Arte fragilizada
Setor cultural foi intensamente afetado pela pandemia do novo coronavírus, o que resultou na mudança da programação de eventos que ocorreriam neste ano em Ribeirão Preto
Desde o início da pandemia do novo coronavírus e dos decretos estaduais e municipais de isolamento social, shows, peças de teatros e festas foram adiados ou cancelados em Ribeirão Preto. Muitos desses eventos ganharam versões on-line ou ocorrerão em outras datas. Entre os mais conhecidos e já tradicionais, estão a Feira Internacional do Livro (FIL), o Festival João Rock, o Ribeirão Rodeo Music e a programação de aniversário do Theatro Pedro II.
A Feira do Livro de Ribeirão Preto, que completa duas décadas neste ano, estava prevista para ocorrer em maio, depois, em setembro. Contudo, a direção do evento optou por realizar apenas uma comemoração virtual ao invés do evento completo e presencial. “A diretoria da instituição e seu núcleo de programação já estão montando uma nova ação, que acontecerá em setembro, em meio digital, estritamente para comemorar os 20 anos da Feira. Será uma ação paralela de cunho comemorativo”, afirmou a Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto em comunicado emitido no dia 22 de junho. A nova data da feira, que será realizada em 2021, ainda não foi definida.
Outro evento transferido para 2021 foi a 19ª edição do Festival João Rock foi, adiada para 19 de junho do ano que vem. Em um primeiro momento, o evento, que ocorreria em junho, havia sido remarcado para setembro deste ano. "Optamos pelo adiamento por conta dos atuais desdobramentos e situação do país no enfrentamento da pandemia. Até a data que inicialmente previmos, não será possível realizar o evento sem colocar pessoas em risco de contágio e, principalmente, no clima de paz, união e alegria como são nossas premissas. Assim já estamos planejando fortemente o festival de 2021, que deve ser uma grande celebração dos 20 anos de João Rock junto ao público", explica Luit Marques, um dos organizadores do evento.
Todos os ingressos vendidos para o Festival João Rock serão válidos para a nova data. No entanto, para quem preferir o reembolso, os pedidos devem ser feitos por meio do site joaorock.com.br, até o dia 14 de outubro de 2020. As pulseiras deverão ser devolvidas nos locais que serão divulgados. Detalhes sobre o line-up da edição do ano que vem serão anunciados em breve nos canais oficiais do evento. O Theatro Pedro II, que completa 90 anos no dia 8 de outubro, também precisou modificar a sua programação especial de celebração de aniversário por conta da pandemia. No primeiro trimestre, a Prefeitura havia anunciado que, para comemorar a data, promoveria diversos eventos durante o ano, mas toda as apresentações foram canceladas ou adiadas.
O Ribeirão Rodeo Music 2020, que aconteceria entre 25 de abril e 2 de maio, foi mais um evento que foi adiado no município. A festa de peão, que reúne milhares de fãs da cultura sertaneja, além dos shows e montarias, ainda não divulgou uma nova data para realização.
Além desses eventos, dezenas de outros estavam marcados para acontecer no município neste ano. A Arena Eurobike receberia atrações internacionais que precisaram remarcar as apresentações para outras datas, como a banda Kiss, que virá em novembro, a banda McFly, que adiou a turnê no Brasil para setembro e outubro deste ano, e o músico Roger Hodgson, que fará o show apenas em 2021. As feiras Agrishow, Fenasucro & Agrocana e a Casacor Ribeirão também foram adiadas para o ano que vem.
Futuro incerto
Para que todos os eventos adiados na cidade ocorram, a Direção Regional de Saúde (DRS) XIII, que contempla Ribeirão Preto e outros 25 municípios, precisará estar na Fase 5, a de cor azul, do Plano São Paulo — que foi criado para a retomada consciente das atividades econômicas no Estado. Essa é a última etapa do plano e a única que permite a promoção de eventos que geram qualquer tipo de aglomeração, desde que todos os protocolos de higiene sejam cumpridos. Até o fechamento dessa reportagem, Ribeirão Preto se encontrava na Fase 1 do plano, de cor vermelha.
Vida de artista na quarentena 
Dino Bernardi, artista que transita por vários campos da arte — é diretor teatral da Cia “Cornucópia” de Ribeirão Preto, cofundador da Cia “Orbivagante”, figurinista, cenógrafo, ilustrador e artista plástico — está entre as milhares de pessoas ligadas à cultura que tiveram a vida afetada pela Covid-19, em meio a cancelamentos e suspensões de apresentações. “Estreamos o espetáculo na cidade, baseado no ensaio crítico e cômico ‘Elogio da Loucura’, do escritor renascentista e humanista Erasmo de Rotterdam. Iniciamos esse trabalho em forma de leitura dramática no Sesc Ribeirão e, logo depois, veio a pandemia, já tomando forma no mundo, e não sabíamos as consequências. Assim, fizemos reunião pela internet, para tentar manter o trabalho vivo por esse meio, e estamos levantando uma dramaturgia para o on-line”, diz o artista.
Dino afirma que quase todas as atividades que estava executando cessaram por conta da pandemia. “Como também sou artista plástico e ilustrador, além de manter contato com os meus grupos e produzir as apresentações que serão veiculadas pela internet para a ‘Orbivagante’ e a ‘Cornucópia’, converso com meus pares criadores, com a escola Interativa, em que continuo dando aulas on-line, e, também, envio vídeos com atividades educativas para as crianças da ONG Obreiros do Bem, onde desenvolvo trabalhos. Nesse período, percebi o quanto a arte é importante para essas crianças se manterem ativas”, explica.
Planos pausados
O cantor Pedrito, da dupla sertaneja “Fred e Pedrito”, do Clube da Viola, também sofre com o atual cenário. Para ele, que está fora dos palcos desde meados de março, o que mais faz falta é o público e o calor humano. Com eventos paralisados, tem enfrentado as mesmas dificuldades que todo o setor cultural está sofrendo e, também, preocupa-se com a equipe que trabalha com a dupla. “Como todos sabemos, tudo está parado.
O artista explica que o ano de 2020 seria promissor para ele e para o colega de trabalho. A dupla, recentemente, havia lançado o DVD do Clube da Viola, mas, com a pausa inesperada, os planos foram adiados. “Estamos com um trabalho novo que, se passar muito tempo, fica ultrapassado. Nós nos sentimos impotentes, pois nada disso depende de nós. Depois que isso acabar, teremos mais um desafio, que é saber como as pessoas irão se comportar perante a aglomeração”, explica.
