Procura-se um dono fiel
Animais devolvidos após a adoção podem sofrer traumas

Procura-se um dono fiel

Pandemia faz aumentar adoção de animais, mas ONGs também registram devoluções

Desde o início da pandemia, o número de adoções de animais cresce. Segundo Virgilio Martins, fundador e diretor da Associação Amigos dos Animais de Ribeirão Preto, entre o final de 2020 e o começo de 2021, foram realizadas cerca de 130 adoções responsáveis. Contudo, à medida em que aumentou esse número de adoções, também cresceu a quantidade de devoluções. Uma das hipóteses para esse comportamento está relacionada à volta gradativa das pessoas ao trabalho. “Acredito que as devoluções estejam acontecendo com maior frequência em razão do retorno dos trabalhos presenciais. Quem pegou um animal só por companhia, quando volta ao trabalho, acha que não tem mais necessidade de tê-lo e devolve para a ONG. Além disso, percebem, nesse momento, que ter um animal não depende somente de amor e carinho, mas de responsabilidade, cuidados e até mesmo de gastos”, afirma Virgilio.

A consequência das devoluções é sentida diretamente pelo animal, como afirma o médico veterinário Mussi A. de Lacerda. “Essas ações são transformadas em traumas para o animal. A partir daí, ele pode ter mudanças de comportamento e uma adaptação mais complexa na próxima família, mas nada que uma adoção responsável com muito amor e carinho não possa mudar essa realidade”, argumenta.

Na ONG Amigos dos Animais, por exemplo, há duas cadelas que foram adotadas e devolvidas por duas vezes. Com a última família, elas permaneceram por 6 meses antes de serem devolvidas. “Hoje, percebemos que elas olham bastante para o portão, como se estivessem esperando as donas voltarem, porque entendem que estão aqui para brincar e que no final do dia vão voltar para casa”, afirma Virgilio.

Antes mesmo da adoção há procedimentos a serem seguidos. Um deles é uma entrevista, a fim de obter informações sobre o ambiente em que ficarão os animais e a rotina da família. Quando liberada a adoção, há um termo de compromisso que deve ser seguido confirmando a responsabilidade de cuidado, depois, durante certo período, o acompanhamento segue através do WhatsApp, mantendo contato para saber como o animal está.

Adotados com amor

Ao contrário das situações em que o novo membro da família é devolvido, com o casal Rafael Vieira e Edson Júnior a história tem final feliz. Simba e Paçoca foram adotados com cerca de dois meses de vida e hoje têm dois anos e um ano, respectivamente. Simba também foi vítima de devolução, mas agora tem um lar com muito amor. Para os donos, é difícil mensurar a felicidade, o amor e a gratidão de ter os cães por perto. “Tudo começou quando tínhamos decidido adotar um cachorro quando mudássemos para o novo apartamento. Por coincidência, no mesmo final de semana em que mudamos, acontecia uma feira de adoção no shopping vizinho. Já tínhamos visto o Simba pela rede social da ONG que estava organizando a feira. Quando chegamos lá, ele já havia sido adotado. Três dias depois, vimos uma nova postagem de que ele havia sido devolvido pela família. Era a segunda vez que isso acontecia. Se já tínhamos nos apaixonado por ele, isso nos comoveu ainda mais. No dia que fomos buscá-lo na ONG, entre todos os cachorros que havia, ele foi o primeiro a correr para nos receber quando entramos. Parece que já sabia que era a família dele chegando”, conta Rafael.

Simba e Paçoca ganharam um novo lar, cheio de amor, com Rafael e Edson

Com a pandemia e o maior tempo em casa, foi fácil observar que, mesmo com a companhia dos pais, Simba se sentia sozinho. Após a adoção dele, passaram a acompanhar mais de perto o trabalho de algumas ONGs e, assim, encontraram mais uma postagem, dessa vez sobre o resgate de três filhotes em uma região carente da cidade. Foi aí que resolveram trazer a pequena e brava Paçoca para casa. Graças a muito carinho, ela se tornou receptiva e cheia de dengo.

No caso de Renan Sousa e Lidiane Lamonato, não foi necessário que uma ONG intermediasse a chegada de Charlotte. O casal que sempre teve vontade de adotar um cachorrinho esperou a oportunidade de se mudar e morar junto para arrumar uma companheira para a Pérola, a Shitzu que já fazia parte da família.

Charlotte apareceu em um anúncio no Facebook afirmando que ela havia sido abandonada e encontrada dentro de um guarda-roupa. Entraram em contato e, no outro dia, já estavam com ela em casa cuidando da saúde da cachorrinha. “A importância da adoção é que em nenhum outro lugar no mundo você vai encontrar tanta gratidão pelo amor e pelo lar que foi recebido. Vemos isso na Charlotte mesmo quando ela nos acorda com pulos e lambidas antes do horário que devemos acordar”, ressalta Lidiane.

Tanto Rafael e Edson quanto Renan e Lidiane acreditam que o ato da adoção seguido pela devolução é um desrespeito com os animais. “Adotar não é somente o ato de dar um lar. Eles possuem anseios, necessidades, vontades e acredito que algumas delas podem não agradar os adotantes”, afirma Edson.

Quem adotou animais e garantiu uma família fiel a eles garante: a retribuição vem com carinho recíproco e gratidão.

Texto: Marissa Mendonça

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