Luz, Câmera, Nota Máxima
Ribeirãopretano Nagib Pontim, de 19 anos, é um dos 53 estudantes a atingir nota 1.000 em redação no Enem 2019; tema da proposta foi “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”
Foram necessários muitos estudos, além de grande dedicação e comprometimento com o sonho de passar em Medicina no vestibular, mas o esforço do estudante ribeirãopretano Nagib Scaff Machado Pontim, 19 anos, foi recompensado. Em 2019, Nagib foi um dos 53 candidatos a atingir nota máxima na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cujo tema foi a “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”. Para o estudante, a sétima arte é mais do que apenas uma forma de diversão. “Assistindo às produções brasileiras, eu compreendi como o cinema ultrapassa o aspecto do lazer, passando pela cultura. Vi a importância do cinema como ferramenta de articulação da sociedade, para resistência, identidade e denúncias”, destaca Nagib.
Aluno do cursinho 100% Redação, em Ribeirão Preto, Nagib usou na redação pensamentos do filósofo alemão Theodor Adorno (1903-1969), expoente da Escola de Frankfurt, além de conceitos da Indústria Cultural. O estudante teceu críticas às políticas adotadas por redes de cinema em todo o país, como os altos preços de ingressos e alimentação, e a concentração das salas em grandes centros de compras. “Comecei o texto com a filosofia do Adorno, abordando a importância do cinema enquanto cultura, e o papel dele para a sociedade. Ainda citei o período do Cinema Novo durante a Ditadura no Brasil, e trouxe a problemática da falta de acesso, que no caso do cinema é tanto física quanto financeira”, diz Nagib.
Por fim, o estudante se amparou no Artigo 6º da Constituição Federal de 1988, que versa sobre o direito ao lazer e à cultura, para indicar soluções aos problemas evidenciados na redação do Enem. “Como solução, propus que as escolas ofereçam clássicos do cinema para a sociedade, em espaços públicos. Além disso, apontei que o Estado deveria subsidiar famílias que não têm acesso ao cinema em razão da questão financeira”, completa Nagib, que dedica 14 horas diárias aos estudos.
ROTINA INTENSA
Nagib se preparou para as provas com fragmentos de filosofia e política, e colecionando argumentos em aulas, peças jornalísticas e em cenas culturais e cotidianas. “Eu fazia de três a quatro redações por semana, e corrigia todas com os professores. Com as aulas e muito treino, fui sanando minhas dificuldades”, lembra o estudante, afirmando ter tomado um susto ao conferir a nota 1.000 na redação do ENEM, na sexta-feira, 17 de janeiro. Nagib pretende cursar Medicina e vai usar suas notas no exame para tentar uma vaga em duas universidades federais por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), cujas inscrições vão até domingo, 26 de janeiro.
Para a diretora e criadora da metodologia da 100% Redação, que agora acumula 18 notas 1.000 no Enem, a professora Regiane Pedigone Segantini, a conquista do ribeirãopretano Nagib Pontim foi especial: segundo ela, notas máximas no exame de estudantes de Ribeirão Preto são raras. “Estamos muito felizes [com o resultado de Nagib]. Ribeirão Preto é uma cidade que não tem histórico de notas 1.000, em relação a Franca, por exemplo. Poder trazer esse diferencial para a cidade é uma felicidade muito grande para nós”, afirma Regiane.
Ela destaca que as maiores dificuldades encontradas pelos estudantes ao formularem uma redação são na área do embasamento teórico e argumentativo. Na metodologia do 100% Redação, são construídos repertórios socioculturais baseados na história, filosofia, sociologia e antropologia. “Nos alunos, vejo muita dificuldade em obter conhecimento aprofundado de economia e política, e de pensamentos que não sejam parciais, que sejam consistentes em argumentos”, conta.
A professora destaca, ainda, que para estudantes alcançarem boas notas em redações, seja no Enem ou em vestibulares, é necessário muito treino e estudo, além de dominar diferentes áreas de conhecimento. “O aluno precisa ter excelentes argumentos para escrever, independentemente do vestibular, e treinar as provas, já que são diferentes [umas das outras], de modo a criar um bom texto, mesmo que não tire nota máxima”, finaliza Regiane.
