A luta continua

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Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ reacende a importância da temática na busca pelo fim do preconceito

Texto: Lidia Mattos


Promover a conscientização sobre a importância do combate à homofobia para a construção de uma sociedade livre de preconceitos e igualitária, independente de gênero sexual. É esse o objetivo do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, também conhecido como Dia do Orgulho Gay, celebrado em 28 de junho.

A data para a comemoração foi escolhida em referência à rebelião de Stonewall Inn, episódio mais marcante na luta da comunidade LGBTQIA+, que ocorreu em 1969 durante uma série de invasões da polícia ao bar Stonewall, um dos maiores bares frequentados pela comunidade em Nova Iorque, nos Estados Unidos. 

Segundo os relatos históricos, por conta do tratamento violento dos policiais, os frequentadores iam embora do bar com medo de serem agredidas. Contudo, certa vez, cansados da discriminação e da perseguição que sofriam, decidiram ir à luta, defendendo seus direitos. 

Um ano depois da rebelião, milhares de pessoas da comunidade LGBTQIA+ marcharam do bar Stonewall, localizado na East Village, até o Central Park, o maior parque urbano de Nova Iorque. Essa ação, que percorreu longos quarteirões da cidade, foi reconhecida como a primeira parada gay dos Estados Unidos.

Nessa época, o Brasil enfrentava a ditadura militar, o que tornava inviável uma rebelião semelhante. No entanto, na década de 1980, a comunidade LGBTQIA+ precisou se reorganizar por causa da epidemia de AIDS, que, no início, atingiu muito mais os homens homossexuais, transexuais, bissexuais e travestis.

Quatorze anos depois, chegou o momento de realizar o protesto “Pequeno Stonewall Inn”, que ocorreu no Ferro’s Bar, em São Paulo, bar que era frequentado por mulheres gays, para iniciar a luta pelas conquistas dos direitos. Por esse motivo, em 19 de agosto de 2003, a data desse protesto se tornou o Dia do Orgulho Lésbico no Brasil.

A sigla LGBTQIA+ começou a ser utilizada no em junho de 2008, durante a 1º Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que ocorreu em Brasília. A reunião foi feita com o intuito de identificar e garantir os direitos da comunidade a fim de enfrentar a discriminação. 

Ribeirão Preto

Em Ribeirão Preto, uma das maiores dificuldades enfrentadas pela comunidade é a falta de políticas públicas, como explica Fábio de Jesus, presidente da Organização Não Governamental (ONG) Arco-Íris. “Estamos em uma briga com a Prefeitura, porque o prefeito se comprometeu com a criação do Centro de Cidadania LGBTQIA+ que atenderia toda população que sofre discriminação na cidade. Conseguimos uma emenda, e estamos esperando a Secretaria de Assistência Social implementar desde 2018”, afirma. “Apesar de estarmos no século XXI, muitas pessoas ainda sofrem com a LGBTQIA+fobia e homofobia, e não há um local em específico que possa atender essas vítimas de agressão social, impedindo que a verdadeira justiça e o acolhimento humanizado sejam feitos”, completa Fábio. 
Durante a pandemia de Covid-19, além do crescimento do número de desempregados, que também afeta a comunidade, muitos sofrem discriminação dentro de casa. “Precisamos fazer campanhas para que possamos dar o mínimo de dignidade a essas famílias LGBTQIA+s”, comenta o presidente da ONG. “Amar não é pecado, amar é divino. Diga não à LGBTQIA+fobia, e diga sim a todas as vidas que querem viver em um estado laico, democrático, onde nossos direitos sejam respeitados pela Constituição. Onde tenhamos o direito de amar, o direito a vida, dignidade, respeito e amor. Que o amor esteja acima de todo ódio que venha contra nossa comunidade”, conclui Fábio.

