Tempo de inovação

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Profissionais afetados pela pandemia buscam autoconhecimento, qualificação e criatividade para retornarem ao mercado de trabalho

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Economia no dia 27 de maio, o país fechou 1,1 milhão de vagas com carteira assinada entre os meses de março e abril. A estatística do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foi a primeira a dimensionar o impacto que a pandemia do novo coronavírus — decretada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 11 de março — provocou no mercado de trabalho nacional. Em maio, foram 331.901 postos fechados. Com as medidas de prevenção adotadas pelas autoridades para evitar o avanço da doença, especialmente a do distanciamento social, os estabelecimentos que integram setores considerados não essenciais tiveram de ser temporariamente fechados, o que resultou no desligamento de muitos colaboradores. Das empresas que continuaram funcionando, várias tiveram a receita afetada pelo clima de insegurança e, por isso, também suspenderam contratos. Em Ribeirão Preto, só em abril, foram 5.038 vagas encerradas, umas das piores marcas da história para o município.

O momento de adversidade, no entanto, pode ser encarado como uma oportunidade de começar um novo capítulo na carreira. Esse é o ponto de vista escolhido pelo publicitário Fernando Zuccolotto Falquetti, que, depois de quase 20 anos atuando no departamento de marketing de uma empresa, foi desligado por questões econômicas. “Sem dúvida, essa pandemia tem repercutido na vida de todos, de diferentes maneiras. No meu caso, particularmente, encerrou uma longa e bem-sucedida parceria profissional. É óbvio que não foi fácil deixar o meu cargo e a dinâmica com a qual estava habituado, mas decidi administrar essa situação com otimismo e motivação. Agora, tenho a possibilidade de me reinventar. Com o objetivo de enriquecer ainda mais meu know-how na área, estou estudando para atualizar a aprimorar minhas qualificações. Sei que essa capacitação, juntamente com a fé, é capaz de promover uma brilhante reviravolta”, ressalta Fernando.

“Estou estudando para atualizar a aprimorar minhas qualificações”, revela Fernando || Para Marilia, o encerramento de um contrato deve ser encarado como um convite para a reflexãoManter a esperança viva e praticar atividades que contribuam para o desenvolvimento, profissional e pessoal, fazem com que a jornada de Marilia Costa Mattos, também publicitária, seja mais produtiva nesse momento de incertezas. “O encerramento de um contrato pode ser encarado como um convite para o autoconhecimento e a reflexão. Nesse contexto, questionar o sentido das coisas e qual o nosso propósito nunca se fez tão necessário. Reconhecer nossos valores, nossas habilidades, nossos anseios, sonhos e frustrações, contribui para o nosso crescimento. Assim, devemos acolher e celebrar todas as mudanças, sendo gentis em nossa reorganização”, enfatiza Marilia. Além de buscar mais conhecimentos, a publicitária fortaleceu o relacionamento entre amigos, profissionais da área de comunicação e marketing e outros contatos que a permitiram direcionar as perspectivas para novos desafios. “Acredito que a retomada profissional será de muitas oportunidades, onde a união, o cuidado e a empatia ao próximo resultarão sempre em aspectos positivos a todos”, pontua. 

Rede de contatos

Walter destaca a importância do networking para se recolocar no mercadoWalter Fernandes dos Santos Júnior, que atuava como gerente de mobilizações de recursos até abril deste ano, entende que o país enfrenta uma crise econômica sem precedentes e que o panorama não é favorável para ninguém. “Vivemos uma fase difícil. Muitas empresas não conseguem levantar o capital mínimo necessário para arcar com as despesas. A receita caiu significativamente. Meu trabalho era estabelecer um canal de comunicação com empresários da região e desenvolver programas para atrair investimentos, o que ficou inviável em meio a pandemia. Como prestador de serviço, acabei sendo desligado da instituição”, recorda. 

Para se recolocar no mercado, Walter destaca a importância da versatilidade profissional e de uma boa rede de contatos. “Antes de migrar para o terceiro setor, trabalhei na área comercial. Então, acionei meu networking nessas duas frentes. Tenho prestado consultorias, realizado alguns trabalhos pontuais por iniciativa própria e estudado bastante. Decidi ampliar meu repertório de conhecimentos e me abri para aprender conteúdos diferentes. Tenho a expectativa de que, em breve, a situação vai mudar vou aproveitar tudo o que absorvi nesse período em um novo emprego”, conclui.

Atenta às oportunidades

Normalmente, os meses de abril, maio, junho e julho são bastante movimentados na Vip Valet Ribeirão. “Nessa época do ano, realizamos muitos eventos corporativos, incluindo a Agrishow, além de festas de casamento, aniversários e festivais de música”, explica a empresária Tassi Bernardes Morelli. Este ano, por causa do novo coronavírus, o cenário está completamente modificado. “O nosso último dia de trabalho — antes das restrições sanitárias serem implementadas — foi 14 de março. A partir dessa data, todos os compromissos foram cancelados. Meus clientes fixos, como salões de beleza, lojas e clínicas, também suspenderam os serviços. Fiquei desesperada, pois tenho três filhos e minha renda é integralmente dependente da empresa. Mesmo lançando promoções e condições especiais, a maioria das pessoas ainda está com receio de pensar a longo prazo”, revela. 

Em meio a esse caos, Tassi teve que desmarcar a comemoração de um ano do filho caçula. “Fiquei muito triste. Não queria que um momento tão especial passasse em branco. Pesquisando sobre sugestões de decoração para fazer a festa em casa, identifiquei uma oportunidade nesse mercado, de celebrações personalizadas mais intimistas, o ‘mini b-day’, para usar a linguagem atualizada. Estudei melhor o segmento, procurei fornecedores de acervo e abri uma empresa, a Mundo Doce Decoração, que, aos poucos, vem conquistando seu espaço aqui na cidade”, afirma Tassi. 

Impedida de trabalhar com o serviço de valet, Tassi descobriu uma nova paixão || Com tempo livre, renda reduzida e sem previsão de retorno, Cris investiu na produção de marmitas fit  Projeto que saiu do papel

Proprietária de um salão de beleza, Cris Menegussi viu seu negócio ser classificado como um serviço não essencial pelo governo e, desde o início de março, precisou fechar as portas. “Foi um choque. Tínhamos uma equipe bacana e eventos agendados com as clientes. Ninguém imaginaria que algo assim estava por vir”, comenta. Com tempo livre, renda reduzida e sem previsão de retorno às atividades, a empresária resolveu que era a hora de investir em um novo projeto. “Eu costumava preparar marmitinhas fit para mim em casa, que me ajudaram a eliminar 10kg. Frequentemente, as pessoas me perguntavam se eu vendia as refeições. Achava a ideia interessante, mas não via como colocá-la em prática. No início do ano, comecei a estudar sobre startups e, como experimento, fiz logomarca, conta no Instagram, plano de negócios, identidade visual e até embalagens para essa empresa até então fictícia. Diante da pandemia, publiquei tudo e iniciei as encomendas”, lembra. 

Apaixonada pelo ramo da alimentação, Cris ficou surpresa com o rápido retorno da clientela. “Existem muito amor e carinho envolvidos nesse projeto. Trabalhamos para levar saúde, praticidade e sabor à casa das pessoas e ver a procura pelas nossas marmitas aumentando me deixa muito feliz”, declara. Ao lado da filha e sócia, Ana Livia, Cris revela que, graças aos resultados positivos que vem conquistando, pretende conciliar a empresa com o salão pós-quarentena e tem, inclusive, planos de expansão. 

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