Fios de cobre furtados

Fios de cobre furtados

Apenas no primeiro trimestre de 2017, o número de furtos de fios de cobre foi maior do que em todo o ano passado; com 75 ocorrências, mais de 4.600 metros de fios foram subtraídos por criminosos

Material usado para a iluminação pública e para as telecomunicações, o fio de cobre é alvo cada vez mais constante da ação de criminosos em todo país. Em Ribeirão Preto não é diferente. O furto da fiação causa prejuízos à administração municipal, que precisa repor o material, e à população, ao deixar pontos da cidade sem luz, aumentando a insegurança dos habitantes. Entre os locais que mais sofrem com este tipo de crime estão os centros médicos, os espaços culturais, as obras do Departamento de Água e Esgoto da cidade (Daerp) e as sinalizações semafóricas das ruas e avenidas.

De 2015 a março de 2017, mais de 11 mil metros de fios de cobre foram furtados em Ribeirão PretoDe acordo com a Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Ribeirão Preto (Transerp), neste ano, a média diária de ocorrências em Ribeirão Preto corresponde a 0,83 ocorrências, resultando em um prejuízo estimado de R$ 36.800,00. Os horários com maior registro de furto são nas primeiras três horas da madrugada. A Transerp orienta os motoristas e os pedestres a, em caso de suspeita de furto de cabos de semáforos, ligarem para a Polícia Militar no 190.

Em 2015, houve 36 ocorrências, que significaram 2.515 metros de cabos furtados. Já em 2016, foram registradas 72 ocorrências, o que representou 4.488 metros de cabos furtados. Neste ano, os números do primeiro trimestre geram preocupação. De janeiro a março deste ano, foram 75 ocorrências e 4.615 metros de cabos furtados na cidade. No total, os três anos somados chegam a 172 ocorrências, um total de 11.603 metros de fios de cobres furtados. 

Multa

A Constituição Federal de 1988 prevê, no artigo 144, que a segurança pública é um “dever do Estado” e um “direito Para o delegado João Osinski, receptor do produto furtado também precisa ser mais penalizadoe responsabilidade de todos” e que ela é exercida “para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. O Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940) prevê, no seu artigo 155, uma pena de reclusão de dois a quatro anos e multa para quem comete o crime de furto. Se o crime envolve duas ou mais pessoas (situação comum aos casos de invasão à residência) ou mediante escalada, a pena é mais alta: reclusão de dois a oito anos e multa.

O delegado da Polícia Civil, João Osinski, diz que existe uma necessidade de mudança na legislação federal para fechar estabelecimentos que compram esses produtos. “Atualmente, é preciso encontrar os fios com a identificação para enquadrar como produto furtado. Entretanto, como os criminosos queimam a capa deixando apenas o cobre para venda, eles ficam livres. Se houvesse uma lei federal que os obrigassem a comprovar a origem daquele material, ajudaria”, garante o delegado. 

Segundo Osinski, os bandidos furtam os fios para vender como sucata e faturar um bom dinheiro, que, muitas vezes, é trocado por drogas. “Os ladrões queimam e cortam o fio em pedaços, para que o comprador pense que aquilo é um produto sucateado. Isso dificulta a comprovação da origem dos itens. Por conta disso, o criminoso fica livre nas ruas. Às vezes, até pegamos o ladrão, mas é bem difícil efetuar flagrantes”, continua.

Operação

No final de março, o Ministério Público e a Polícia Militar realizaram uma reunião com representantes da prefeitura de Ribeirão Preto para combater o furto e a receptação de cabos da fiação elétrica e semafórica do município. A operação contou com o apoio da Transerp (reconhecendo a fiação furtada dos semáforos), do Daerp (avaliando as ligações clandestinas de água), da Secretaria Municipal de Saúde (detectando os focos da dengue e animais peçonhentos), da Fiscalização Geral (analisando os alvarás dos estabelecimentos) e da Guarda Civil Municipal (no apoio à PM). Ainda participaram da operação funcionários e fiscais da Vivo Telefônica, da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, da Cetesb e da CPFL. Ainda estiveram presentes os promotores do Ministério Público Estadual, Naul Luiz Felca e Edward Ferreira Filho (Habitação e Urbanismo).

Quatro estabelecimentos foram lacrados pela Fiscalização O promotor Naul Felca destaca que esses crimes revelam, também, um sério problema socialGeral devido à constatação de irregularidades, como ligações ilegais de energia elétrica e furto de água. Além disso, foram encontrados criadouros do mosquito Aedes aegypti pela Secretaria da Saúde. 

As ligações clandestinas foram interrompidas pelo Daerp e pela CPFL. Os depósitos vistoriados ficam localizados nas ruas Guiana Francesa e México, no bairro Vila Mariana, e na Silveira Martins, nos Campos Elíseos (próximo ao Parque Industrial Tanquinho). A ação foi realizada após constantes furtos de cabos de semáforos, principalmente nos bairros Campos Elíseos, Vila Virgínia, Ipiranga e imediações do Jardim Paiva.

