Fruto de um Sonho
Thalita e Thiago: trabalho sem incentivo financeiro, trabalho é na base da dedicação e de parcerias

Fruto de um Sonho

Blaxtream, selo musical erguido em Ribeirão Preto que busca a excelência no jazz e na música instrumental, conquista indicações ao Grammy Internacional

Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça imortalizaram o cineasta brasileiro Glauber Rocha, revolucionário do cinema novo nacional entre as décadas de 60 e 70. Em Ribeirão Preto, a ideia na cabeça persiste, mas a câmera foi substituída — talvez por microfones e, com certeza, por uma bela dose de boa vontade e esperança.

A paixão pela música fez com que, sem recursos ou financiamentos por meio de leis de incentivo, Thiago Monteiro, de 41 anos, e Thalita Magalhães, de 31, erguessem o selo Blaxtream partir de um sonho que começou a se manifestar em 2015. Com o apoio de quem também acredita na transformação social por meio da cultura, o que era desejado se tornou realidade dois anos depois, dando origem a um selo que busca a excelência no jazz e na música instrumental e que hoje comemora duas indicações ao Grammy Latino.

Ao todo, em 2018, foram lançados 12 discos de qualidade incontestável. Em 2019 são mais pelo menos 10, entre os já consolidados e os que vêm pela frente. Tudo isso a partir de parcerias que permitem tirar do papel as ideias e projetos.

A Azul Linhas Aéreas e a Cervejaria Colorado foram as primeiras empresas a bordo da iniciativa. Muitos dos músicos que fazem gravações na produtora ZOE Films, também parceira, em Ribeirão Preto, precisavam, além do transporte, de estadia. A rede de hotéis Tryp by Windham embarcou na proposta. Depois, a agência de Ribeirão Preto NW3 passou a compor a ação, criando o material gráfico e digital para a Blaxtream. O piano Kawaii, de excelente qualidade, é cedido pela Fritz Dobbert. Já para as performances dos músicos que participam das gravações, entram o Shopping Iguatemi e o Sesc Ribeirão.

Segundo Thiago, o cenário da música instrumental nacional é de excelência e com grandes talentos que têm se dedicado à arte. “Temos grandes artistas e nosso trabalho em Ribeirão Preto começou justamente por gostarmos da música instrumental, do jazz, e termos a ideia de fortalecer esse cenário”, explica.

Um trabalho de tamanha dimensão que não é conhecido por muitos ribeirãopretanos. Thalita acredita que a divulgação da arte pode ajudar no desenvolvimento da cultura para quem ainda não tem contato com a música instrumental, ou o jazz. “Pretendemos continuar trabalhando para incentivar ainda mais os músicos e a própria cidade. Não é um estilo de música popular, de rádio, mas é algo muito bom que está sendo na cidade e que pode ser difundido”, diz.

Para o próximo ano, a ideia dos sócios Thiago e Thalita é continuar a dedicação ao trabalho realizado por meio de parcerias. Talvez o resultado seja mais indicações a prêmios internacionais, mas o principal objetivo vai além de possíveis estatuetas: é promover e divulgar a cultura e a arte. 

Álbum de Edu Ribeiro, produzido em Ribeirão Preto, está indicado ao Grammy Latino
Indicações Internacionais
  Quando foram divulgadas as indicações ao Grammy Latino, Thiago e Thalita comemoraram. E em dobro: dois álbuns com o selo de Ribeirão Preto entraram na disputa pela premiação: Folia de tReis, instrumental, e Rio São Paulo, jazz. 

  O baterista Edu Ribeiro chegou à terceira indicação — as duas anteriores foram em 2013 e 2014 —, mas a primeira com o selo Blaxtream. O álbum Folia de tReis, em parceria com Toninho Ferraguti e Fábio Peron, concorre na categoria Instrumental. Já o pianista Andre Marques está na disputa pelo melhor álbum de jazz latino, a partir de um trabalho realizado junto dos músicos Jota P, Eduardo Neves, Beth Dau, Michael Pipoquinha e Márcio Bahia.

  Para Edu Ribeiro, o resultado positivo do selo Blaxtream surge em razão do carinho e da dedicação com que Thiago e Thalita trabalham. “Hoje a informação está em todos os cantos. Precisamos sair da capital e ter outros bons estúdios pelo país. Vivemos num tempo em que as pessoas só reclamam que não há mais espaço, mas hoje temos muitas possibilidades de diversão, como TV e Internet. É preciso partir para a ação, porque há muita gente trabalhando com qualidade no Brasil, hoje”, afirma. Segundo Edu, a música instrumental não é de consumo veloz, precisando ser “degustada” e, para que o público saiba que ela existe, é preciso que os músicos continuem se dedicando.

  Sobre a indicação ao Grammy Latino, o artista diz que não imaginava, principalmente em razão da formação inusitada na composição entre instrumentos do álbum. “Trabalhamos com bateria, acordeon e bandolim. Não é algo fácil nem para quem gosta de instrumental. É quase de vanguarda, mas acho que o resultado ficou bom”, comenta.

  O Grammy Latino possui categorias de premiação para álbuns e canções apenas em português, mas as indicações com o selo Blaxtream são para categorias internacionais — o que torna a disputa mais acirrada e a possível conquista mais desejada. Entre os brasileiros que conseguiram indicações internacionais, estão apenas Edu, André Marques e Anitta, com o álbum Kisses.

  Os vencedores do Grammy Latino serão anunciados no dia 14 de novembro, em cerimônia em Las Vegas, nos Estados Unidos. 

Compartilhar: