Nova Fase

Nova Fase

Avanço da vacinação contra a Covid-19 faz com que empresas criem estratégias de negócios para a retomada gradual do mercado

Texto: Raissa Scheffer

Com o avanço da vacinação contra a Covid-19 entre a população economicamente ativa e índice de imunização total na casa dos 14% em Ribeirão Preto, as empresas se preparam para uma nova fase do mercado, com a volta gradual de atividades presenciais e estratégias de operação híbrida, com destaque para a transformação digital. “Além de ser importante o início da vacinação nas pessoas da faixa etária dos 40 anos, é fundamental para a retomada do mercado a expansão da vacinação em geral, principalmente nas pessoas mais expostas ao vírus. O mês de junho trouxe resultados positivos nesse sentido e a expectativa é positiva para julho, também. Isso traz resultados que já estamos percebendo na economia, como retomada no consumo de produtos e serviços, alimentação, viagens, shoppings, o que leva a uma movimentação no mercado de trabalho”, explica o economista Luciano Nakabashi, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP Ribeirão Preto (FEA-RP/USP). 

O professor explica que a economia também é formada por expectativa, então, com esse ritmo positivo de vacinação, surgem uma visão mais otimista e sinais de retomada. “Acredito que vamos ter um semestre de retomada agora. Já no primeiro trimestre do ano, tivemos um desempenho de PIB positivo, em comparação com o último trimestre de 2020. Em termos econômicos, o impacto da pandemia foi menor neste ano, apesar da seriedade nos números da doença”, completa.  

Assim, segundo o economista, há uma volta mais consistente da rotina de trabalho presencial nas empresas, mas algumas mudanças vieram para ficar. “Existem ganhos claros do home office, como a questão do deslocamento, da autonomia dos profissionais, da melhora na produtividade. Por isso, acredito que o modelo híbrido, em muitos setores, é a tendência do mercado”, argumenta. 

Um levantamento feito pela startup de relacionamento para executivos Open Mind mostrou que 85% dos entrevistados pretendiam implantar o modelo híbrido de trabalho neste ano. A pesquisa apontou, ainda, que 50% dos líderes disseram que não tiveram a produtividade impactada com as medidas de isolamento. Já 35% afirmaram que perceberam uma melhora no desempenho da empresa.

Novos Nichos 

Para o empresário Fábio Fernandes, presidente do Lide Ribeirão, empresas que conseguiram se adaptar e atuar em novos formatos já começaram, inclusive, a ampliar investimentos. “Notamos que muitas empresas buscaram novos mercados, novos clientes e novos produtos. Assim, conquistaram desempenho positivo e se mostram otimistas com essa retomada”, explica Fábio, com base nas percepções de um comitê de gestão formados por empresários locais que fazem parte do grupo.  

Ainda segundo o presidente, com isso, é inevitável o retorno das relações presenciais e dos profissionais às sedes das empresas. Mas, por conta das transformações aceleradas pela pandemia, o digital segue como estratégia de operação. “Acredito que teremos o retorno a escritórios, eventos, feiras. No entanto, agora, as empresas vão aproveitar o melhor do digital. Haverá um ajuste do trabalho remoto, de encontros on-line. Foi um formato que se abriu muito nesse período, e é irreversível. Assim, novos modelos, com benefícios dos dois ‘universos’ devem se consolidar”, pontua.

Desafios

Novos nichos de mercado, que já ganharam espaço com a pandemia, garantem destaque nessa fase de retomada. Nesse contexto, o pensamento estratégico com foco no digital é essencial, mas, também, um desafio para as empresas.

Fabrício Gimenes, CEO da WHF, uma consultoria de Ribeirão Preto que ajuda empresas no redesenho digital, em projetos de tecnologia e estratégias de transformação, acredita que o atual momento traz uma importante oportunidade de mercado para as empresas, a partir de vários pontos de vista. “Há uma grande oportunidade de transformação interna, cultural e profissional nas empresas. Também existe uma oportunidade de mercado, de proximidade com o consumidor. O consumidor está ávido por experiências, experimentar coisas novas, aberto a novas marcas. Assim, esse é o momento de investimento, de delinear uma boa estratégia e se aproximar e entender quais são os hábitos que ele desenvolveu durante a pandemia e que vão perdurar”, explica.  

