empreendedores, C-Levels e investidores e, há um mês, a startup foi selecionada para participar da Campus Party, um dos maiores acontecimentos de tecnologia, inovação, criatividade e cultura digital do mundo. “A participação na Campus Party foi uma excelente oportunidade pela dimensão e pela importância do evento. Durante dois dias, apresentamos nosso Pitch (portifólio) para investidores, empreendedores, parceiros, clientes, órgãos e associações, governo, iniciativa privada, imprensa e curiosos”, comenta, animada, a publicitária. 

Educação inovadora

Organizações mais flexíveis e ágeis do que empresas tradicionais, as startups estão apostando as fichas na integração entre educação e tecnologia. Foi justamente com esse intuito que o professor universitário, Reginaldo, deu vida a Cross Reality. 

Em 2011, ao lado de sua esposa Érica Stamato, atualmente sócia e diretora pedagógica da startup e outros pesquisadores, Reginaldo iniciou um projeto de pesquisa na área de Realidade Aumentada (R.A.). No entanto, devido aos compromissos dos envolvidos, essa primeira formação se desfez. O projeto inicial era um produto singular numa área em ascensão. Porém, o alto custo dos equipamentos necessários para a aplicação de R.A. nas escolas, assim como os de produção dos artefatos de R.A., e as dificuldades de inserção comercial fizeram com que o projeto fosse encerrado. “Ter um ótimo produto, mas não saber como vendê-lo e não ter infraestrutura para recebê-lo vai contra o que uma startup precisa para sobreviver”, avalia o empreendedor. 

Após passar por dificuldades, a Cross Reality, comandada por Reginaldo, conquistou a confiança de pais, alunos e educadoresDesse empreendimento, o diretor executivo da Cross Reality aprendeu que a venda e a inserção do produto devem estar em primeiro plano para tornar um projeto viável. Mesmo assim, Reginaldo e Érica continuaram empenhados em acertar o propósito: melhorar a educação do Brasil por meio da tecnologia. “No final de 2013, focamos numa nova proposta, isso é ‘pivotamos’ (adequamos) a proposta inicial. Em 2014, tivemos o insight de empreender numa área muito deficiente no Brasil e em boa parte do mundo, o ensino da matemática, aliado a outra área sofrível em nosso país que é a gestão, de forma geral, mas focamos na gestão de ensino-aprendizagem”, salienta Reginaldo.

No final do mesmo ano, a primeira versão da Plataforma Educacross estava pronta e, em 2015, chegaram os primeiros clientes. “No momento, estamos presentes em sete estados e no Distrito Federal, e uma parte dos objetivos foi alcançada, mas ainda há muito por vir”, pontua o professor universitário. Além disso, a Cross Reality integra o ranking das 100 startups mais atraentes do Brasil, conforme divulgado pela revista Exame. Para esse ano, a startup lançará o Beta da Plataforma Infantil.
 
Com uma equipe multidisciplinar que conta com 15 profissionais de diferentes áreas, a Cross Reality prioriza a cultura de medir resultados baseados em entregas e feedbacks dos clientes. Para os envolvidos, o fato de atuar na área educacional é um motivador a mais para o trabalho. Reginaldo comenta que, ao receber retorno de pais, crianças, gestores e professores, vê o quão importante é o trabalho da startup. “Entretanto, a área educacional ainda tem muitos desafios no Brasil, como infraestrutura básica na rede pública, principalmente. Mas o que são problemas, também são oportunidades”, ensina o empreendedor.  

Para Reginaldo, o Brasil apresenta oportunidades para startups como aceleradoras, incubadoras, para alguns investidores e fundos. No entanto, a economia do país ainda não é tão propícia para startups e o risco impede tanto o crescimento, quanto a sobrevivência. O empreendedor avalia que as  altas taxas de juros fazem investidores conservadores preferirem deixar o dinheiro em aplicações seguras. Outros fatores que dificultam o crescimento dessas empresas são a carência de profissionais qualificados em algumas áreas e as leis trabalhistas que tornam as contratações mais caras do que em outros países. Entretanto, Reginaldo acredita que as crises trazem momentos de reflexão que impelem o empreendedor a buscar mudanças. “Motores para crescimento de startups seriam uma taxa de juros mais controlada; melhorias nas leis trabalhistas, e a criação de ‘ecossistemas’ de aproximação entre mercados e universidades, para que estas entregassem profissionais mais preparados”, avalia.

Olhar geral para as startups

“O atual cenário econômico inverteu a tendência de empreendedorismo por oportunidade para necessidade”, comenta FlávioEspecialistas como o analista de negócios sênior do Sebrae em Ribeirão Preto, Flávio Augusto da Silva, revelam que o atual cenário econômico inverteu a tendência de empreendedorismo por oportunidade para necessidade. Conforme a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2016, patrocinada pelo Sebrae no Brasil, cerca de 39,3% da população adulta empreende, sendo que 56% o fazem por oportunidade e 44% por necessidade. 

Nos últimos três anos que antecederam a pesquisa, realizada em 2015 e divulgada ano passado, a proporção de empreendedores por oportunidade era de 70%, com 30% empreendendo por necessidade. O aumento de 14% na proporção de empreendedores por necessidade reflete a instabilidade econômica, que impacta, diretamente, no desemprego. “Há, portanto, um estímulo ao empreendedorismo, no momento. Com o mercado de trabalho mais restrito, boa parte dos recém-formados ou em vias de se graduar na faculdade opta por iniciar um negócio”, explica Flávio. 

