A cidadania como prioridade

A cidadania como prioridade

A consciência de que todo cidadão precisa participar ativamente da democracia pautou a trajetória, pessoal e profissional, do advogado Jorge Sanchez, sócio-fundador da Sanchez e Sanchez Advocacia

Com 33 anos de história na advocacia e uma carreira consolidada, também, como professor e palestrante, Jorge Sanchez possui um extenso currículo. No papel de docente, foi coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Moura Lacerda, onde lecionou Processo Civil e Práticas Jurídicas. Na Universidade Paulista (Unip), lecionou Direito Processual Civil, matéria em que é especialista e mestre. Também especializou-se em Transparência Pública e Combate à Corrupção, tendo realizado uma série de cursos e de palestras sobre o tema no Brasil e no exterior. 

Natural de Ribeirão Bonito, o advogado foi presidente do Conselho e da Diretoria da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) Amigos Associados de Ribeirão Bonito (Amarribo) Brasil, entidade que nasceu despretensiosamente e se tornou um modelo a ser seguido por cidadãos interessados em participar ativamente da fiscalização das ações do poder público, especialmente no âmbito municipal, e fazer a diferença no combate à corrupção. Na entrevista a seguir, o advogado resume a história da Organização que ajudou a fundar e mostra que é possível conciliar a atuação cidadã e a administração de uma carreira bem-sucedida.

Como aconteceu seu envolvimento com a transparência e o combate à corrupção?

Sanchez: Tanto na minha vida pessoal quanto profissional, sempre fui pautado pela crença de que é importante exercer a cidadania em sua plenitude. Isso quer dizer que é preciso entender a sociedade civil como parte fundamental no exercício da democracia. Acredito, também, que as instituições serão cada vez mais fortes quando a sociedade civil se mantiver organizada para exigir do setor público, não apenas uma postura legal e constitucional, mas também ética e moral. 

Como surgiu a organização Amigos Associados de Ribeirão Bonito?

A Amarribo surgiu com a união de conterrâneos de Ribeirão Bonito que saíram da cidade para desenvolver suas carreiras e, esporadicamente, encontravam-se por lá. A intenção do grupo era devolver à cidade um pouco das conquistas alcançadas fora. O projeto inicial era apenas restaurar a capela da cidade, seu único ponto turístico, o que foi vetado pela Administração Municipal. Enquanto tentávamos viabilizar a restauração da igrejinha, começamos a receber mensagens anônimas apontando suspeitas de corrupção em várias frentes. Diante disso, decidimos nos envolver ativamente na solução dos problemas da cidade.

Quais foram as primeiras atitudes do grupo?

A primeira iniciativa foi contratar uma auditoria para investigar as falhas que a população apontava. Nesse processo, ficou claro que havia muito a ser corrigido. Um caso emblemático foi o da merenda escolar, que acabou revelando um amplo esquema de emissão de notas frias baseado na cidade de São Carlos, que envolvia inúmeras prefeituras da região. 

Quais foram os principais problemas evidenciados em Ribeirão Bonito?

Por lá, encontramos a situação dominante na maioria das cidades brasileiras: o Legislativo, em sua maioria, compunha a base do governo municipal e, por isso, não desempenhava o papel de fiscalizador como deveria.

Como a atuação da Amarribo mudou o cenário?

Quando decidimos nos envolver na defesa de Ribeirão Bonito, convocamos uma audiência pública que contou com 2 mil pessoas — em uma cidade de 12 mil habitantes. A partir daí, o Legislativo passou a cumprir seu papel e iniciou um processo de investigação que culminou na cassação do então prefeito. É importante ressaltar que, nessa empreitada, todas as instituições funcionaram e, somente por isso, foi possível mudar a situação de Ribeirão Bonito naquele momento.

Quais foram os desdobramentos da Amarribo?