Para o promotor Naul Felca, além dos crimes, há uma questão de cunho social na ação. “O papel do município é importante e, infelizmente, percebemos uma falta de comprometimento da Secretaria Municipal de Saúde e da Prefeitura”, afirma o promotor.  

Saúde do Munícipio

A chefe da Divisão de Gerência Administrativa e Apoio do munícipio, Carla Fernanda Rehberger, conta que, por entender necessário e importante, além dos agentes de segurança, a Secretaria da Saúde mantém alarme com monitoramento 24 horas e câmeras de circuito fechado. “Na área interna é realizada roçada e poda de galhos, periodicamente, de acordo com a necessidade; além disso, é feita manutenção da iluminação, colocação e reparos da concertina. Nos terrenos externos, sempre que solicitada roçada, poda ou extração de árvores, encaminhamos a demanda (através de ofício) à Coordenadoria de Limpeza Urbana e/ou Secretaria do Meio Ambiente. A Guarda Civil Municipal é acionada quando necessário, em parceria com a Secretaria da Saúde, para prevenção e segurança dos profissionais e do patrimônio público”, afirma Carla.
Fios de cobre desencapados.
A Unidade Básica de Saúde (UBDS) Jardim Heitor Rigon, na Zona Norte de Ribeirão Preto, teve as atividades paralisadas no início de abril. O não funcionamento do Centro Médico ocorreu em razão de um furto de fios. A Secretaria Municipal da Saúde informou que os ladrões entraram na unidade, abriram a caixa de força e puxaram os fios, incluindo os de iluminação pública. Este caso não foi o único registrado na cidade. A Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Adão do Carmo, Doutor Luiz Philipe Tinoco Cabra, também paralisou as atividades no início de maio em razão do furto de fios no local. 

De acordo com a Coordenadoria de Comunicação Social da Prefeitura, equipes de manutenção própria e da CPFL trabalharam para o rápido restabelecimento da energia. Em uma rede social, o Sindicato dos Servidores Municipais disse que objetos foram furtados, portas danificadas e concertinas arrancadas. O grupo afirmou que a UBS não conta com um profissional de segurança, mas, de acordo com a Prefeitura, a unidade possui sistema de alarme com monitoramento.

Água e esgoto

Apenas na zona norte de Ribeirão Preto, Daerp registrou três furtos que prejudicaram o abastecimento da populaçãoNa madrugada de 3 de janeiro de 2017, bandidos roubaram os fios de uma bomba de um poço de captação de água no Quintino Facci I. Segundo o Daerp, o furto de cabos elétricos no poço provocou a queima da bomba. 

Já o segundo registro ocorreu no Jardim Jóquei Clube, sem data confirmada. Ambos os casos prejudicaram moradores da Zona Norte. O terceiro registro ocorreu no dia 18 de abril, quando moradores do Jardim Heitor Rigon ficaram sem água por conta de um furto na fiação de um poço localizado no bairro. Os três casos aconteceram na Zona Norte de Ribeirão Preto. 

O Daerp informou que, em 2016, o prejuízo foi de R$ 4,9 milhões, em razão do furto da fiação de 55 poços artesianos durante o ano passado, o que equivale a aproximadamente um delito por semana. Nenhum suspeito foi preso ou identificado.

Em cada caso, a autarquia afirma que gastou em torno de R$ 90 mil, incluindo custos com mão de obra, horas extras e reposição de peças. O órgão informou que está tomando medidas protetivas para dificultar novos crimes, tendo solicitado o estudo de custos e condições técnicas para a instalação de monitoramento e alarme nos poços onde as instalações estão mais vulneráveis.

Cultura 

Desde 2016, Teatro de Arena não tem iluminação por causa do furto de fios de cobreNo início do ano, um eletricista de 30 anos foi detido tentando furtar a fiação do Teatro Municipal, na Zona Norte de Ribeirão Preto. M. N. foi surpreendido pela Guarda Civil, às 15h do dia 30 de janeiro. De acordo com as informações do boletim de ocorrência, o suspeito foi visto por uma testemunha cortando os fios da casa de energia do local. Ele foi preso pelos guardas ainda com as ferramentas utilizadas para o furto.

A Secretaria Municipal da Cultura confirmou que houve um furto, mas disse que a energia do Teatro Municipal não foi interrompida. Em nota, a Prefeitura ainda informou que o Teatro de Arena está sem energia desde o ano passado, devido a outro furto de fios de cobre. Eles destacam que a Guarda Civil Municipal intensifica a ronda no local. O eletricista foi preso em flagrante e encaminhado ao Centro de Detenção Provisória de Ribeirão Preto. 




Texto: Pedro Gomes

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