Para os especialistas, esse cenário somado à vocação do município para a tecnologia, é corroborado pela existência da incubadora Supera, do Parque Tecnológico, do PISO – Polo Industrial do Software e de outras entidades, do próprio Sebrae, que mostram que as startups surgidas na cidade são de base tecnológica. O movimento empreendedor das startups de Ribeirão Preto tende a desenvolver aplicativos que objetivam facilitar a vida do consumidor final ou uma empresa intermediária (mercado B2B). “Há predominância de produtos e serviços para as áreas de tecnologia da informação, equipamentos médicos, hospitalares e odontológicos, biotecnologia e automação, inclusive com soluções para o varejo e para serviços de alimentação fora do lar”, apresenta Flávio. 

O analista ressalta, ainda, que o ambiente da cidade é muito propício ao empreendedorismo, há uma preocupação em auxiliar quem decide empreender. “A startup de Ribeirão Preto surge por oportunidade, em um ambiente incerto, mas com várias entidades de apoio ao empreendedorismo; é composta por jovens com alto grau de especialização, que tem como característica a base tecnológica e foco no produto ou serviço, uma característica que não se limita à cidade. O ‘ecossistema’ de apoio à startup já cuida para que esse ambiente de incerteza não seja um entrave no desenvolvimento desses negócios”, expõe Flávio. 

Adilton Carneiro, diretor presidente da FIPASE, explica que o termo “startup” vem se popularizando no Brasil, nos últimos anos, segundo pesquisas recentes. “Nas grandes capitais o movimento empreendedor é mais intenso, mas, já observamos o crescimento deste movimento em cidades do interior, como Ribeirão Preto”.

Conforme Adilton, o número de startups tende a aumentar no município, principalmente devido ao desenvolvimento tecnológico e aos ambientes de apoio ao empreendedorismo, como o Supera que auxilia empresas de base tecnológica a desenvolverem seus negócios até estarem aptas atuarem no mercado. Ao todo, são 62 empresas instaladas no Parque: 46 na Supera Incubadora de Empresas de Base Tecnológica; 11 no Centro de Negócios e 5 na aceleradora SEVNA Seed. 

Adilton pressupõe que a consolidação financeira é apenas um dos fatores que tornam uma startup um empresa consolidada. “Antes disso, é necessário a validação do modelo de negócios, tornando-a escalável e sustentável”, pontua. 

Os especialistas ressaltam que é nessa primeira fase que acontece a mortalidade das startups. Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral constatou que 25% das startups deixam de existir antes de completarem um ano; que 50% das que ultrapassam esse período desaparecem antes de chegar aos quatro anos e que 75% das startups fecham antes de completar 13 anos. “Considerando as pesquisas, tanto pelos dados levantados pelo Sebrae, quanto pela Fundação Dom Cabral, se pode afirmar que uma em cada quatro startups não passa do primeiro ano de existência”, completa Flávio.

Todavia, se o empreendedor estiver na posição de criador da startup, normalmente, a visão é de que há inúmeras possibilidades a serem trabalhadas para aproveitar as oportunidades que o mercado consumidor oferece, com isso, a mortalidade é apenas um impulso para quem deseja emplacar um projeto. 

Assim, para quem empreende criando uma startup, o olhar é de que há muitas necessidades, dores ou problemas dos consumidores passíveis de serem resolvidos por um negócio novo, escalável e repetível. Vê-se sob essa ótica que o empreendedor da startup trabalha com possibilidades e não com certezas. Isso é o cenário incerto no qual o modelo de negócios surge e vai permanecer assim que a ideia seja validada e o modelo se mostre viável. 

Anatomia de uma startup

O que é?

A Startup é um modelo de negócios que contém inovação, é receptível e escalável, iniciado por uma ou mais pessoas, que trabalham em condições de incerteza, porém, com grandes expectativas de sucesso.

Startups em números
O número de Startups, em estágio inicial, no Brasil chegou a 4.151 ao final de dezembro de 2015, um crescimento 
de 18,5% em apenas seis meses. São Paulo lidera a lista de estados com o maior número de empreendimentos. Em dezembro de 2015, o número de startups paulistas cadastradas passou de 1,2 mil. O Estado de Minas Gerais está em 2º lugar no ranking, com 356 startups.

Para começar...
• Tenha a proposta de solução para um problema real
• Valide a idade que irá impactar o público alvo
• Crie um produto viável, de baixo custo, para testar a ideia
• Monte um time que compartilhe a ideia
• Participe de programas relacionados à área
• Apresente seu projeto ao maior número de pessoas
• Arrisque. O medo de errar limita a ideia

Estrutura
40% - têm 2 fundadores
39% - têm 1 fundador
19% - têm 3 fundadores
4% - têm 4 fundadores

Quem são:
34% - começam entre 20 e 29 anos
40% - começam entre os 30 a 39 anos
20% - começam entre os 40 e 49 anos
5% - começam após os 50 anos
39% - eram CEOs ou fundadores
38% - tinham outras funções
10% - eram diretores
5% - eram gerentes

Elas fizeram a diferença?.
• Contabilizei: plataforma de contabilidade para micro e pequenas empresas administrada de forma on-line
• Dr. Cuco: aplicativo que funciona como uma “enfermeira digital”, tornando possível receber lembretes de medicamentos
• Me Passa Aí: conhecida como “Netflix dos estudos universitários”, os estudantes assinam o serviço e acessam videoaulas


 

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