Essa experiência foi intensamente noticiada e, por isso, deu visibilidade ao grupo. Passamos a ser procurados por cidadãos do Brasil inteiro, interessados a desenvolver ações semelhantes em suas cidades. Assim, decidimos escrever uma cartilha, intitulada “O Combate à Corrupção nas Prefeituras do Brasil”, que já está na 5ª edição. Disponibilizamos todo o material em um site e abrimos o acesso à população. Começamos a viajar levando a experiência da Amarribo para todos os cantos do país e passamos a responder as dúvidas da população. Esse trabalho voluntário contou com o apoio de diversas empresas para o custeio das viagens e dos livros, distribuídos gratuitamente em palestras e outros eventos. 

Esse trabalho deu frutos?

Sim, a Rede Amarribo foi formada a partir de 2006, como uma consequência natural dessa atuação, que indicava o caminho para que a sociedade civil pudesse agir. Para mim, este foi o principal legado da Amarribo: empoderar as pessoas, dando a elas as ferramentas necessárias para atuarem ativamente como sociedade civil organizada.

Em que momento a Amarribo ganhou visibilidade internacional?

Maior organização anticorrupção do mundo, sediada em Berlin, a Transparência Internacional estava em busca de uma entidade para representá-la no Brasil, por isso, procurou nosso grupo. Foi uma parceria muito enriquecedora, que nos deu a possibilidade de palestrar, por exemplo, na Grécia, na Tailândia e outros países. Em 2012, realizamos a International Anticorruption Conference (IACC), um evento que envolveu 140 países e 1900 pessoas, em Brasília, uma experiência fantástica. Costumo destacar que a Amarribo é um case extremamente positivo, que pode ser replicado com facilidade, e talvez seja um caminho para a solução do problema da corrupção do Brasil. Sem a real participação da sociedade, é impossível avançar nesse sentido.

Como está a situação de Ribeirão Bonito hoje?

Depois dos processos intimamente relacionados à Amarribo, houve outro prefeito e dois vereadores cassados. Depois disso, houve um período de boa administração. Vale lembrar que, para ser um bom governante, em qualquer esfera, não basta ser honesto: é preciso ser um bom gestor. Nesse sentido, ainda creio que seja possível contribuir mais. 

É possível dizer que a situação melhorou?

Muito. Ribeirão Bonito comprovou que, quando não há corrupção, sobra dinheiro em caixa nos municípios. A arrecadação no Brasil, de maneira geral, não é um problema. A questão é, além dos desvios, a má gestão. 

Como avalia a situação de Ribeirão Preto?

Por aqui, o maior desafio do próximo prefeito será sanear as contas públicas. Para mim, é inadmissível que um município que arrecada mais de R$ 2 bilhões não consiga investir. Uma das primeiras medidas do próximo prefeito poderia ser contratar uma auditoria e avaliar a real situação.

Além da atuação junto a Amarribo, o senhor comanda um grande escritório de advocacia. Como faz para Em Ribeirão Preto, o maior desafio do próximo prefeito será sanear as contasconciliar todas as atividades?

O Sanchez e Sanchez, hoje, possui mais de 500 funcionários, cerca de 150 são advogados. São três unidades em Ribeirão Preto, além de filiais em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,  Curitiba, Vitória e Uberlândia. Prestamos serviços para diversas instituições, nacionais e multinacionais, de setores variados. Há, ainda, a Sanchez e Sanchez Crédito e Cobrança, que faz a recuperação de créditos ainda não ajuizados, empresa que emprega outras 200 pessoas. Para atuar em tantas frentes, costumo dedicar minhas horas livres para as atividades junto a Amarribo. Além disso, estou democratizando o poder nas empresas. Tenho diversos sócios, formando um uma equipe bem estruturada. Há anos, o escritório é administrado como uma empresa. Aqui, aplicamos os bons princípios e conceitos da administração. Isso me ajuda a manter o foco na elaboração de estratégias para os negócios e na construção institucional das empresas.

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