O executivo destaca que esse novo perfil deve ser pensado desde a comunicação com o cliente até o atendimento. “As empresas precisam se comunicar de maneira muito mais eficiente, veloz e digital do que antes. Por exemplo, uma loja de roupas que faz as fotos dos produtos e envia pelo WhatsApp para os clientes, é hora de pensar em montar um pequeno estúdio na loja para fazer essas fotos com uma melhor qualidade. Isso faz com que ela deixe de ser apenas uma loja e se transforme em produtora de conteúdo. No contexto local, cria boas experiências. Ribeirão Preto tem uma população economicamente ativa consumidora e que está aberta ao novo. As palavras-chave nesse momento são proximidade e autenticidade”, ressalta. 

Do ponto de vista organizacional, Fabrício afirma que agora é o momento de as empresas entenderem o que era discurso e o que realmente será transformado. “Existe um mundo de mudanças acontecendo. Por isso, é importante a empresa ter competências que a habilitem a fazer essa transformação, e essas competências são, além da capacidade de explorar novos negócios, tornar essa estratégia clara para as pessoas dentro da organização — a comunicação dentro da empresa é um aspecto fundamental dentro desse processo — e dominar as tecnologias que são definidoras neste momento”, orienta. 

Ainda segundo o empresário, o movimento do digital como modelo de negócios começou a crescer nos últimos anos e, com a pandemia, houve uma nova onda de digitalização nas empresas, que precisaram instalar rapidamente novas tecnologias. “Não foi possível adiar mais, e a gente estava atrasado demais em relação a isso, o modelo econômico travava esse desenvolvimento. Agora, as empresas precisaram reaprender, perceber e olhar novamente para o cliente. Vimos um grande movimento nas empresas de adoção de estratégias digitais. Contudo, a lacuna do pensamento estratégico que existia dentro das companhias não muda do dia para noite”, avalia Fabrício. “A pandemia mudou as regras do mercado no que diz respeito à localização, ao trabalho e à transformação digital. Nesse contexto, as empresas precisam exercer autocrítica para crescer. Como será a jornada de trabalho do meu time? Como isso afeta o contexto de entrega dos meus produtos e serviços? Essas são perguntas essenciais neste momento”, completa.  

Além da estratégia, as empresas também precisam ter perspectiva de pessoas. “Há uma lacuna nesse sentido. Precisa haver uma revisão nessa estratégia e promover um mix de profissionais experientes e de profissionais que tenham visão mais moderna e digital”, afirma.

Números
85% das empresas entrevistadas em um estudo da startup Open Mind pretendem implantar o modelo híbrido de trabalho neste ano 
50% dos líderes disseram que não tiveram a produtividade impactada com as medidas de isolamento 
35% das empresas ouvidas afirmaram que perceberam uma melhora no desempenho dos profissionais 

Mudanças Necessárias

No escritório Brasil Salomão e Matthes Advocacia, tudo foi levado para a nuvem e todos os profissionais passaram a trabalhar com notebooks. “Além disso, aperfeiçoamos muito nossas reuniões internas e externas por videoconferência. Tudo isso será mantido, pois tivemos considerável ganho de eficiência e redução de custos para nós e nossos clientes”, conta Marcelo Salomão, sócio do escritório.  

O advogado diz que há otimismo com a retomada do mercado que será gerada pela vacinação. “Todos nós sofremos demais com esta pandemia e tivemos que nos adequar. Agora, finalmente, o planejamento é para a volta aos nossos escritórios. Certamente utilizaremos os aprendizados deste período para melhor atendermos nossos clientes e cuidarmos do nosso time”, descreve.  

Marcelo ainda pontua que o escritório espera um crescimento tanto na assessoria para a retomada dos clientes, quanto na chegada de novos clientes. “Cito dois fatos que nos levam a pensar assim: o mercado de fusões e aquisições está aquecido, bem como a construção civil. São dois termômetros que evidenciam entrada de capitais e geração de empregos em nossa região”, prevê.

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