Mais Fôlego

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Com 2.390 vagas de trabalho formais geradas neste ano, Ribeirão Preto é a quinta cidade do Estado de São Paulo que mais criou oportunidades e retoma as contratações em um cenário ainda incerto

A experiência de dez anos como vigilante fez com que Germano Ayello, de 33 anos, conseguisse se recolocar no mercado de trabalho em poucos meses. Em 2019, ele conseguiu um novo emprego com carteira assinada em uma empresa especializada em terceirização de serviços em Ribeirão Preto. “Depois que fiquei desempregado, fiz alguns trabalhos como freelancer, mas logo consegui me recolocar no mercado”, conta. Ele é um dos 2.845 profissionais que conquistaram um emprego formal neste ano na cidade, como prestador de serviços. 
Germano Ayello conseguiu se recolocar no mercado em Ribeirão Preto como vigilante, uma das funções que mais contratou no ano
O setor puxou a recuperação do mercado de trabalho local e fez com que Ribeirão Preto ficasse entre as 30 cidades brasileiras que mais geraram vagas entre janeiro e abril deste ano, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. “Se compararmos a situação do emprego na cidade com o restante do país, o saldo é favorável. A geração de empregos formais voltou ao nível médio pré-crise, de cerca de 6 mil vagas geradas por ano, com uma distribuição entre os setores da economia similar ao observado entre 2012 e 2014. Esse fato se destaca ainda mais se considerarmos que o país não apresenta sinais de que a recuperação econômica ocorrerá de maneira significativa em 2019”, disse o economista Gabriel Couto, da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto (Acirp).
Paulo Arruda, diretor de uma empresa de prestação de serviços na cidade, contratou 45 profissionais neste ano

Além de Germano, 45 pessoas foram contratadas neste ano pela mesma empresa, no setor de segurança. “Estamos com um saldo muito positivo neste ano, muito por conta da melhora na expectativa do mercado em geral com o novo governo. Há um aumento na demanda por terceirização de serviços com a retomada de investimento”, disse o diretor da empresa, Paulo Arruda. A ocupação de vigilante foi uma das que mais registrou contratações neste ano em Ribeirão Preto, com 240 vagas criadas. 

O economista da Acirp, Gabriel Couto, diz que a geração de empregos formais em Ribeirão Preto é favorável e voltou ao nível do pré-crise

Comércio em baixa

Ainda segundo o levantamento, a cidade foi a quinta que mais criou vagas de emprego em todo o Estado de São Paulo. O saldo entre o total de pessoas demitidas e contratadas nos quatro primeiros meses do ano no mercado de trabalho ribeirãopretano foi de 2.390. O resultado final só não foi mais positivo por conta do comércio. Tradicionalmente forte na cidade, o setor fechou 618 postos de trabalho em 2019. “O início do ano é marcado pelo desligamento dos temporários contratados para o Natal, o que faz com que o saldo de empregos seja negativo no primeiro trimestre. Ainda assim, houve ligeira piora em relação ao mesmo período de 2018, o que pode ser explicado por um certo ajuste de expectativas por conta da demora da retomada na economia”, disse o economista Gabriel Couto, que também alerta para outros pontos negativos. “Houve forte destruição de empregos entre 2015 e 2017, o que gerou um grande contingente de desempregados que ainda não foram reincorporados ao mercado, processo que ainda deve levar mais alguns anos. Adicionalmente, a construção civil ainda não normalizou o ritmo de contratações”, conclui. 

Porta de Entrada
Do total de pessoas contratadas em Ribeirão Preto neste ano, 10% conquistaram o primeiro registro em carteira e outras 89% conseguiram se recolocar no mercado.
Sala do Time do Emprego: em 2018, das 397 pessoas que participaram do programa em Ribeirão Preto, 280 conseguiram um emprego

Após dois anos de procura, Moara Marina, de 18 anos, conquistou o primeiro emprego com carteira assinada em abril de 2019. Ela foi contratada como auxiliar em um empório recém-inaugurado em Ribeirão Preto. “Comecei a procurar cedo, porque sabia que seria difícil conseguir um emprego, ainda mais sem nenhuma experiência. Mas, neste ano, apareceram oportunidades e consegui entrar no mercado”, conta. 
Moara Marina procurou emprego durante dois anos e conquistou a primeira oportunidade com carteira assinada em abril deste ano
Entre todos os trabalhadores que foram contratados em Ribeirão Preto de janeiro a abril de 2019, 10% tiveram o primeiro registro na carteira. Segundo José Chavaglia Neto, economista e professor de Criatividade e Inovação da FGV Management, com um cenário econômico ainda incerto e a mudança no perfil econômico, o trabalho criativo está sendo valorizado, o que cria oportunidade para quem está chegando. “Temos muitas funções que reduziram a demanda de profissionais por conta do avanço da tecnologia, mas o setor de serviços segue forte por ainda precisar desse relacionamento, desse perfil mais inovador, de quem está chegando no mercado”, diz. 
Para o especialista José Chavaglia Neto, o mercado de trabalho passa por uma mudança de perfil, o que estimula a contratação de profissionais criativos
Hoje, o perfil pessoal dos candidatos a uma vaga também é levado mais em conta no momento da recolocação no mercado. Em Ribeirão Preto, neste ano, 89% das admissões foram de pessoas que haviam saído de outros empregos e estavam buscando uma oportunidade — ou seja, já possuíam alguma experiência. “As empresas, nesse momento de economia ainda instável, têm um processo mais rigoroso de analisar características além da experiência profissional. Avaliam se o candidato tem o perfil da vaga”, explicam Adriana Mendes Oliveira e Camila Rasteli Silvério, que fazem parte do Time do Emprego em Ribeirão Preto. O programa estadual orienta o trabalhador na busca pela vaga e recolocação de mercado, com curso, orientações e dicas. Também há a intermediação com as empresas inscritas no programa, que é totalmente gratuito. 
Adriana Mendes Oliveira e Camila Rasteli Silvério, do Time do Emprego: programa estadual atinge índice de recolocação no mercado de trabalho em Ribeirão Preto é de 70%
No ano passado, o Time do Emprego, que atua no Poupatempo, teve uma taxa de 70,5% de reinserção no mercado de trabalho. Ou seja, das 397 pessoas que participaram do curso, 280 conseguiram um emprego. “Muitas pessoas ainda não possuem o básico, como um currículo organizado e postura para uma entrevista. São características que ajudam muito no momento de contratação, principalmente em empresas que estão nessa retomada”, conta Camila. Ribeirão Preto está entre as cidades com maior sucesso no programa em todo o Estado de São Paulo. Em 2019, serão formados 20 times na cidade, com 20 a 25 alunos por turma.

Neste ano, João Souza foi desligado da indústria metalúrgica em que trabalhava, mas já conseguiu emprego em outra companhia

Rotatividade
Com o início da retomada nas contratações, a rotatividade do mercado também cresce. Com 25 anos de experiência no segmento metalúrgico, João Souza, de 44 anos, foi desligado da empresa em que trabalhava há dois anos, mas já conseguiu emprego em outra companhia. “As oportunidades começaram a aparecer neste ano na indústria”, diz. O setor foi o segundo que mais gerou empregos em Ribeirão Preto neste ano, com saldo de 128 vagas. “A indústria está abrindo espaço, principalmente por conta de novos sistemas e tecnologias. Há uma mudança de perfil no mercado que tende a crescer e criar novas oportunidades”, conclui José Chavaglia. 

Texto: Raissa Scheffer || Fotos: Luan Porto

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