Opção bilíngue

Opção bilíngue

Apesar das dúvidas de muitos pais, a alfabetização em dois idiomas vem se tornando uma alternativa cada vez mais comum

Ricardo e Renata Ishi não foram alfabetizados em dois idiomas, mas optaram por este caminho para os filhos Pedro, de sete anos, e Arthur, de quatro anos, com a intenção de que eles tivessem uma exposição precoce a diferentes línguas e sotaques e que, inserido no cotidiano, o aprendizado fosse mais natural.

Para a coordenadora bilíngue Marina Bettarello, a alfabetização em duas línguas exercita o cérebroRenata teve pouco contato com a língua inglesa nas escolas públicas onde estudou e cresceu enxergando o inglês como um desafio de difícil superação, o que trouxe alguns prejuízos a sua vida acadêmica e profissional. Por isso, proporcionar aos filhos a oportunidade de estudar em uma escola bilíngue traz muita satisfação. “Diferentemente da minha experiência, eles aprendem com naturalidade e prazer, pois isso faz parte do seu cotidiano”, conta a mãe.

Aos cinco anos de idade, os pais de Ricardo o proporcionaram as primeiras aulas particulares de inglês. Em seguida, passou a frequentar escolas de idiomas. O conhecimento adquirido fez diferença quando participou, por exemplo, da missão de Paz no Haiti (Minustah), facilitando a comunicação e o convívio com militares e funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU), e possibilitando participar de coletivas de imprensa e obter medicamentos para ações humanitárias. “Acredito que o aprendizado de outras culturas, associado ao ensino do idioma, desenvolve o olhar a partir de outros ângulos, abre horizontes e incentiva a pensar pela perspectiva do outro. Desenvolve empatia”, explica o pai.

Tomar esta decisão, no entanto, não foi tarefa simples. O casal buscou informação em diversas fontes e encontrou dificuldade, pois não existe uma resposta objetiva, única, aplicável especificamente para seu caso. “Deparamo-nos com a ressalva de que o processo de alfabetização bilíngue pode demorar mais, quando comparado à alfabetização em um único idioma. A criança pode misturar as informações, usar duas ou mais línguas na mesma frase, mas, com o tempo, faz a diferenciação e adequa o vocabulário. Como em muitos momentos na jornada de criar os filhos da melhor forma possível, optamos por uma teoria. Agora, precisamos ter paciência e aguardar os resultados, dispostos a reavaliar constantemente e trabalhar deficiências que possam aparecer”, garantem os Ishi.

Pontos positivos

Para a coordenadora bilíngue da Educação Infantil e Ensino Fundamental I, Marina Bettarello, o bilinguismo traz muitos benefícios para o crescimento e o desenvolvimento da criança, entre eles, exercitar a memória e a capacidade cognitiva. “Pesquisas mostram que alunos de instituições de educação bilíngue são mais flexíveis, uma vez que o cérebro realiza um número maior de sinapses neurológicas devido ao aprendizado de dois idiomas e se torna mais ativo. O bilinguismo serve como seguro para o cérebro e acaba sendo uma ginástica. Porém, como todo exercício, para ser eficaz precisa da prática. Isso ajuda o cérebro a ficar afiado mesmo depois de muitos anos”, afirma Marina.

Ainda segundo a profissional, em termos sociáveis, os alunos bilíngues são mais extrovertidos do que os estudantes monolíngues e parecem mais confiantes quando colocados em qualquer ambiente social. “Eles também são mais tolerantes e abertos a aprender com as diferenças culturais. Sua capacidade de corrigir erros gramaticais e ortográficos ao aprender duas línguas também os ajuda a se tornarem pensadores críticos”, diz Marina. Para a coordenadora, estudantes bilíngues desempenham melhor tarefas que exigem pensamento criativo, reconhecimento de padrões e resolução de problemas, além de possuírem maior consciência linguística e uma compreensão mais complexa da língua nativa.

Primeiros passos 

No início da alfabetização bilíngue, segundo os pais, Pedro e Arthur reclamavam que não entendiam o que as professoras falavam. Ficaram agitados e dispersos. Em três ou quatro semanas houve uma adaptação à rotina, embora não entendessem tudo. Depois de seis meses começaram a se divertir com as diferenças e a ampliação do vocabulário. Atualmente, as crianças já pedem ajuda para construir frases. “Há pouco, um deles me pediu para explicar, em inglês, por que ele não fez o que deveria ter feito (um acordo de tarefa doméstica). Ele sabia que se esforçando para formar frases em inglês tiraria da família um desconto”, conta Ricardo. 

Na primeira semana de aula, o filho mais novo disse que a “teacher” era muito doidinha, que não sabia falar português e ele não entendia nada do que ela dizia em inglês. Hoje, para algumas atividades do dia a dia, como sentar à mesa ou ir ao banheiro, o pai fala com ele em inglês e Arthur acompanha sem perceber.

Visão geral

Curiosos sobre cultura estrangeira, os meninos perguntam sobre vários lugares e costumes, levando os pais à reflexão sobre a própria cultura, como aconteceu recentemente, quando, diante da tristeza pelo falecimento de um conhecido, o filho mais velho sugeriu fazerem uma festa, como no México.

Os pais costumam colocar desenhos longa metragem em inglês, com legendas, para os dois assistirem e, só no meio, eles  perguntam se o filme está em inglês. Em linhas gerais, erram nomes e palavras, mas conseguem contar do que se trata, o que demonstra que estão compreendendo e sem sofrimento. Durante um passeio, pararam para ver um brinquedo e o pai orientou que pedissem ao vendedor em inglês, o que Pedro fez com bastante desenvoltura, sem medo de errar. “Estimular a criança a pensar em diferentes palavras para denominar determinado objeto ou ação pode produzir um efeito além do idioma. Saber ajustar o vocabulário e ser entendido pelo interlocutor pode ser fundamental, também, para o sucesso de uma tarefa, projeto ou negócio”, enfatiza Marina, reiterando que a alfabetização bilíngue auxilia a desenvolver a capacidade de comunicação e que a Educação transforma e modifica vidas, comunidades e o mundo. 

Com histórias distintas em relação ao inglês, os pais Ricardo e Renata entraram em consenso quanto à alfabetização bilíngue dos filhos Arthur e Pedro




Agradecimento: Livraria Cultura

Compartilhar: