Sem destinação
Obra foi anunciada em 2014 e instituto deveria estar em funcionamento em prazo máximo de quatro anos

Sem destinação

A Prefeitura de Ribeirão Preto informa que “inexistem recursos” para a construção do Instituto Federal de Educação no prédio da antiga Cianê que, apesar das inúmeras promessas, continua sem destinação

A Prefeitura de Ribeirão Preto afirma que “inexistem recursos” para a construção de uma unidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (IFSP) na área onde funcionou a antiga fábrica Cianê-Matarazzo. Por meio de nota, o Secretário de Planejamento e Gestão, Edsom Ortega, declarou que a Comissão do Patrimônio Imobiliário estuda alternativas para a destinação da Cianê. “Inclusive quanto a aspectos do tombamento realizado antes do incêndio que destruiu o galpão existente, o que hoje restringe a sua destinação”, salienta o secretário.

Contudo, paralelamente à discussão do IFSP, a Câmara de Vereadores criou uma Comissão Especial de Estudos (CEE) para analisar a necessidade de implantação de um centro administrativo no local. A Comissão, formada pelos vereadores Alessandro Maraca (PMDB), Maurício da Vila Abranches (PTB) e Elizeu Rocha (PP) pretende criar um prédio que reúna todas as secretarias municipais em um único espaço. Sobre a Comissão, Ortega pondera que visitas já foram feitas no local com o objetivo de identificar alternativas de uso das estruturas que estariam comprometidas pelo incêndio. O secretário de Planejamento e Gestão, Edsom Ortega, declarou que a Comissão do Patrimônio Imobiliário estuda alternativas para a destinação da Cianê
Questionado sobre o aproveitamento do prédio, o IFSP confirmou que ainda tem interesse em instalar uma unidade em Ribeirão Preto e que só aguarda a liberação do Ministério da Educação (MEC).  O MEC informou que essa decisão depende da reitoria do Instituto, por conta da autonomia prevista na Constituição Federal. O Ministério alega que apenas repassa recursos aos institutos e os reitores decidem onde e como serão aplicada as verbas.

Em novembro de 2015, o MEC já havia sinalizado a falta de recursos para repassar aos institutos. Na ocasião, o Ministério declarou que as obras estavam “temporariamente suspensas”. A informação foi confirmada pela assessoria de comunicação do IFSP, garantindo ainda que não é possível definir novas datas e valores do projeto. “Em sintonia com a suspensão, não existe nova agenda, bem como inexistem pendências com as prefeituras envolvidas”, informou em nota.

Promessas descumpridas
Antes da promessa do IFSP, a antiga fábrica das Indústrias Reunidas Matarazzo, que funcionou de 1945 a 1981, foi alvo de outras especulações. Já se cogitou a instalação de uma Faculdade de Tecnologia (Fatec), mas o Governo do Estado escolheu uma área na Vila Virgínia para a implantação. Especulou-se, também, a construção de uma nova rodoviária no local, mas o projeto nunca saiu do papel. A possibilidade de construção do IFSP em Ribeirão Preto começou, no final de 2013, quando a ex-prefeita Dárcy Vera assinou um termo com o reitor da instituição de ensino, Eduardo Modena. 
A confirmação de que o instituto seria construído naquele local, com o aceite do próprio reitor da IFSP, saiu em março de 2014. Em junho do mesmo ano, após aprovação na Câmara de Vereadores, foi sancionada a lei complementar nº 2665, garantindo a doação do espaço ao Instituto. No documento constava que, na cotação da época, o terreno de 39 mil m² estava avaliado em R$ 11 milhões. Ainda segundo a lei de autoria do Executivo municipal, o IFSP deveria providenciar o funcionamento da unidade de ensino no prazo máximo e improrrogável de quatro anos, sob pena de a doação ser rescindida pelo município.

Em julho de 2014, a ex-prefeita, Dárcy Vera, realizou uma solenidade em que anunciou a entrega do documento de transferência do terreno da fábrica para a construção do IFSP. As obras estavam previstas, até então, para serem O ex-deputado federal pelo PT, Newton Lima, chegou a apresentar uma emenda para liberar recursos iniciadas em dezembro de 2014 com recursos federais da ordem de R$ 27 milhões. Os recursos viriam por meio de uma emenda parlamentar do ex-prefeito de São Carlos e ex-deputado federal pelo PT, Newton Lima. “Após 30 anos desativada, a área onde está edificada a Cianê-Matarazzo está sendo destinada para construção de uma Unidade de Educação Profissional Federal de Ribeirão Preto. O Instituto abrigará um centro de formação educacional, que pretende formar anualmente cerca de 1.200 alunos. As obras devem iniciar em dezembro de 2014 e contarão com verba federal, por meio de emenda parlamentar do deputado federal Newton Lima no valor de R$ 27 milhões”, declarou a Prefeitura após a solenidade. 

 Desde então, a implantação da unidade permanece somente na promessa. Parte do terreno, que não inclui os prédios da Cianê, foi vendida para uma rede atacadista, enquanto o restante segue acumulando mato alto e lixo. Moradores de rua que aproveitam o abandono do local para se abrigarem. Em frente ao terreno, desde 1983, funciona uma barraca de caldo de cana e água de coco. Vicente Bertanha, que a herdou do sogro, conta como é conviver com as ruínas da Cianê. “Antes de o atacado comprar parte do terreno, nem cerca tinha. Foram eles que colocaram isso”, explica Bertanha, apontando para o novo alambrado. “Deu uma melhorada, mas ainda não é o suficiente. Sempre teve muitos usuários de drogas aí”, ressalta. O comerciante ainda relembra que um guarda fazia a segurança do local, mas que já não vê funcionários lá há mais de seis anos. 

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