Microempreendedores, grandes negócios

Microempreendedores, grandes negócios

Por dia, Ribeirão Preto ganha 24 novos microempreendedores e já é a quarta cidade no ranking estadual de formalização desses negócios

Ribeirão Preto tem 37.333 Microempreendedores Individuais (MEIs) em atividade e o crescimento desse mercado foi de 113% nos últimos seis anos, segundo dados do governo federal. A cidade já é a quarta no ranking estadual de formalização desses negócios, atrás apenas da capital, de Campinas e de Guarulhos.

De acordo com o economista Edgard Monforte Merlo, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, a formalização da atividade microempreendedora aquece o mercado. “Quando ela ocorre, os empregos e a renda gerados passam a contribuir com a arrecadação dos impostos municipais, e, consequentemente, com o desenvolvimento da economia local. Ribeirão Preto tem se destacado porque tem uma renda potencial”, afirma.
Leonardo e Giovanna desenvolvem atividades de recreação e se formalizaram como MEI
Somente em janeiro, a cidade ganhou 24 novos micronegócios individuais por dia. Segundo as estatísticas do Portal do Empreendedor, 755 MEIs se formalizaram no mês passado. Entre eles, o estudante de educação física Leonardo Gomide, que fez a inscrição no programa para atuar no mercado de recreação e eventos. “Foi uma forma de entrarmos no mercado sem burocracia e com a prestação do serviço regulamentada”, conta.

Ele e a amiga Giovanna Amaro, que trabalha na microempresa, começaram o ano com o novo negócio e alta demanda por conta das férias escolares. “Desenvolvemos atividades em festas e condomínios da cidade, que sempre procuram por profissionais formalizados, por isso o MEI foi importante, pois precisamos emitir a nota fiscal para a prestação do serviço”, explicam os estudantes.

A categoria de serviços de organização de festas, em que o micronegócio de Leonardo e Giovanna se enquadra, é uma das 15 com mais MEIs registrados no município. “Esse crescimento dos negócios ocorre, pois existe demanda por serviços na cidade. A expansão dos MEI também é muito importante, porque essas são atividades intensivas em trabalho, ou seja, grandes geradoras de emprego de uma forma simplificada”, diz o economista Edgard Monforte Merlo.
“A formalização do empreendedor é essencial para a participação legal no mercado de trabalho”, diz Adriana
Facilidade

Além do potencial econômico local, a facilidade em se formalizar também explica a evolução dos microempreendedores em Ribeirão Preto. O registro completo da nova empresa pode ser feito pela internet, no Portal do Empreendedor, e também no Poupatempo. “A formalização do empreendedor é essencial para a participação legal no mercado de trabalho. Com a implantação do atendimento MEI no Poupatempo, houve a desburocratização e a simplificação, com todos os atendimentos em um só local”, conta a coordenadora da prefeitura no Poupatempo, Adriana Oliveira de Carvalho.

Para abrir a empresa e poder emitir as notas, Leonardo fez o cadastro pela internet e a inscrição municipal no Poupatempo. “Com os documentos e a inscrição no MEI, em cinco dias úteis já comecei a emitir na nota. Hoje, podemos emitir todas as notas on-line, é uma facilidade”, descreve.

Segundo a prefeitura, desde maio, quando começaram a ser feitos atendimentos do MEI no Poupatempo, até dezembro de 2018, 6.165 pessoas passaram pela Sala do Empreendedor da cidade.

Banco do povo

Recurso importante para quem começa um novo negócio, o Banco do Povo Paulista emprestou R$ 1,9 milhão no ano passado para empreendedores de Ribeirão Preto. Ao todo, foram 260 contratos de empréstimos feitos em 2018 na cidade. Apesar de não ter filtro por categoria, desde quando o MEI foi instituído, em 2019, a atuação do Banco do Povo cresceu 99% em Ribeirão Preto. Há dez anos, foram emprestados R$ 958 mil na cidade. O programa, desenvolvido pela Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo (Sert), é especialista em microcrédito, com linhas de R$ 200,00 a R$ 5.000,00 para pessoas físicas, até R$ 20.000,00 para pessoas jurídicas, e até R$ 25.000,00 para associações e cooperativas produtivas ou de trabalho.
Segundo Edgard, o crescimento dos micro negócios aquece a economia local
Tendência para 2019

O ritmo nos novos negócios de microempreendedores individuais deve seguir forte durante este ano, segundo o economista Edgard Monforte Merlo. Além das vantagens do segmento, ele explica que o programa é uma alternativa para o desemprego. “Embora tenha caído, o desemprego ainda é elevado, pois no Brasil temos cerca 11 milhões de desempregados. Quando essa desocupação ocorre em uma região que ainda possui renda elevada, como a de Ribeirão Preto, ela pode gerar esses empregos e serviços. Na atual conjuntura econômica, de lenta recuperação, esses empregos gerados podem ser a principal fonte de renda para muitas famílias”, descreve. Ainda segundo o economista, o aumento dos serviços deve trazer outro movimento na economia: aumentar a concorrência entre os estabelecimentos comerciais. “E isso é importante para o mercado, para o desenvolvimento dos negócios e para o aumento da qualidade nos serviços oferecidos”, diz.
Rosimar teve tanto sucesso como MEI que passará à categoria de Microempresa
BELEZA PURA


Microempreendedores individuais que atuam com serviços de beleza representam 13% no mercado em Ribeirão Preto

Entre as atividades com maior número de microempreendedores individuais em Ribeirão Preto, o setor de beleza se destaca. São 3.361 MEIs cabeleireiros e 1.453 de outras atividades de beleza — 13% no mercado.

A cabeleireira Rosimar Defendi Silva, que há 27 anos atua na área, está formalizada como microempreendedora há nove anos. “É um diferencial. O MEI garante os nossos direitos, existe a possibilidade de contratar um funcionário e o pagamento de impostos que precisamos fazer é simplificado”, conta.

O economista Edgard Monforte Merlo, explica que, apesar de o mercado já ter um alto número de profissionais em atuação, ainda há espaço para o crescimento. Principalmente com planejamento. “A principal vantagem do MEI é a necessidade de um capital relativamente reduzido, o que explica, em parte, a expansão em momentos de crise. Entretanto, é necessário cuidado ao investir. Realizar uma pesquisa antes de abrir um novo negócio é muito importante, assim se verifica qual a oferta e a demanda e se ela não está saturada na região onde será realizado o investimento no MEI”, afirma.

Para Rosimar, o diferencial é a qualificação. “Não basta ter só o CNPJ, é preciso trazer algo novo, qualidade para os clientes. Ter informação sobre o ramo de atuação e, também, sobre administração. O microempreendedor é a empresa. Precisa entender o todo, o mercado. Além das técnicas de cabeleireiro, é preciso saber administrar e planejar”, conta.

A fórmula deu certo. Por conta da expansão nos negócios, a cabeleireira terá de deixar a inscrição de MEI e passar para microempresa (ME). “Vou precisar contratar mais funcionários e vou abrir mais um salão. Não teria conseguido crescer no mercado se não fosse a formalização inicial pelo MEI”, conclui.

Texto: Raissa Scheffer | Fotos: Luan Porto e divulgação.

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