Tudo novo de novo
Para a mãe Anelise, o retorno da filha para a sala de aula aconteceu de forma tranquila

Tudo novo de novo

A retomada das aulas presenciais em escolas estaduais e particulares, após longo período longe das salas, exigiu a readaptação de todos

A volta às aulas do segundo semestre de 2021, que teve início no começo de agosto, exigiu uma readaptação dos pais e dos alunos matriculados em escolas estaduais e particulares de Ribeirão Preto. Esse recomeço – após longo período de aulas online e híbridas acarretadas pela pandemia de Covid-19 – tem trazido muitos pontos positivos para as famílias, que já enxergam uma melhora no desempenho das crianças em comparação ao período de ensino remoto. Especialistas afirmam que a retomada é uma ação essencial para as crianças e os pais.

No caso de Manuela Laguna Gironi, de 11 anos, que está no 5º ano da Escola Arte Museu, a notícia do retorno às aulas, que ocorreu no dia 2 de agosto, foi bem recebida. A mãe de Manuela, Anelise Laguna Gironi, diz que todos os envolvidos com o colégio, tanto os pais como os funcionários e os professores, estão atentos para manter a segurança de todos. “O retorno foi feito de maneira muito consciente, pois a escola mantém todos os protocolos de segurança e nós também fazemos a nossa parte. Não aglomeramos, fazemos o uso de máscaras e tanto eu, quanto o meu marido já estamos imunizados com as duas doses da vacina. Vejo esse processo com muita positividade, pois a rotina vai sendo restabelecida e o aprendizado fica otimizado. Além disso, volto a trabalhar com mais tranquilidade sabendo que minha filha está sendo acompanhada com muitos cuidados”, finaliza.

Já para Nathalia Suppino Ribeiro de Almeida, mãe de Rafael Ribeiro de Almeida, de 7 anos, que cursa o 1° ano no Colégio Queiroz Brunelli, ainda há um receio em relação à volta às aulas, ainda mais por conta das variantes do coronavírus que têm circulado pelo Estado de São Paulo, como a Delta. Todavia, para ela, o retorno é necessário. “Essas novas variantes têm nos deixado bastante apreensivos. Entretanto, considero o retorno às aulas presenciais uma medida indispensável, especialmente por conta dos prejuízos emocionais, sociais e pedagógicos que as crianças podem sofrer se a ausência da escola se prolongar”, comenta Nathalia.

De acordo com a mãe, até o momento, a experiência está sendo satisfatória. “Isso se tornou possível pela ampliação da vacinação e pelo compromisso e empenho da escola em garantir, incansavelmente, que todos os protocolos sanitários sejam rigorosamente cumpridos e que todas as crianças e famílias sejam atendidas integralmente, inclusive nas questões afetivas. É evidente que o sucesso desse retorno depende – hoje e sempre –  do acolhimento, da empatia e do fortalecimento da parceria entre família e escola. Dar continuidade aos cuidados exigidos é uma responsabilidade de todos nós”, pontua.

 

Retorno essencial

A especialista em educação socioemocional Daniellen Zwierzynski, que atualmente é diretora da Conexia Educação, responsável pelo My Life, diz que vê esse retorno presencial como essencial para aquelas famílias que podem enviar seus filhos às escolas. “Apesar da pandemia não ter acabado, o cenário está um pouco mais favorável para as escolas, levando em consideração que a maioria dos educadores já tomaram a segunda dose da vacina contra a Covid-19. Vivemos nos últimos meses algo inédito, que vai ficar marcado na história como um período de medo, aumento significativo de problemas relacionados a saúde mental, dificuldades financeiras e luto. Neste cenário, a convivência com seus professores, colegas e equipe escolar como um todo será uma grande ferramenta de apoio socioemocional”, explica.

Para essa nova retomada, Daniellen ressalta que as famílias precisam passar segurança para os filhos. “As escolas não receberão de volta os mesmos alunos e professores que se afastaram no ano passado. Eles mudaram muito. A rotina não será mais a mesma, afinal, todos terão que seguir os protocolos de saúde determinados pelas autoridades. Paciência e empatia com certeza serão peças chaves nesse retorno, porque será um período de adaptação ao novo normal, que foi on-line e agora será um novo normal presencial”, acrescenta a especialista.

