Identidade ribeirãopretana
Concurso cultural escolherá uma marca para representar a essência de Ribeirão Preto. Logotipo e slogan deverão revigorar a imagem da cidade, dando uma nova cara para o comércio e o turismo local
Pensar em uma marca, criar um planejamento de mercado, atender às demandas do público-alvo e cativar os clientes. Pode até parecer a estratégia de marketing de uma empresa, mas é assim que um grupo de publicitários e designers pretende pensar em uma nova imagem de Ribeirão Preto para o Brasil e o mundo.
Com o objetivo de instaurar um processo estratégico para inserir a cidade na discussão contemporânea sobre Marketing de Lugar — conceito que já é aplicado em Curitiba, Parati, Nova Iorque, Dubai e Amsterdam —, os sócios Paula Russo e Augusto Carminati estão promovendo um concurso cultural, gratuito e aberto para a população, para a criação de uma logomarca para Ribeirão Preto. “Observamos que, historicamente, lugares que fazem esse tipo de ação, tendem a uma elevação da autoestima, na busca por investimento e em vários outros aspectos que são positivos para a cidade”, explica Paula Russo, idealizadora do projeto e proprietária da Immaginare Escola de Criação e Design. 
O concurso
Para participar, o interessado pode acessar a página Place Branding Ribeirão Preto e enviar suas ideias. A inscrição é gratuita e vai de 28 de setembro até 10 de novembro. Um comitê formado por 17 jurados escolherá as cinco melhores ideias. O voto final será dado pela população ribeirãopretana. A votação aberta acontecerá até 11 dezembro, para que, no dia 12, o slogan vencedor seja premiado e eleito como a nova cara da cidade. “A pessoa vai criar um conceito, uma logo e o slogan que acha que seja a cara de Ribeirão Preto e que reflita sua imagem. Já foi dito que a cidade é a ‘Califórnia Brasileira’, a Capital do Agronegócio, do Café e da Cerveja; agora, é hora de reunir tudo isso em uma única ideia”, explica Paula.
Marketing de lugares
O Marketing de lugares é um método que abrange todo o corpo de conceitos e de práticas do planejamento estratégico de marketing que se aplicaria normalmente a empresas, mas em comunidades, cidades, estados, regiões e países. “Embora a popularidade do marketing de lugar tenha aumentado significativamente durante as últimas três décadas, este não é um fenômeno recente. Grandes cidades e reinos já praticavam a modalidade de marketing, uma tentativa consciente de moldar uma identidade local especificamente projetada e promovê-la aos mercados internos e externos”, explica o professor, publicitário e doutorando pela UFSCar em Análise do Discurso e Filosofia da Arte, João Flávio de Almeida.
Em Ribeirão Preto, o projeto teve a chancela da Prefeitura, da Associação Comercial e Industrial (ACIRP) e também de marcas tradicionais do município, como a Cervejaria Colorado e a Sorveteria do Geraldo. O lançamento da campanha aconteceu no Salão Nobre da Prefeitura, no dia 26 de setembro. Estiveram no evento o vice-prefeito, Carlos Cezar Barbosa, o secretário do Desenvolvimento Econômico, Edmilson Domingues, e os criadores do projeto. Para a idealizadora, o uso da nova marca deve ser incentivado em todos os setores da sociedade. “Que Ribeirão Preto use e tenha uma marca da qual ela se orgulhe, uma marca que possa estampar camisetas, canecas e outros itens. Deve ser uma fonte de atração e de boa reputação da cidade”, propõe Paula.
Busca pela identidade
Augusto Carminati analisa que nem sempre a técnica apurada vence esse tipo de competição. “Pode ser que não seja o fator técnico o mais determinante para a legitimação junto à população, às vezes é somente o fator criativo”, argumenta. Já o professor João Flávio de Almeida aponta as dificuldades que os participantes podem enfrentar no dilema de se criar uma identidade para a cidade. “Devemos, primeiramente, pensar na possibilidade de estabelecer um conceito para um sistema tão complexo e heterogêneo como uma cidade. O que é Ribeirão Preto? Quem são os ribeirãopretanos? É possível encontrar um fundamento sólido sobre o qual se possa sustentar uma identidade que conjugue tantos espaços radicalmente diferentes, tantas culturas e comportamentos?”, questiona Almeida.
O publicitário ainda alerta os participantes do concurso sobre um detalhe importante e muito complexo nesse processo: não silenciar nenhum segmento da cidade. De acordo com o professor, ao afirmar, por exemplo, que Ribeirão Preto é a “Terra do Agronegócio”, deixa-se de lado comerciantes, médicos, trabalhadores informais, advogados e etc. “Estamos falando de captar uma essência ou de prescrever uma? O problema é que quando prescrevemos uma identidade, silenciamos e esquecemos tantas outras”, finaliza Almeida.
Campanhas de sucesso
I Love NY
No início dos anos 70, o comércio de Nova Iorque não ia tão bem. Para alavancar as vendas, o Departamento do Comércio da cidade contratou uma prestigiada agência publicitária, a Wells Rich Greene, para desenvolver uma campanha de marketing para alavancar o turismo e os negócios na cidade.
A agência convocou o designer Milton Glaser para desenvolver o logotipo que entraria para história da cidade e da publicidade. Após apresentar várias ideias que não foram aprovadas, Glaser tirou do bolso um papel dobrado com o famoso logotipo “I LOVE NY”. Até hoje, o pedaço de papel está exposto no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.
Iamsterdam
Outro marketing de lugares que pegou, só que do outro lado do oceano, foi o de Amsterdam, na Holanda. O “Iamsterdam” (um trocadilho com a frase “I am Amsterdam” ou “eu sou Amsterdam”), segundo o site criado para a campanha, surgiu também da necessidade do comércio e do turismo de alavancarem os negócios. Porém, acabou ganhando vida própria e se tornou um slogan dos moradores da cidade.
