Doce lar

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Home office passou de atividade atípica a alternativa principal durante a pandemia do novo coronavírus

Texto: Gabriela Maulim


"É tempo de muita adaptação, de lançarmos mão de novos repertórios comportamentais e atitudes diferentes", afirma Myrna Coelho MatosTrabalhar de casa é o sonho de muitos profissionais, mas a rotina também pode se tornar um pesadelo caso não seja organizada. Apesar de parecer fácil, a modalidade exige disciplina, pois o ambiente do lar é propício para provocar certo relaxamento na rotina do dia a dia.

Recente pesquisa realizada pela rede social LinkedIn sobre trabalho em casa indica que mais da metade dos profissionais ouvidos (62%) está mais ansiosa e estressada com o home office. Além disso, a pesquisa também mostrou que 68% dos funcionários entrevistados trabalham pelo menos mais uma hora por dia, contudo, 33% responderam que se sentem mais produtivos trabalhando em casa.

A psicóloga especialista em terapia comportamental Myrna Coelho Matos explica que é preciso entender que o momento é de adequação. "É tempo de muita adaptação, de lançarmos mão de novos repertórios comportamentais e atitudes diferentes. Por exemplo, antes o profissional saía de casa para trabalhar e tinha um tempo exclusivo reservado na empresa, com horário para começar e tempo para terminar. Isso era gerido pela própria empresa. Agora, o profissional precisa se autogerenciar e isso vai acontecer dentro de um ambiente onde outros muitos estímulos estão presentes", detalha.

Luiz Bombonato, que trabalha como analista de marketing, afirma que teve dificuldade para se adaptar ao novo sistema de trabalho. "Como eu nunca havia trabalhado nesse modelo, o principal obstáculo que encontrei no início foi justamente o de me organizar em relação às tarefas e aos horários. Trabalhar em casa exige disciplina, porque a maioria das vezes passamos do nosso horário e deixamos de lado a convivência familiar, que sempre é importante. No início, eu trabalhava o dia todo, das 7h até as 20h, e aos finais de semana também", conta.

Para o analista de marketing Luiz Bombonato, trabalho em casa exige disciplinaApesar disso, ele destaca que não demorou para se adaptar ao novo formato. Em casa, Luiz conseguiu melhorar a concentração e a produzir mais. "Listei todas as tarefas importantes da semana seguinte e fui adiantando. Acordo cedo, tomo café e me arrumo. Aproveito para fazer primeiro as tarefas mais difíceis e que exigem mais tempo, para não procrastinar", afirma.

Bem aceito

Estabelecer horários e rotinas para o home office é fundamental, como fazem o designer gráfico Jean Bragantin e o desenvolvedor full stack Lucas Roberto de Souza Silva. Para o trabalho em casa ser eficaz, a dica de Jean é manter o cronograma de antes da pandemia. "Acordo no mesmo horário de antes, tomo banho, me visto como se fosse para a empresa e tomo café. Outro ponto importante é separar o horário do trabalho das tarefas de casa. Uma vez que casa e trabalho estão no mesmo local, é fácil misturar", explica.

Jean Bragantin mantém a mesma rotina de antes da pandemia, com horários estabelecidos

Já Lucas precisou colocar despertadores para manter os horários de antes. "Precisei delimitar bem os horários de almoço e os de fim do expediente, pois, no início, estava indo almoçar às 16h e parando de trabalhar às 22h", conta o desenvolvedor.

Lucas Roberto de Souza Silva conta com a ajuda do despertador para manter a rotina regradaPor isso, manter hábitos é fundamental para conquistar o equilíbrio. "De forma geral, estabelecer uma rotina é importante. Horário para acordar, dormir e fazer as refeições. Se a pessoa tem uma família, é preciso respeitar os momentos junto a eles, pois haverá, sim, uma demanda maior", pontua Myrna.

De volta

Outra possibilidade que se tornou viável com o trabalho remoto, foi a volta de ribeirãopretanos, que já não viviam mais na cidade por conta de seus trabalhos, para casa, permitindo uma aproximação maior com familiares durante o período de isolamento. É o caso do consultor de reestruturação empresarial da EXM Partners, Álvaro Soares da Silva Neto, que retornou ao município desde o início da pandemia. 

Álvaro, que é natural de Ribeirão Preto, residia no Rio de Janeiro até a chegada do coronavírus ao Brasil, pois era na capital carioca que realizava os atendimentos da empresa que trabalha, uma é uma das principais em consultoria especializada em Turnaround Management e recuperação de empresas. “Por nosso cliente estar localizado em um dos focos de contaminação, a empresa optou pelo trabalho em home office desde o início da pandemia”, afirma.

Álvaro Neto garante estar adaptado aos novos hábitos em casaPara o consultor, voltar para a cidade teve muitas vantagens, como estar próximo da família. “A segurança, a comodidade e o conforto que só nossa própria casa pode nos proporcionar são algumas das melhores vantagens de estar de volta”, argumenta Álvaro, que, por conta da experiência que adquiriu, adaptou-se rapidamente ao novo modelo. “Mesmo sem a ruptura do espaço físico entre pessoal e profissional, tento seguir horários e rotinas bem definidos para equilibrar as duas áreas. Hoje, acredito estar muito bem adaptado, mas ainda sinto falta da minha antiga rotina profissional”, pontua.

O engenheiro de produção Fábio Monteiro Buffi, que trabalha na plataforma de investimentos do BTG Pactual, em São Paulo, também foi um dos ribeirãopretanos que puderam voltar ao lar para o home office durante o enfrentamento da pandemia. Segundo o engenheiro, que já morava há sete anos fora do município, o principal motivo de retornar para a cidade foram os pais. “Não consigo voltar para Ribeirão Preto com tanta frequência, com isso aproveitei o momento para ficar mais próximo deles, especialmente em um momento difícil e inesperado como esse”, afirma.

Para Fábio Buffi, Ribeirão Preto traz mais tranquilidade neste momentoFábio conta que voltar para casa se tornou a opção mais segura, já que a capital foi uma das primeiras cidades afetadas pela Covid-19. “A tranquilidade do interior é uma vantagem, parece que consigo descansar melhor fisicamente e mentalmente, ainda mais por estar com a minha família”, explica.

No início, o engenheiro estranhou voltar para casa, já que viveu muito tempo longe desse ambiente. “Ao mesmo tempo, foi uma adaptação tranquila, pois consegui me manter o dia todo ocupado trabalhando, estudando, dando atenção para meus pais. Sou inquieto e me incomoda ficar à toa por muito tempo”, detalha.

Para o melhor desempenho em home office, o engenheiro afirma que a empresa proporcionou grande apoio na transição, provendo equipamentos para o trabalho, como computador e cadeira ergonômica, por exemplo. “Além disso, a BTG me deixou à vontade para me alocar remotamente em qualquer lugar que precisasse”, afirma Fábio, que se refere ao trabalho remoto como tendência. “As pessoas querem usar o tempo ao seu favor, perder menos tempo no trânsito, conseguir almoçar com a família. Algo que eu mesmo senti é a diferença relevante ao meu tempo ganho com deslocamento, por exemplo”, finaliza. 

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