Conquistas

Em décadas de luta, a comunidade LGBTQIA+ conquistou avanços representativos. Dentre eles, estão a inclusão nos planos de saúde, o casamento civil e a adoção de crianças por casais homoafetivos. Em dezembro de 2011, o Ministério da Saúde instituiu no Sistema Único de Saúde (SUS) a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que busca implantar ações para evitar a discriminação contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais nos espaços e no atendimento dos serviços públicos de saúde. 

Em 2013, em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o Ministério da Saúde lançou uma campanha de combate à violência contra travestis e transexuais. Também foi anunciado que as pessoas podiam usar o nome social no Cartão SUS, com o objetivo de reconhecer a legitimidade da identidade e promover o maior acesso à rede pública. 

PARA MARCAR A DATA

Em razão da pandemia causada pela Covid-19, a programação presencial de comemoração ao Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ foi interrompida. Neste ano, a ONG Arco-Íris, que atua junto à comunidade LGBTQIA+ em Ribeirão Preto, comemora a data com a campanha de arrecadação de agasalhos para ajudar a população LGBTQIA+ que estão em situação de vulnerabilidade social.  

Além de receber a arrecadação de roupas, a campanha "Agasalhe a Diversidade" também recebe doações de cobertores e calçados.

A ação que conta com o apoio da Rede Gay do Brasil vai até o dia 30 de junho. Os pontos de arrecadação funcionam das 8h às 19h, na rua Eduardo Prado, 214, na Vila Tibério, zona Oeste, e na rua Aliados, 291, nos Campos Elíseos, região Norte da cidade. Para mais informações, entre em contato pelos telefones (16) 98175.9410 ou (16) 99335.6182.

Já a Secretaria da Cultura e Turismo de Ribeirão Preto realiza, em 14 de junho, às 20h, uma live nas redes sociais com os temas Cultura, Empreendedorismo e Inclusão no Mês do Orgulho LGBTQIA+. O bate-papo tratará da representatividade, de oportunidades e de ações práticas na construção de uma sociedade mais igualitária.

Os participantes da live deste ano são o secretário adjunto da secretaria, Pedro Leão; a diretora do departamento de atividades culturais da secretaria, Gislaine Oliveira; os founders do Grupo Circa, Thiago Bariani e Joaquim Lopes, e a atriz, diretora e dramaturga Eme Barbassa.

Desde pequenos

Felipe Cabral, criador do canal “Eu leio LGBT”, participou do quadro Dicas de Leiturinhas, do projeto 40tena Cultural, da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto, compartilhando dicas de livros com protagonismo LGBTQIA+ para crianças. Entre as obras listadas, “Meu maninho é uma menina”, de João Paulo Hergesel; “A princesa e a costureira”, de Janaína Leslão; e “Mãe não é uma só, eu tenho duas!”, de Nanda Matheus e Raphaela Comisso.

Segundo ele, as obras foram escolhidas para o encontro porque apontam importantes visões para as crianças. “Uma princesa pode não gostar de um príncipe, mas sim de outra princesa. Que um menino que sempre se viu como uma menina, pode ser quem sempre foi. Que famílias não são apenas compostas por um pai e uma mãe. É muito lindo ler uma fábula de castelos e princesas com uma história de amor entre duas mulheres ou uma relação entre duas irmãs, em que uma delas é uma menina trans descobrindo sua própria identidade. Enxergar-se nas histórias é se sentir pertencente ao mundo”, destaca.

O escritor, ator e roteirista ressalta ainda que é importante inserir a literatura LGBTQIA+ na vida das crianças, porque a literatura infantil tradicional traz histórias em que o príncipe se casa com a princesa e as famílias retratadas têm um pai e uma mãe. “Mas onde estão representadas as famílias com dois papais e duas mamães ou que um príncipe que se apaixona por outro príncipe?”, questiona. Segundo ele, compartilhar as diversas composições familiares com as crianças é uma forma de naturalizar essas relações. “Temos que mostrar que família é amor, independente de qual seja sua formação. É ensinar o respeito à diversidade. É gerar o sentimento de empatia com o outro”, alerta.

 

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