Na visão dela, para muitos estudantes, esse retorno representa evoluir socioemocionalmente. “Grandes especialistas, como o psicólogo Lev Semyonovich Vygotsky, afirmam que a interação social com pares, como, por exemplo, outros colegas de classe, favorece e facilita o processo de aquisição do conhecimento. Segundo Vygotsky, as pessoas só adquirem cultura e linguagem, além de se desenvolverem historicamente e de estimularem o raciocínio, se estiverem inseridas em meios sociais com outras pessoas”, destaca Daniellen.

 

Readaptação necessária

A psicóloga e pedagoga Fernanda Saviani Zeoti explica que esse novo recomeço exigirá dos pais e alunos uma adaptação após tanto tempo longe da presença dos colegas e professores. Alguns pais, inclusive, precisarão lidar com o desconforto emocional diário de mandar os filhos para a escola, já que o vírus ainda circula no município. “A readaptação acontecerá para as crianças, para os pais e para as escolas. Além de todas as medidas sanitárias, os professores precisarão, por exemplo, pensar em estratégias pedagógicas que evitem o contato direto entre as crianças. Aos pais, seria muito interessante que ensinassem às crianças a importância de lavarem as mãos, do uso da máscara e do respeito ao distanciamento. Além disso, é recomendado que conversem bastante com os representantes da escola, visitem o ambiente para se sentirem mais seguros”, orienta.

Ainda de acordo com a psicóloga, para as crianças, fica a parte mais simples da readaptação, já que é muito bom estar junto aos colegas. “As mais velhas terão que se acostumar com as medidas sanitárias que não tinham antes, e as mais novas, precisarão se adaptar ao ambiente novo, mas essa adaptação será a mais tranquila e prazerosa para pais e professores fazerem”, comenta a especialista. “As crianças se acostumaram com a comodidade do ambiente doméstico, com a presença dos pais ou cuidadores, com o ambiente protegido. Assim, para algumas, a retomada do presencial pode se tornar ansiogênica sim. Temos escolas mais e menos preparadas, famílias mais e menos receosas e crianças mais e menos ansiosas e assustadas”, descreve.

Em alguns casos específicos, a sugestão é que as famílias busquem a ajuda profissional de um especialista, principalmente quando a criança estiver com medo de ir para a escola, demonstrando reações que podem ser de ansiedade como choro, irritabilidade, nervosismo ou agressividade. “O mesmo vale para alguém da família que não estiver bem. Essa situação de retomada não está acontecendo apenas para as crianças. Muitos pais que estavam em homeoffice estão voltando ao trabalho presencial, assim, pode ser um processo difícil para todos. Todos merecem atenção nesse momento”, conclui a psicóloga.

 

Melhora do  desempenho escolar

André Luís Faustino, pai de Ana Luísa Faustino, de 10 anos, que está cursando o 5º ano na Escola Estadual Professor Jorge Rodini Luiz, acredita que a filha tem apresentado um melhor desempenho se comparado ao do período que ficou afastada da escola e dos colegas. “Eu acho que nessa volta ela está se apegando mais ao conteúdo do que quando estava dentro de casa. Porque, mesmo com as professoras ensinando da melhor forma possível, sinto que as aulas on-line não foram tão positivas como as presenciais. Em duas semanas, ela já apresentou um avanço significativo, afirma o pai.

Para Bruna Vanzeli Dos Santos Carvalhaes, mãe do Henry, matriculado no 1º ano do Rodini, o retorno também está sendo um estímulo para o aprendizado do filho, que iniciou no Ensino Fundamental I nas aulas on-line. “Iniciar essa etapa da vida do meu filho no on-line foi bem difícil. No começo, pensei até em ver alguns projetos para fazer homeschool [ensino doméstico], porque no início do ano não houve nenhuma organização. Nós, mães, tivemos que nos virar para conseguir material e dar as aulas em casa. Agora, com a volta, ele já apresentou melhora. Está lendo e, segunda a professora, evoluindo bem”, comenta Bruna.

Apesar de estar com receio por conta das variantes da Covid-19, Nathalia afirma que o retorno do filho à sala de aula é indispensável


Segundo o pai, Ana Luísa já apresentou uma melhora do ensino com a retomada das aulas presenciais

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